quarta-feira, dezembro 26, 2007

Coisas do Natal

Um sapo pra olhar
Uma pedra leve de carregar
E o doce sempre a eternizar

Adoro o verde, o preto e o sabor do chocolate

Verde é calma, é equilíbrio
Preto é harmonia entre corpo e alma
Chocolate é amor

Feliz foi o Natal!
Feliz será 2008!

segunda-feira, dezembro 10, 2007

A pele de peças

Tento desvendar o rosto daquela mulher. Sua pele, uma máscara formada por um quebra-cabeças com uma centena de peças... O que será que há sob aquela "pele" de papelão? Seus olhos, talvez de vidro, talvez de plástico, também parecem artificiais. Têm focos distintos e, enquanto um se volta para frente, o outro me atravessa quando percebo que uma peça de sua pele-máscara de quebra-cabeças está para se soltar. Sem querer, descobri um seu segredo.
Ela pode ser doce, terna. E pode também ser dura, indiferente. Em segundos sai de um estado de espírito para outro. Não admite que se diga a ela o que tem de fazer. Por isso, não aceita o que a Ana lhe diz daquele jeito estúpido que só quem conhece o seu coração a perdoa de pronto. Está quase a nos enxotar de lá quando ou começo a falar. Digo o mesmo que a Ana, mas de outro jeito. Digo que ela tem que sair de lá, daquele isolamento, daquele mundo inexistente.
A encontramos sem querer. Procurávamos o seu irmão e nem sabíamos dela. O rapaz, casado, morava em um bairro distante da minha cidade, perto do meu pedaço, numa daquelas raras casas que ainda guardam jardins e quintais com árvores. Fui porque a Ana me pediu. No terreno, eram tantas as árvores que o ambiente era escuro. Não havia flores, só umidade da mata. Eram duas casas velhas, mas com várias paredes de vidro ou janelas gigantes. Não sei bem. Mas eram sujas e mal cuidadas. Antes de chegar lá, eu no volante, descemos ladeiras conhecidas, cruzamos a Carijós. Não sei porque a Ana precisava dele. Ele não queria ser encontrado. Mas foi a moça alta, de cabelos negros, que passou tentando não ser vista, muito parecida com viúvas de filme de guerra, que acabou sendo o nosso tesouro. A cercamos, tentanto convencê-la não sei do quê. A mim, como disse, ela chegou a ouvir. Quase a convenci. Mas ela voltou a se esgueirar quando percebi seu segredo. E acordei no momento em que ela me atravessava com seu olho direito, de vidro. Na justa hora que sua máscara certamente se desmancharia. Com a máscara, ela pareceu assustadora, mas no fundo eu sabia que ela era apenas uma mulher solitária.

domingo, dezembro 09, 2007

O lindo rostinho dela

Insinuante. Este era o atributo exato para Maria Dejanira. Sempre foi assim: fingia ser o que não era, ter feito o que nunca alcançou oportunidade, só para provocar os outros, desestruturar amizades, colocar dúvidas em relacionamentos honestos. Era uma marca de sua personalidade. Se divertia com isso. Na maioria das vezes se dava bem, mas quando se dava mal...

Encontrei Maria Dejanira a primeira vez em um ônibus da minha escola. Íamos a uma excursão de estudantes. Meu professor levou a namorada. Mulher bonita, segura, liberal se comparada com as mulheres mais velhas que eu conhecia até então. Mas era quieta, ria com a molecada adolescente, mas não se metia nas brincadeiras.

Os meninos da minha turma eram abusados, adoravam falar bobagens. E, para brincar com o professor, diziam que, para tirar boa nota na prova, tinham até que beijá-lo na boca. E todo mundo dava risada. Até que Dejanira resolveu aparecer. Parou insinuante ao lado da poltrona do casal e soltou a bomba: “Se é assim eu já passei, né, ‘fessor’?”

O silêncio foi total. A namorada do professor ficou vermelha de raiva e fulminou a menina. Entendeu que era provocação, e todo mundo esperando o escândalo da moça. Mas o professor só apertou forte a sua perna, como que implorando para ela não fazer nada. E nada aconteceu de mais grave.

Anos depois, encontrei uma amiga num café. Jandira estava furiosa. Tinha acabado de ter uma discussão feia com a ex-secretária de seu noivo. Confiava em Rodrigo, mas aquela mulher intrometida a tirava do sério. "Meu noivo era o gerente da empresa, e, por trabalhar com ele, ela acha que mandava ali, que podia tanto quando ele." E começou a me contar o quanto a mulher dava palpites na vida pessoal do patrão e, de tabela, na dela também.
"Rodrigo sofreu uma cirurgia no final do ano, e ela me ligava para contar o que ele fazia de errado em relação à saúde. Depois, começou a dizer que eu e ele tínhamos que sair mais para ele se divertir, já que Rodrigo trabalhava muito. E, por fim, acabou insinuando que tinha de ir junto!"
Por causa das intromissões da secretária, Jandira chegou a brigar com o noivo e pedir para ele despedir a moça. “Ela era tão atrevida que espalhou pela empresa um boato que eles tinham um caso. E eu ficava com ciúmes, porque ela é bonita, tem presença”. O clima entre ela e o noivo por causa da secretária estava mais que azedo, quando ele e a moça foram demitidos. “Quer saber, fiquei aliviada, porque ela não ia mais me encher.” Mas qual não foi a surpresa de Jandira quando a garota ligou para ela para reclamar que Rodrigo não a procurava mais, não atendia seus telefonemas, e que queria voltar a trabalhar com ele. “Eu surtei, Vivi. Marquei um encontro com ela e disse que o Rodrigo também ia, para eles conversarem. Quando ela chegou no bar, estava toda emperequetada e feliz: ‘Cadê o Rodrigo?’, ela me perguntou”.
“E o que você fez?”, perguntei, já ansiosa para saber o fim da história.
“Acabei com o lindo rostinho dela.” Ah! O nome da secretária: Maria Dejanira.

sábado, dezembro 08, 2007

No Night So Long

Dione Warwick me faz lembrar do Pequeno Rapaz Moreno.
Esguio e moreno.
De tanto medo do que sentia da Pequena Menina Doida, desapareceu.
Não entendeu o que significava passear com ela-mulher de braços dados por entre as alamedas centenárias...
Então, se escondeu.
Deve estar sob a saia de sua mãe baiana.
Coitado! Não sabe o que perdeu!

sábado, dezembro 01, 2007

Madrugada

Só pra dizer que estou aqui, de novo, na madrugada.
Tenho preferido as madrugadas às manhãs nos últimos tempos.
Não porque não goste do sol e da sua claridade.
Mas é no silêncio da madrugada que eu consigo me encontrar... te encontrar.
Corpo doído, cansaço de um trabalho intenso e adorado, mas meio sem sentido.
Me pergunto, onde está o meu tempo?
Quero ele de volta.
O trabalho consome minha "criativa idade" e só na madrugada eu recupero um pouco do meu sentido...