sexta-feira, setembro 29, 2006

É essa

Vértice
by Elisa Lucinda

Parece desperdício
parece que me amas escondido
parece orgulho
parece castigo.
Gritos calados revolvem a terra de dentro.
São patas fazendo poeira e dor.

Coitado do amor, logo ele que é filho do encontro,
está sozinho no ponto.
Desencontrou.

Será que um dia eu consigo escrever assim, com tanto coração?

quinta-feira, setembro 28, 2006

Batalha

Ele solta aquele tac, um smack
Um beijo bem alto
No meio daquele silêncio da redação

A outra olha, se horroriza
Eu olho, me assusto, mas me divirto
Não me importo

Ele diz: gooostosa
E eu gargalho
Só dou risada
É engraçado

Então vem, me encara
Se aproxima, toca na cintura
Ameaça um bacio, um amasso

E eu olho, e espero
Não me viro
Vem devagar, olho no olho, e
Na hora H, do meu lábio, ele desvia

Não tem coragem?
Eu provoco
E a gente ri
Do estalo

terça-feira, setembro 26, 2006

Dos pés ao tronco

Deixe eu dormir abraçada com você
Como se eu fosse uma criança
Como se você fosse meu grande urso

Não me afaste
Nem se vire.
Só me permita ficar assim, grudada em você
Acompanhando dos pés ao tronco as suas curvas

Assim eu adormeço
E te protejo

Mês Nove

Adoro setembros.
Não têm aniversários, não têm data marcada no calendário pra comemorar nada; são só setembros.
Geralmente no início deles há muita dor, mas conforme vão passando eles mudam minha vida de ponta cabeça. Termino novelas e começo histórias.
No seu percurso, inicio fases inesquecíveis, que muitas vezes coincidem com o fim de temporadas já insustentáveis.
Deve ser por isso que adoro setembros: eles têm o dom de virar as minhas páginas.
Sempre em setembro tudo melhora, porque expurga. É o pus que vai embora.
Neles já me expus, perdi, superei, enterrei o ser mais amado, matei saudades, tirei a limpo um mal entendido de quase décadas, mudei de casa, gritei da mais profunda dor e me senti extremamente feliz com o mais simples dos prazeres: um abraço. O trivial.
São tantos acontecimentos em setembros que não há apenas um dia deles que seja mais importante. Não para mim.
E, às vezes, até esqueço que estou nele, em um setembro.
Quando tudo está por ruir, também me esqueço de pensar que ele chegará. Serviria pra me alimentar de esperança. Mas, na minha cabeça dramática, é como se o mundo fosse parar lá, sei lá, em fevereiro, abril ou julho.
Só me dou conta da importância de setembro quando percebo, meio no susto, como as coisas estão se movimentando e, de novo, a minha vida, se transformando. Chegou setembro.
Foi assim neste que estamos. E que, que pena!, já está acabando.

(Não me lembro de ter terminado um setembro sequer de minha vida infeliz. Triste às vezes. Mas nunca, nunca infeliz)

segunda-feira, setembro 25, 2006

Noite de Domingo

Não queria dormir sem escrever um pouco. Queria te contar que hoje, hoje eu enlouqueci de novo.
O dia começou e eu não estava nem aí. Minha alma havia pulado mais que o meu corpo, e ele, cansado (engraçado!) foi obrigado a acompanhá-la. Um verdadeiro escravo.
De manhã, o coitado estava acabado, destruído, jogado no colchão.
Mas ela, ela passou o dia leve, sapeca, num desbunde total, com aquele ar infantil no olhar.
Queria te contar isso (uma bobagem), porque ontem (já passou da meia-noite), enquanto minha alma dava um baile no meu corpo, e a minha voz cantava alucinada com a multidão, era com você que eu estava.
O corpo lá, mas a alma, a alma não. Tem dias (sabe?) sou pura intuição.

quarta-feira, setembro 20, 2006

Noite em Paris

Fomos pra Paris e nos envolvemos em ilusões. Falamos o que quisemos ouvir e nos voltamos a nós mesmas. Éramos nós em Paris, falando alto pra quem nos quisesse ouvir, risos de amor e liberdade. Somos livres por natureza. Esse é o nosso grande mal. Ironia.
Nada de morte em Paris! Não me faça chorar com essa história.
Viver aos 22 também é uma grande coincidência (quando tinha 7 falava que casaria aos 22, idade redonda perfeita pra matrimônios, eu achava. Mas nunca casei de verdade. Sou solteira por natureza). Quando fiz 22 de fato sai da vida. E hoje a vida me chama de volta, pra acertar as contas com ela. Deixei dívidas no passado e esse passado me cobra os dividendos. Pra você ver que não adianta nada planejar a vida como um arquiteto bem formado.
Não morra nunca. Não me fale mais em morte. Mesmo se existir mil reencarnações, não me fale em morte! Ela não virá assim, porque você a imagina. Ela virá naturalmente, quando o corpo se desmatentelar pela idade. A idade de Maria, quando tudo o que era possível aconteceu e nada mais importa.
O amor que hoje senti por vocês foi descomunal. Ficaria a noite inteira nesse sonho. Delírio? Não.
E me comove o empenho de vocês. Vamos nos divertir nessa cidade e criar uma história pra psicanálise traduzir no futuro. A psicanálise de Paris vale mais a pena que a de Viena. É mais leve que Freud.
Amo vocês!

domingo, setembro 17, 2006

Versos em Sonhos

Às vezes durmo e sonho que escrevo versos
Versos com rimas ricas, sem rimas pobres
E, sonhando, tenho certeza que vou acordar
E escrever o que pensei, elaborei
Mas, se acordo, não sei mais nada
As rimas fogem, as palavras se apagam

Hoje à noite sonhei “amor” e “muito mais”
No coração, só fiquei com o “amor”
O “muito mais” virou resto
Perdido num sonho esquecido
Sem sentido, nem memória
Pena que os sonhos são tão surreais

quarta-feira, setembro 13, 2006

As Quatro do Fusca

.
Eu fiz a proposta: vamos sair nós quatro para ter uma conversa franca. Éramos amigas. Ou imaginávamos que assim o era. De toda forma, vivíamos num tempo e dividíamos um espaço de sonhos, dúvidas e apreensões.
E lá fomos nós. Eu ao volante do Fusca, párei naquela praça escura do 2º subdistrito. Do lado de fora, a tempestade; do lado de dentro, vidros embaçados, respiração oprimida, nós nas gargantas.
O objetivo: falar umas às outras o que significava aquele homem para cada uma. Falar abertamente. Ouvir sem rancores.
Minto se afirmar saber exatamente o que dissemos, quais as palavras. Tenho reminiscências.
Com certeza eu fui a primeira a falar. Falei de envolvimento, de não saber bem o porquê ele exercia sobre mim tanta atração, de não conseguir dizer não. Tinha um pouco de vergonha das outras três. Como se, me envolver com ele, fosse um grande erro, uma traição, como se elas não tivessem idéia, como se eu desse a elas a certeza que queriam ter, mas que a partir dali me condenaria a seus olhos para sempre.
Outra falou de transas, sim, mas sem importância. Ela se entregava por passatempo, para ela era mais um, não queria incomodar ninguém, e só curtia se ele estivesse disponível. Não entendia as nossas angústias.
Mais uma confessou uma atração desconhecida, meio platônica, meio paternal, que a assustou em princípio porque já tinha listado seus defeitos e já o tinha rotulado como pessoa perigosa. Até conversara com ele sobre o assunto e ele a surpreendeu.
Por último, a que sempre a meus olhos pareceu a mais frágil de nós, aquela por quem eu devia me preocupar, falou da sedução, do medo, do saber ser inconseqüente, da curiosidade, do querer provar algo que outras já haviam provado.
Como já disse, não sei ao certo o que falamos, com quais palavras. Devo hoje misturar o relato de uma com o de outra. Mas sei bem do que não falamos.
Não falamos de amor ou de paixão. Acho que não porque não quiséssemos, mas simplesmente porque não sabíamos traduzir em palavras tais sentimentos, se é que é possível traduzí-los.
Falo do amor da mulher pelo homem, aquele que não tem dúvida, aquele que não tem culpa, aquele que simplesmente é, sem artifícios.
E também não falamos de sexo. Do bom, do natutal, daquele em que os dois aprendem a se conhecer, sem restrições. Não falamos porque sexo, entre nós, naquela época, ainda era tabu, apesar de sermos próximas.
Não falamos também de cada uma de nós, ou como cada uma se sentia em relação à outra naquele momento.
Acredito, portanto, que não falamos tudo o que devíamos falar. Parece que terminamos a conversa aliviadas, mas naquele carro pairava uma névoa estranha, dolorida, obscura mesmo. Durante anos acreditei que aquilo tinha nos unido, mas hoje sei que isso não é verdade. Só amadurecemos um pouco com aquele encontro.
Mais do que ser envolvente, com pesar, concluímos que ele nos manipulava. Concluímos, juntas, que o melhor que faríamos era nos afastar dele, deixá-lo.
Foi uma conclusão tácita. E foi o que fizemos: o deixamos, uma a uma, cada uma a seu tempo e de sua forma, na sua profunda solidão.

terça-feira, setembro 05, 2006

O outro caminho

Enquanto você se esconde, eu escancaro as minhas janelas
E me exponho cada vez mais
Sem medo de exagerar
Ou errar

Enquanto você se afasta, eu sigo meu outro caminho
E tropeço
E vacilo
Mas não ouso parar

Enquanto você me persegue com o canto do seu olhar
Eu te encaro e te digo
Não se aproxime
Me deixe

Porque dessa vez eu vou sem você

sexta-feira, setembro 01, 2006

Quietude

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Silêncio
Silêncio
Silêncio
Silêncio

Por que todo esse silêncio?