segunda-feira, novembro 23, 2009

Só com lençóis novos

Respirei fundo e subi o lance de escadas, puxando a minha mala gigante e superpesada. Estava cansada. Havia trabalhado o dia inteiro. Mas estava animada, acesa.
Era a madrugada de 10 de novembro, 1h da manhã e, pela primeira vez, dormiria no meu apartamento. E sozinha.
Abri a porta, acendi as luzes, entrei e agradeci à vida, a Deus, a mim. "Consegui", pensei. "Enfim, estou aqui. É meu espaço. Depois de tanto tentar, tantas dúvidas, tanto empenho, estou aqui. Feliz e sozinha."
Fiz questão de sentir o silêncio do ambiente. Tirei os sapatos, e deixei o frio do piso subir pelas minhas veias, atiçar os meus músculos. Andei devagar pelos cômodos, acendi todas as luzes, deixei o brilho das lâmpadas fluorescentes alegrarem ainda mais a minha alma.
Meu coração estava calmo, nada de palpitações exageradas. "Estranho", pensei. Deveria estar excitada? Acho que não.
Fui à geladeira, peguei um pouco de chá de caixinha, aqueci no micro-ondas. Abri um pacote de bolachas de água e sal. Seria o meu jantar. Um grande ceia. Mas bastou. Não estava com fome.
Depois, tirei a roupa para dormir no jogo novo de lençóis, branco com flores rosas. Demorei um dia a mais para mudar exatamente por causa dele, do jogo novo de lençóis. Para mim, era impossível passar a primeira noite lá com lençóis velhos, desgastados por uma antiga história. A primeira noite não, teriam que ser novos. Então, naquela manhã, tinha ido à loja correndo, só para escolher um novo. E eles estavam lá, na cama arrumada e perfumada, me convidando para a primeira noite de sono.
Ao deitar, um reflexo comum - me apertei no canto direito... Então, me repreendi: "Para com isso, a cama é toda sua!". Respirei o cheiro do tecido novo, engomado, e me arrastei para o meio, entre os desenhos de rosas. Lá, no centro da minha cama, dormi, profundamente e em paz.
E foi assim que começou a segunda metade da minha vida.

segunda-feira, novembro 02, 2009

Os ciclos da minha vida

Pela primeira vez na vida assinei um aviso prévio. Está certo que é uma situação diferenciada. Não fui demitida. A empresa foi vendida e todos os funcionários assinaram a carta de demissão, com a promessa que seremos recontratados imediatamente pela nova firma que comprou o jornal. É bem mais tranquilizador do que uma demissão sumária.
Mas essa mudança toda na empresa me fez refletir ainda mais nos ciclos da vida. Gosto muito de observar que vivemos nestes ciclos, que há histórias e situações que de tempos em tempos se repetem. Me explico:
Há 15 anos, na Primavera, eu entrei nesta empresa. No mesmo dia, eu sai da casa dos meus pais e fui morar com meu namorado. Demoramos muito para falar que estávamos casados, mas, na prática, era isso: havíamos casado, sem assinar papéis, sem festa, vestido branco ou champanhe.
Agora, de novo na Primavera, quando eu me preparo para mudar de novo de casa e também mudar o meu estado civil, voltar a ser solteira, a vida me surpreende com uma mudança no jornal. Vou trocar de chefe, começar a trabalhar numa outra empresa, mas com a diferença de que não sairei na minha baia.
É coincidência? Eu acho que não. São os mesmos tipos de mudanças, na mesma época, com a mesma importância.
Para mim, são os ciclos da minha vida, mais do que se repetindo, se renovando.
Meu desafio é melhorar a cada ciclo, fazer melhor cada etapa.
E eu acho, tenho certeza, estou conseguindo.
;-)