quarta-feira, março 30, 2011

Liberdade à liberdade

Inspirador o Quiroga hoje.

"Dê rédeas soltas a tudo! Neste  sagrado momento seria prejudicial tentar impor qualquer coisa que o valha, ainda que em nome dos mais elevados princípios. Permita que a liberdade encontre o melhor caminho."

sexta-feira, março 25, 2011

...em A Burrice do Demônio

Um colega colocou isso no Facebook e eu adorei.....  É do Hélio Pellegrino

"Assim, deslembrados e alertas, falamos dos íntimos silêncios de carne, de que somos feitos. O sonho, com seu rosto eidético é lâmina de significação que nos trespassa, de um lado a outro. Por isto, em sua imaterialidade, tem um peso de rocha - ou de destino. Acontece que nós, humanos, nas lajes do chão que nos suporta, somos signo e linguagem, enraizados no coração selvagem da vida. É dessa floresta, cheia de rumores confusos, que nos virá o alfabeto pelo qual vamos tentar a decifração do mundo. Um bloco de granito pode ser a matéria que vou talhar para, de seu tutano, extrair o barco de pedra que me levará ao naufrágio. Ou a lápide do meu túmulo, se me disponho a morrer em terra. Ou o monumento por cujo intermédio grito para o mundo minha utopia - ou minha revolta. Seja como for, leio o granito a partir do meu sonho, é este que o decifra - e o trabalha.

Aí, no nascedouro do desejo, está a fome. Dela irão fluir as torrentes de fogo e gelo, os acenos, encontros, despedidas. Sou, por um lado, o meu desejo e, por outro, a espessura terna ou hostil da facticidade que me rodeia. Sou lançado no mundo na angústia e no risco, e o mundo - insistente - me obriga a ser, mesmo quando não quero ser. O mundo me provoca, me convoca, suas flechas estilhaçam o casulo narcísico onde - transido - me recolho, luzes e vozes compõem um enorme vitral diante de mim: tenha eu olhos para ver."

quarta-feira, março 23, 2011

Mão no tomate

Ela agora quer cozinhar. Então, a gente estimula. Em casa, deixa picar os alimentos, acender a água no fogão, fazer o café na cafeteira italiana, sempre com supervisão.
Mas, na casa da avó e da tia, a marcação é pesada. Ela diz que as duas a superprotegem, a tratam com bebê. É cuidado, eu digo, mas ela fica puta com as duas.
Então, ficou superfeliz porque, nas últimas semanas, as duas passaram a deixá-la picar os ingredientes dos pratos que fazem por lá. No domingo, fui buscá-la e a tia anunciou, elogiosa.
- Vivi, a Bia picou quase tudo da torta de bacalhau. E fez tudo direitinho!!!
E a Bia lá, toda triunfante.
Mas, assim que entramos no carro, ela confessou.
- Mãe, tenho que te contar. Cortei o dedo com a faca na hora que estava picando as coisas. Elas nem perceberam...
- Mas você não falou para sua avó e sua tia?
- Eu não. Se eu falo, elas nunca mais me deixam pegar numa faca. E olha que a vó me deu a menos perigosa....
- Mas não doeu na hora.
- Tá doendo até agora, mas eu resisti, não reclamei. E elas não viram.
- Mas, Bia, não sangrou?
- Sangrar, sangrou, mas eu estava picando tomate... elas nem perceberam...

Aprendi mais uma:
Se sangrar, mete a mão no tomate. Vai doer, mas ninguém percebe!
..

terça-feira, março 22, 2011

Depois do amor, o medo

Por que, meus amigos, tem que "sempre" ser assim?

Atração, expectativa, amor, prazer,
medo e medo,
dor e dor...
....e solidão again.

Mas eu sempre acredito no amor no final...

E "sempre", pra mim, é muito tempo.

Por isso...

With A Little Help From My Friends

...eu vou chegar lá.

Eu vou.



quinta-feira, março 17, 2011

Marcado com selo rosa

Enquanto dirigia de volta pra casa, fiquei pensando na pergunta que ela me fez:
"Hoje é daqueles dias que você riscaria da sua agenda?"
Minha primeira resposta, ainda lá no jornal, foi: "Talvez..."
Afinal, hoje as coisas não deram  tão certo quanto eu planejei.
Amanheci toda faceira mas, ao longo dia, o que estava fora do plano começou a acontecer como se o dia estivesse conspirando contra mim.
Primeiro, o velório do pai de uma amiga me mostrando que meu próprio luto ainda não terminou, que ele ainda só está envolvido em uma pele muito fina e fácil de voltar a se romper.
Chorei por ela e com ela, mas sei que chorei muito mais por mim.
Depois, um encontro de trabalho na hora do almoço e outro de amor no final da noite que não aconteceram....
"Oh, dia desanimador!", pensei na hora da pergunta.
Mas, na reflexão dentro do carro, vi que não era mesmo o caso de riscar o dia da agenda.
Afinal, no meio da manhã, eu, lá no fundo, já não queria mais o almoço de trabalho e, logo no final da tarde, o encontro de amor também não fazia o menor sentido para o meu coração. Eu só ia que ter o trabalho de ligar pra desmarcar. E, na verdade, ir ao velório abraçar a minha amiga querida, tentar doar a ela um pouco de conforto - porque era só isso que ela precisava naquela hora - também fez um bem danado para a minha alma.
Então, concluo, de novo na minha vida, o que parece errado está, de fato, no lugar certo.
E o dia, lembrei, também não foi só de notícias e fatos ruins...
Soube que a mudança foi adiada e que ganhamos mais uns 40 dias  no Centro, o que é um alívio.
Conversei com minha mãe e ela está ótima, paparicando a Milly e se cuidando.
E, o melhor tudo, escrevi um conto para o próximo domingo que ficou tão bonito que até a minha editora se emocionou. Veio na minha mesa com os olhos cheios de lágrimas.
Então, cheguei em casa louca para tomar um vinho, escrever tudo isso e ir pra cama.
Tenho certeza que vou dormir como um anjo.
E definitivamente não vou tirar o dia de hoje da minha agenda.
Acho até que vou colar lá na página um selo bem cor-de-rosa.
;-)

terça-feira, março 15, 2011

Várias contas do tempo

- Quanto tempo faz que você está separada?
A pergunta veio assim de surpresa, sem que eu nem sequer imaginasse que iria aparecer. 
- Dois anos - respondi rápido, fazendo uma conta de cabeça que sabia não ser muito fiel. Mas era a mais fácil de explicar.
Tinha várias outras formas de responder, várias outras contas pra fazer, mas aquela era uma conversa tão informal, pra preencher o espaço do intervalo entre nossas aulas. E ele estava só curioso, queria puxar assunto, por que eu ia complicar a história, dar explicações prolongadas?
- Dois anos de separação de corpos. Mas faz pouco mais de um que sai da casa onde morávamos para o meu apartamento.
Enquanto ele me dava conselhos de como encarar esta fase (curioso que muita gente gosta de dar conselhos para separados), eu ia repassando toda a minha história na cabeça. É que eu adoro repassar minha história, me fortalece, me faz sentir um orgulho danado de mim mesma. Eu sei que minha história é rara. Se antes eu e o meu ex éramos um casal ideal, agora somos um ex-casal ideal, com uma separação ideal, fora do comum. Acho isso bom.
Pensei que minha conta poderia ser assim. Tudo na base do cerca de... É que nessas coisas de relacionamento parece que o tempo tem outra dimensão. Não é possível contar com precisão as horas, os dias, os anos. Às vezes, um dia de relação parece um ano.. 
Mas, voltando à métrica mais "social", acho que ficaria assim.. cerca de:
- Um ano (de separação de casas)
- Dois  (de corpos)
- Três (de mente. A decisão tomada, mas a ação paralisada pelo medo da solidão)
- Quatro (a descoberta que acabou, que casamento não se faz só de respeito, mas também de paixão e tesão)
- Cinco (sensação de que algo vai mal, mas não se sabe o que. Será que é minha culpa?)
- Dez (certeza de que há amor e respeito, mas casar não vai dar certo, mas já que estamos aqui, vamos lá)
- Quinze (não há paixão, mas temos respeito e amor construído no relacionamento. Belo discurso, vamos morar juntos, mas acho que não vivo com ele por toda a minha vida)
Ou seja, a gente sempre sabe lá no fundo o que precisamos e, mesmo assim, teimamos em ir contra a nossa intuição. Mas não me culpo mais, porque também há coisas que precisavam ser vividas com ele, o ex. E eu fui muito feliz com, sempre digo. Quando deixei de ser feliz, era a hora de parar.
Só que agora, que a calmaria voltou e a vida parece tomar outro rumo, ou que eu passei a fazer o rumo da minha vida, às vezes lembro do que foi mais difícil. E, incrível!, ainda tenho vontade de chorar!
Quando decidi, imaginei quem me apoiaria e quem seria contra mim. Acho que todo mundo faz isso. Engraçado o quanto me enganei. O pânico e o silêncio vieram de quem eu esperava apoio. Não parceria - porque há coisas que só se podem fazer sozinha, e separação é uma delas - mas apoio, ombro.
E o meu pai, de mais de 70 anos, de quem eu esperava levar o maior sermão da vida, de quem esperava todas as palavras de desencorajamento num discurso moralista, fez exatamente o oposto. E eu passei a admirá-lo mais que tudo nesta vida. Ele disse assim:
- Ah, filha, é por isso que você está assim, sofrendo? Por que quer se separar?! Larga a mão disso, larga esse cara e vai cuidar da sua vida! Você pode muito bem cuidar da sua filha sozinha!
E ele estava certo. Eu posso. Eu já estou.
;-)




quarta-feira, março 09, 2011

Quarta-feira de cinzas

O Carnaval para mim parece um sonho.
Na concentração, eu ando no meio de alas, plumas e penas coloridas me roçando, lantejoulas brilhando nos meus olhos. Os integrantes me olham com curiosidade, afinal, o que será que quer essa pessoa sem fantasia passeando no meio de nós, cheia de fios e fones e celulares pendurados.
Eu me desvio das saias rodadas das Baianas, como se fosse um tipo de pecado encostar naquelas franjas. Umas me olham com bondade, outras com uma certa pena porque, afinal, eu não posso estar mais feliz do que elas naquele momento.
Parecem deusas as Rainhas e Madrinhas, seminuas, nuas, só pintadas, mulheres gigantes, perfeitas em suas plataformas ou saltos agulhas, sempre impecáveis ali. É bom pensar que, fora daquele furor, elas são tão humanas quanto eu, ou você. Mas ali, elas são únicas e intocáveis. Eu, porém, posso esticar a minha mão e tocá-las, sentir que são reais, e ter certeza que é possível ser assim uma deusa naturalmente humana, de carne e osso. Os deuses não deviam ser etéreos. E nem os anjos.
Mas a melhor parte de tudo é mesmo a Bateria. Fecho os olhos e fico ao lado, no corredor de serviço, parada, enquanto o bum bum e o taratata explodem no meio da avenida. É impossível não se emocionar com a emoção e a força dos integrantes da Bateria. Eles estão em outro mundo naquele momento. Um mundo em que só mora o som. Também é impossivel manter o corpo parado. Ele vibra sozinho. Cada músculo, cada osso, cada nervo e o coração vibram no compasso da Bateria. É isso que é sentir o som. É tão forte que, quando percebo, tenho que pular, dançar, mesmo se quiser ficar parada. O meu corpo, nessa hora, não obedece a minha vontade.

Mas lá se foi mais um Carnaval.
O que eu não gosto é da maratona, da tensão anterior, do vazio que fica depois.
Mas do resto, confesso, eu não gostaria de ficar sem.
:-)

quinta-feira, março 03, 2011

E Bota Calhau, aí, gente!

A melhor coisa que a imprensa paulista criou nos últimos anos.

http://botacalhau.blogspot.com/

Ieba!!!