sábado, junho 24, 2006

Sem escrever

Ando sem vontade de escrever.
Fase difícil essa.
Quando não escrevo, parece que vou sufocando, murchando.
Pensamentos acumulados que não encontram formulação.
Pensamentos acumulados que não encontram sentido.
Lembro: como são estranhos blogs encerrados, com recados do tipo "pessoal, acabou".
Tenho excesso de histórias.
O que está em falta é aquele impulso de fazer.
Um pouco de prática, de ser prática, talvez.

quarta-feira, junho 14, 2006

Nudez

Ele achou que a nudez podia ser um sinal de possibilidades mil. Mas, pra ela, a nudez era só sinal de liberdade no meio às flores, na beira do rio, embaixo do sol.
Ele não entendeu nada, mas pra não virar um criminoso aceitou, não sem amargor, revolta do desejo.
Ele até que foi forte. Diante dos espinhos, a carregou no colo. Ela se comportou como um bibelô frio e quase o enlouqueceu. Não admitia a vontade alheia e não se importava em não fazer o que não lhe daria prazer.
No final, mesmo herói, ele se sentiu um vilão.
No final, mesmo intacta, ela virou uma cadela. Para ele, uma qualquer.

segunda-feira, junho 12, 2006

Acabou

.... e o dia veio e já se foi...

Acabou.

Deixei ele vir e me atropelar
Parei só pra ele me olhar, me encarar, me angustiar

Mas ele não conseguiu.
Eu consegui.

Segui. Ele se foi

Fico eu aqui, de novo, só
Até ele voltar. O dia

quarta-feira, junho 07, 2006

Sem gritar

Ela cresceu ouvindo a mãe gritar: "Eu quero sumir!!"
Criança, sofria e chorava com o desabafo materno, a raiva colocada naquela voz, a culpa por talvez ser o motivo do desejo. "O que fiz de tão errado?", se perguntava.
Menina-moça, foi aprendendo a lidar com aquilo. Os brados maternos continuavam, mas ela passou a considerá-los uma frescura, um jogo de cena, a histeria de uma mulher que queria atenção, que não se resolvia.
Ela cresceu. Ela não grita. Mas hoje entende o desejo da mãe. Porque o berro está parado na sua garganta, em vários dias, de várias semanas. E ela não se permitirá gritar.
Não é o desejo real de sumir do mundo, não é o sumir da visão dos outros. Na verdade, o sumir é dela mesma. É uma vontade de sentir que não está lá, que não vê, que não escuta, que não percebe, que não intui. Mas de si mesmo ninguém foge.
Não é nem o desejo de morrer. É o desejo de não ser. De simplesmente nunca ter sido.
É contraditário porque ela adora a vida. Adora viver com as pessoas. E adora a sua própria vida. Pensa: a vida é próspera e tem lhe dado tudo. Tudo.
Mas a dor que a atinge é uma dor que se compara à da morte. A dor da morte por algo que simplesmente deixou de ser, que não tem mais volta, que não tem mais conserto, que ela não quer mais, mas que não queria que acabasse. Porque o chão a partir do qual ela construiu sua vida começou a se mover. Ela mudou. E ela não sabe o que virá. O que vai colocar no lugar do que se foi?
Ela descobriu algo obscuro nela e com isso terá de viver. Sem gritar.

domingo, junho 04, 2006

Balões...

.

O céu estava salpicado de balões naquele dia de inverno de 1970.

Balões de todas as formas... de todas as cores...

Balões em forma de estrela, de bola, de bota, de balão...

Balões azuis, verdes, amarelos, vermelhos, coloridos...

O céu límpido...


E a menina parada no pátio olhando pro céu...

Era quase possível tocar nos balões...


A menina parada no pátio...

Muitas crianças correndo a sua volta...


A menina parada...

O chão de paralelepípedos...


A menina.
A menina.