quarta-feira, janeiro 24, 2007

Pelas beiradas

É que dói tanto que parece fome
Dói igual a um buraco no estômago que persiste durante muito tempo

Primeiro vem a dor aguda, insuportável, que tira a razão da gente
Depois, a dor desaparece e a fraqueza toma conta do corpo, da mente, da palavra

E vai aumentando...
aumentando...
aumentando....

Fica um tipo de letargia e é até possível esquecer dela

A gente esquece a dor
E o que a sacia, o que lhe corta, o seu sabor

Quando, enfim, se tem o alimento, não dá para comer tudo de um vez
Dá enjôos ver aquele excesso
O rosto se contorce de náusea
A língua não sente o sabor

Tem que se comer aos poucos, pelas beiradas
Primeiro o mais leve, um pouco mais a cada dia, sem pressa
Até o corpo se acostumar de novo com o outro

Eu já senti tanta saudades que, agora, já não sinto mais nada
Ela só não mata como a fome

Mas entristece e desgasta a alma

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Shock!

Escrevo o nome para não esquecer mais. Ou, se esquecer, poder consultar.

Shock é dança, é Smiths, é angústia, é noite antiga.

Shock já passou, acabou (por algum motivo que eu desconheço esse nome sempre me escapa e sempre me reencontra).

Shock! Agora eu não esqueço mais!

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Ménage à trois

A maldade feminina não tem mesmo limites.

Pois alguém pode me dizer por que aquelas duas mulheres ficaram falando sobre vibradores e sexo em grupo na frente daquela beata? A garota mal conseguia tirar os olhos da louça que lavava enquanto escutava a conversa, encabulada. Ela não tinha nem como sair da cozinha. Porque se saísse daria muita bandeira. E ela ficou, roxa de vergonha!

Eu te digo porque as duas fizeram isso: foi pura diversão. As duas nem combinaram. Mas, 'putas velhas', perceberam a falta de experiência da outra, que parecia mesmo não gostar na 'coisa'.
E, como se já tivessem usado algum instrumento a mais na cama ou mesmo fossem praticantes do 'ménage à trois', discorreram sobre o assunto como duas experts. E era puro teatro.

- Fui numa loja de produtos franceses e encontrei lá um vibrador que era uma graça. Era rosa e tinha até de formato de coelho!!
- Jura! Sou louca pra ter esse.

A coitada da beata nem abria a boca. Na verdade, mal respirava.

- De vez em quando a gente convida outra pra passar a noite lá em casa. Acho muito bom. Mas queria mesmo que fosse outro.
- Ah, isso é bem legal mesmo. Mas meu marido não gosta muito!

Duas cínicas essas donas. São tão 'normais' que dá até dó. Uma terceira pessoa na cama daria um divórcio. Nunca nem pegaram num vibrador. Nem fazem direito o papai-e-mamãe. A preguiça é uma constante e a dor de cabeça sempre a melhor desculpa pra dizer não.

Mas se sentiram o máximo cutucando a menina recém-casada, que era virgem até o matrimônio e sempre acreditou que sexo era só bom pra fazer bebê.


Na hora que a beata conseguiu se livrar a cozinha, elas se sentaram na mesa e morreram de rir.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Não

E ela agora vai furar a minha pele.
A agulha fina sugando a minha vida.
Não sinto dor, só a invasão.
E penso: o seu olhar terno me amolece.

Por uma vida você me oferece a sua mão.
E eu a afasto e digo não.
Você reclama e diz: 'você sempre diz não.'
Isso virou piada.

Eu aqui, meio virada, curtindo essa profunda solidão.
A vertigem passou, o nó foi desatado.
Agora, uma nova fase, um novo quarto.

'Me siga, tire a roupa, ponha um avental.'
'Deite, relaxe, ela já vem.'
Tudo é rápido, gelado, anti-séptico.

Pego o carro, quero ir embora, vou comer.
A vida corre. E eu, por você.

Sem você.