terça-feira, maio 27, 2008

Roberto Freire

Duas boas frases de Roberto Freire, escritor e terapeuta que morreu aos 81 anos no último fim de semana. Uma singela homenagem...

"Do amor pode-se fazer uma necropsia, nunca uma biópsia. Se eu examiná-lo,
paro de amar. O amor não é para ser entendido, mas sentido, experimentado."

Entrevista à Folha, em 2003


"...quando se ama, não se está pensando em segurança, duração, controle, posse,
pois isso corresponde à forma com que o autoritarismo capitalista familiar ou de
estado se expressa no plano pessoal e afetivo. Se sou um libertário, desejo que
tanto eu como meu parceiro vivamos o amor em liberdade, na emoção, no espaço e no tempo. É o amor em sí mesmo que comanda a intensidade, a beleza, a forma e a
duração do nosso amor, em cada um e entre os dois, jamais o contrário."

Do livro Ame e Dê Vexame, de 1990

quarta-feira, maio 21, 2008

Bruxas e Bruxinhas

- Bia, eu sou uma bruxa, você sabe! - eu provoco a menina, sem dó nem piedade, desde que ela começou a entender o que é uma bruxa.

Antes, ela chorava de verdade, lágrimas escorriam do seu rosto.
- Não é não, mãe, não é!

- Mas, Bia, eu sou sim. Até nome de bruxa eu tenho, sabia? Viviane, nome de bruxa, bruxa! E você é uma bruxinha!!!!

- Pára, mãe, não sou, você não é bruxa! - ela brigava e vinha me empurrar. E eu, má como só uma bruxa, ria e ria e ria.

Esta semana estamos lá, lendo um livro deitadas da cama. Livro sobre uma festa em que só podiam ir bichos, fadas e.... bruxas.

- Oba, eu posso ir. Afinal, sou uma bruxa, você sabe!

E recomeça a ladainha.
- Não é!
- Sou!
- Não é!
- Sou!

Então, ela percebe que pode mudar o jogo. E faz o desafio.

- Se é, faz então desaparecer a.... - ela procura algo pelo quarto - esta televisão!

Me surpreendo, já orgulhosa. E não perco rebolado. De fato, penso: "Ela está crescendo."
- Fácil, fácil!

Movimentos de mão teatrais, palavras "mágicas" inventadas na hora, olhar fixo na TV e, tcharam!!!!

- Viu? A televisão sumiu! - fantasio.

- Ah, mãe, sumiu nada. Olha a televisão aí? - aponta rindo.

- Só você que está vendo a TV aí, Bia. Pra mim, ela sumiu!

- Ahhh, tááá!! Então, eu sou uma bruxinha mesmo. Porque sou a única que tô vendo ali televisão que você acabou de fazer desaparecer!!

É, ela tá crescendo mesmo.

domingo, maio 11, 2008

Trocando as telhas

E, agora, que a tempestade passou, que a água abaixou e deixou a casa, e que o céu vai ficando claro, o que é que a gente vai fazer?


Vamos varrer o quintal, colocar as folhas e os galhos que caíram das árvores em um saco plástico e deixar lá fora para o lixeiro levar?


Vamos tirar a lama e secar o térreo da casa, que inundou, colocar os móveis nos seus lugares?


Secaremos as vidraças, abriremos as janelas para o ar entrar e expulsar daqui o cheiro de cachorro molhado?


Lavaremos as roupas que se molharam e mofaram e vamos colocá-las no varal para elas secarem ao sol?


E, finalmente, subimos no telhado para trocar aquelas telhas quebradas? Por causa delas, uma goteira se formou bem em cima de nossa cama, o colchão encharcou e nem dormir juntos a gente pode. E, engraçado, que minha prepotência nem deixou eu imaginar que existiam telhas quebradas no nosso telhado. Estou com saudades do seu calor.


Podemos, sim, fazer tudo isso. Tem só que sair dessa paralisia e tomar coragem. Respirar fundo e começar.


Há vantagens em tudo isso, eu vejo. Eu sempre vejo a luz no fim do túnel, o bem no meio da inevitável confusão que vem com a tempestade.


O ar fica mais fresco, a gente aproveita e também joga fora o lixo que deixou acumular por tanto tempo, por causa da incerteza sobre se um dia a gente ia ou não usar de novo.


Vai dar muito trabalho essa limpeza, eu sei. É difícil e cansativo recolocar tudo no lugar, ou decidir os novos lugares das velhas coisas (É que a gente nunca se livra totalmente das velhas coisas). Mas pensar na casa limpa, clara e fresca é sempre um incentivo. Um alento.



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