domingo, junho 22, 2008

A história da Helô (Parte 1)

----Introdução

Tudo bem, vou escrever uma história triste, mas é uma história que tem que ser contada um dia.
Não estou sofrendo, não estou remoendo, não cai em depressão por causa disso, mas não nego que traduzir o que passa na minha alma e na minha mente em letras legíveis alivia o meu espírito. É como tornar concreto o pensamento. Ele fica palpável, ao alcance da minha mão. E eu o supero. Então, vamos lá. Peguem seus lenços de papel.

----Parte 1

Quando cheguei lá ela já havia partido. Eu soube exatamente o momento. Primeiro veio o telefonema: "Vi, vem pra cá que a Helô está internada."

Sai do jornal como uma louca, e segui a pé em direção ao metrô, mas não andei nem 20 metros e a minha própria cabeça girou. Era como se eu, no meio da multidão anônima, estivesse sendo observada por todos. Uma zueira no ouvido, uma falta de sentido de direção e a certeza de que não era possível seguir a pé. Voltei pra trás, pro jornal, e pedi por favor um carro (Dias depois percebi que foi exatamente neste momento de angústia e de vertigem que ela partia) .

O motorista foi pronto e seguimos correndo pro hospital. Há oito anos, celular era uma bosta e nem todo mundo tinha. Mas consegui ligar pro irmão do Mauro, que passou o telefone pra ele. Não sei que horas eram, mas era de tarde, o fim da tarde. O carro voava na avenida dos Estados e o Mauro do outro lado da linha:

"Como ela está?", perguntei.

"Vi, vem pra cá", ele respondeu.

"Eu tô indo, mas como ela está?", insisti.

O silêncio, a certeza:

"Mauro, ela morreu, não foi?"

Foi assim que eu soube. Por telefone, no meio da Avenida dos Estados, entre São Paulo e São Caetano, num sabadão de plantão, início de um fim de semana prolongado de Sete de Setembro, ao lado de um estranho.

O motorista era um negro alto, enorme, nem lembro o nome, daqueles que parece que só podem ser contratados para fazer segurança de show. Sem olhar pra ele senti que seus olhos marejaram. Os meus estavam secos. Ainda. Ao meu lado, ele expressou uma raiva misturada com pena, e uma vontade de fazer algo a mais por mim... Mas aquele gigante não sabia o que fazer (Ninguém saberia). E fez o que achou útil. Acelerou.

Então, eu disse:

"Pode ir devagar. Agora não adianta mais correr."

E não trocamos mais palavra. Era 4 de setembro de 1999.
Continua em algum dia.

quinta-feira, junho 12, 2008

42 lágrimas

E nem as 42 lágrimas que eu derramar por você hoje vão poder redimi-la, minha querida.

Nem o meu suor, nem o meu sexo,
nem o meu fluido, nem o meu gozo,
nem o meu amor.

Nada de mim hoje será nosso.
Nada de mim hoje vai lhe bastar.
Nada.

Talvez amanhã.
Mas talvez nunca mais.

terça-feira, junho 10, 2008

Outra dimensão

Se eu pulo e corro na água sem sair do lugar,
fecho os olhos e, com a música ao fundo,
saio do chão.

Eu flutuo.

É como se eu pudesse deixar lá o meu corpo
e sair para outra dimensão.

Eu volito.

E, conforme me movimento sem sair do lugar,
também se movimenta o Som.

Ele não está mais à minha frente.
Ele está à minha volta, ao meu redor.
Eu o Sinto e o percebo sobre a minha cabeça,
nas minhas costas,
como que rodando e roçando o meu corpo.

Entro em êxtase. Páro de respirar por instantes.
Abro os olhos.
Onde estou?
Onde estão todas as outras?

Olho para trás e lá estão elas, viradas para frente,
prestando atenção ao que ele diz.

Me volto, meio constrangida, mas feliz.
Estou inteira. Estou íntegra. Estou aqui.
Ninguém percebeu minha viagem particular.

Continuo pulando e correndo, flutuando na água,
mas agora de olhos abertos, olhando pra frente,
olhando para dentro, olhando para mim.

sexta-feira, junho 06, 2008

Em paz

Nem acredito que a semana acabou. Ela quase acabou também com meu relógio biológico.
Já tinha desacostumado a acordar de madrugada, sair de casa antes do sol raiar, me encher de cachecol e gorro para enfrentar o gelo da manhã desse começo de inverno, pedir pão com manteiga e pingado pro Régis...
É bom variar a rotina de vez em quando.
Mas, o melhor de tudo é sair do jornal com o dia ainda claro, poder curtir o entardecer e até arriscar beber umas, jantar fora com a moçada e ter chance de dormir na cama de casal abraçando a Bia "nas costas", como ela diz...
É! é bom mesmo mudar a rotina.
Hoje, sexta-feira, estou destruída. Meus olhos pesam, já decidi dar o nó na aula amanhã pra fazer tudo o que preciso e ainda encarar o plantão, mas tudo bem.
Adoro me sentir assim, em paz...

Mario Quintana

CURIOSIDADES

O dicionário de Mario Quintana...

"Deficiente" - é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as
imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de
que é dono do seu destino.

"Louco" - é quem não procura ser feliz com o
que possui.

"Cego" - é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de
fome, de miséria. E só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

"Surdo" - é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo,
ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer
garantir seus tostões no fim do mês.

"Mudo" - é aquele que não consegue
falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

"Paralítico" - é quem não consegue andar na direção daqueles que
precisam de sua ajuda.

"Diabético" - é quem não consegue ser doce.

"Anão" - é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a
pior das deficiências é ser miserável, pois "Miseráveis" são todos que não
conseguem falar com Deus.

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Bem, nesta última parte eu faço um aparte. Deus aí pode ser algo como "coração", já que nem todo mundo é obrigado a acreditar em um Deus, mas coração e intuição todo mundo tem.
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