terça-feira, setembro 29, 2009

Louca semana

Minha semana passada terminou só ontem. Foi uma semana que começou triste, eu cansada. Depois, duas pessoas queridas doentes, à beira da morte, um desmaio, uma explosão, duas viagens bate e volta. Fazendo as contas, publiquei quatro fotos em uma única edição, rodei dois mil quilômetros em menos de três dias, chorei alguns baldes, trabalhei mais do que o normal, me emocionei muito, mas o saldo foi positivo. Deixo aqui registrado o final desta semana tão louca. A entrevista na  Ana Maria Braga, ontem de manhã.
Um "Eu me amo" de vez em quando não faz mal a ninguém.
:-)

sexta-feira, setembro 25, 2009

O dia que o meu bairro explodiu


Foi com o coração na mão que eu cheguei ontem na Rua Américo Guazzelli, exatos três minutos depois da explosão da loja de fogos que levou meio quarteirão aos ares. O estrondo aconteceu na hora que eu  passava de carro pela Uruguaiana, meu caminho diário para o jornal. O som do rádio estava alto e, mais do ouvir o barulho, eu senti um trepidar estranho no carro.
Mas, o que mais me chamou atenção no momento, e que me fez imaginar que aquilo não era fruto da minha imaginação, eram os semblantes das pessoas saindo de suas casas para também ver o que havia acontecido. A expressão era de assombro. Todos olhavam para o céu e várias pessoas começaram a correr em direção à torre de fumaça que se via no céu. Eu nunca tinha visto rostos tão assustados. Era um pânico coletivo.
Eu, na minha curiosidade jornalística, dei meia volta no carro e também fui procurar de onde vinha a fumaça. Abri o vidro e o ar era puro cheiro de pólvora. Alcancei a Firestone e parei na esquina da rua da loja. Alguns policiais já estava lá, tentando evitar que as pessoas se aproximassem. A via estava coberta por uma nuvem de fuligem. O asfalto parecia terra. No fundo, a uns 50 metros, a loja ainda pegava fogo e tinha explosões. Uma Fiorino atravessada da rua estava destruída. Outros carros estacionados também haviam sido atingidos. Os fios de alta tensão estouravam. E eu, que sempre relato tragédias, comecei a tremer.
É que o jornalista geralmente chega o local do acidente com a situação um pouco controlada. Autoridades já isolaram a área e os colegas estão junto. Mas ali, tudo ainda era caos e espanto. Nada estava organizado.  As pessoas, vizinhos, ainda não conseguiam falar. Liguei e pedi ajuda para o jornal. Aquilo era grande demais para um só jornalista. Também liguei para casa e pedi pra o Mauro me levar a máquinas fotográfica. Eu, ali, só podia fazer o meu trabalho.
Vi as primeiras pessoas a serem socorridas. Uma mulher corria desesperada, com pernas e braços sangrando, falando que o filho jovem e o irmão deficiente estavam dentro da segunda casa após a loja. Os policiais foram até o local e retiraram os dois, que só estavam assustados, mas não se feriram. Um de pijama e o outro enrolado em um lençol. A mulher continuou por lá, andando de um lado para outro, completamente desnorteada. Dos paramédicos, ela só queria água. Conversei com ela. Se preparava para tomar banho quando ouviu o barulho. Saiu para ver o que era e foi jogada no chão da calçada.
Em seguida, os policiais trouxeram um casal de idosos, também em choque. O Samu os levou para o hospital. Depois, eu descobri que os dois moram lá há uns 60 anos, criaram seus filhos no local. Uma neta deles, que chegou desesperada buscando notícias, me contou. Tentei acalmá-la, dizendo que tinha visto velhinhos sendo resgatados. E mostrei as fotos para ela, que os reconheceu e me agradeceu, aliviada. Me senti reconfortada. Tinha tranquilizado uma família, pelo menos. Geralmente o jornalista é visto como aquele que quer ver a tragédia. É bom conseguir ajudar alguém nessas situações. Tinha conseguido pelo menos ajudar alguém.
As demais equipes de reportagem só chegaram ao local mais de meia hora depois. Não sei direito o tempo, Lá, tudo parecia demorar muito. Mas, de fato, tudo foi muito rápido. Eu sai de lá às duas da tarde, deixando duas equipes minhas e mais duas a caminho de Santo André. Para o jornal, tinha um ótimo material. Fotos e histórias exclusivas. Para minha vida pessoal, mais um experiência. E mais um pouco para agradecer. Afinal, tive sorte. Por minutos não estava a uma quadra do local, no farol onde várias carros bateram. Por sorte, não tinha feito o caminho que passa na frente da loja, como às vezes faço.
Mesmo satisfeita, fica aqui no peito um pesar, uma tristeza. Afinal, é uma tragédia sem precedentes para nós, daqui da região. Acho que todos acabamos atingidos. Cada um de nós tem uma história daquele canto do bairro, uma memória. São vidas destruídas. Mesmo que a gente não conheça as pessoas pessoalmente. Ali ficará sempre marcado como um lugar de muita dor. Abaixo, os corpos das duas vítimas fatais.


terça-feira, setembro 22, 2009

Vertigem

O zunido tomou conta da minha cabeça e eu sabia o que viria depois. Enquanto a senhora falava sem parar do outro lado da linha, aos poucos, suas palavras iam se perdendo para mim. Eu não queria mais ouvir.

- Então, Vivi, ele ficou parado na porta, sem reagir. Depois, foi para cama e começou a tremer. Teve uma hora que achamos que estivesse morto e...

Eu a cortei para não dar na vista e menti:

- Olha, vou ter que desligar. A Bia está me chamando.

Desliguei o fone e chamei a Val. Depois, não lembro de mais nada.

Só sei que acordei no sofá, melada de um suor frio, escutando a minha própria respiração pesada. Mais parecia que tinha saído de uma piscina gelada.

- Você desmaiou - me disse uma Val assustada, branca como uma folha de papel - Eu te coloquei no sofá.

- É, acho que foi a notícia, a insônia, o levantar rápido, o remédio, a falta de café... Tudo isso junto e mais um pouco.

Fiquei o resto da manhã assim, pensando naquela vertigem. Que foi preocupante, mas que foi boa. Como foi boa aquela sensação de sono profundo, que nem sei quanto tempo durou! É que, quando eu voltei, não tinha a intenção. Só sei que não queria acordar. E voltei sem me esforçar, sem ouvir nenhum chamado, como se minha alma fosse tomando conta de cada parte do meu corpo bem devagar, encaixando parte por parte. Foi uma viagem rápida, e assustadoramente feliz.

;-)

Conversa de piscina

Faça tudo sem pressa. A gente tem tempo. A gente só não sabe que tem tempo, mas sempre tem tempo.
Ana Lúcia

Caixas de papelão

Acho que eu ainda terei uma etapa bem difícil para cumprir. A da mudança de fato.
Empacotar as minhas coisas, colocar no carro e dizer tchau.
A Del outro dia me disse: "Éh, a parte de separar os CDs é bem chata mesmo."
Queria pular esta etapa, até por causa do esforço físico disso, mas sei que não vai dar.

O problema é que eu não estou habituada a mudanças. Minha vida sempre foi muito estável. Vinte anos num ap com meus pais, 15 anos de emprego, 15 anos na mesma casa. No trabalho, nunca me interessei em procurar outras áreas para cobrir. Lá, quando as mudanças veem, elas me alcançam.
Não que eu tenha medo de mudar. É que não penso nisso como uma necessidade. Não me incomoda estar anos "no mesmo lugar", porque eu nunca me sinto parada, paralisada, "perdendo tempo". O lugar mudou tanto neste tempo todo....

Voltando aos CDs, não sei porque a gente coleciona tanta coisa ao longo da vida. Dá vontade de deixar tudo pra trás, comprar tudo novo. Pena que isso é impossível.
Então, por conta do impossível, domingo eu comecei a organizar algumas coisas que vão comigo. O mais legal é que a Bia está bem mais empenhada em separar as coisas dela. Ela vibra quando eu falo em arrumar a mudança. Então, eu comecei a ajudando com os brinquedos e os livros. Foi divertido pegar os jogos e deixar de lado as Pollys. Ela, sozinha, pegou uma caixa e colocou os gibis que vai levar. Alguns brinquedos ela separou em kits para doação. Fiquei orgulhosa.
Quanto às minhas próprias coisas, volto a pensar... tudo já está bem separado na minha cabeça. Queria ser a Jeanne e com um piscar de olhos transferir todas as tralhas de cá para lá. Mas, como não dá, vou buscar esta semana no fundo da minha alma a disposição para colocar tudo em caixas de papelão.
:-)

quarta-feira, setembro 16, 2009

Parir outra vez

É, eu já senti isso antes.

É a mesma sensação de quando se está grávida, prestes a parir.
A gente faz tudo certinho na gravidez, todos os exames e testes, até conta os dedinhos do bebê no ultrasson para não ter surpresas, checa 15 vezes aquela lista de itens indispensáveis que são publicadas em revistas (e só depois descobre que metade é inútil), está com a mala pronta com as roupinhas RN lavadas, passadas e desinfectadas, ao lado da sua cama, pronta para sair correndo assim que o bichinho der o primeiro sinal que quer sair da sua barriga. Ou seja, está tudo ok, não há motivos para se afobar, só tem que esperar a hora certa...

...mas é impossível saber como será o parto e a vida depois dele. Só se sabe que, com aquela vida reinando, a nossa própria vida vai mudar completamente. Eu sempre tive a certeza que seria mais feliz. Porque aquilo - dar à luz - era o que eu mais desejava até aquele momento.

É mais ou menos assim que estou me sentindo. É como se eu fosse parir de novo.
Só que agora eu estou parindo a minha nova vida. A vida que eu escolhi conscientemente. Mudar para o meu lugar. E tenho certeza que serei feliz também porque é tudo o mais quis nos últimos tempos. E a preparação dessa mudança tem me dado vida, como minhas filhas me deram. É a vida, sempre nos pedindo mais.

E está tudo certo, a arrumação do ap está no ritmo que dá pra ser, eu não posso fazer nada mais para agilizar, não estou sendo pressionada para mudar, ninguém, até agora, me deu um calote que pudesse atrasar os meu planos, o dinheiro é curto, mas eu vou levando.... Ou seja, nada para eu me apreender.

... mas... o coração está apertado, tá doendo uma dor ardida no meio do peito e, como toda boa gestante, eu tenho chorado mais, e não é de tristeza. São só minhas emoções à flor da pele. Como também a minha capacidade de trabalho amplificada, como toda buchuda que trabalha como louca e acha aquilo normal.

Não é medo, não é apreensão. Não gosto da palavra ansiedade, é negativa. Pode haver uma boa ansiedade?
Vou me conformar achando que é mais expectativa pelo que virá e eu não posso planejar ou nem ao mesmo imaginar como será.
É o inesperado, ou o imponderável... E eu não vejo a hora que eles me alcancem...

segunda-feira, setembro 14, 2009

Quando o silêncio diz tudo

Muita coisa se resolve com o silêncio. Nós, na nossa ansiedade moderna, temos a impressão que tudo tem que ser dito, escrito, mostrado. Mas a vida não é assim. Não falar às vezes é a melhor saída.
Assisti "O silêncio do mar", um filme francês de 2004. É novembro de 1941. E Jeanne é uma jovem órfã que vive só com o avô. Período de guerra, a França dominada pelos nazistas, ela e o avô são obrigados a hospedar um oficial alemão.
A maior parte da história transcorre sem troca de palavras entre estes dois personagens principais, o oficial e a moça. Ela, principalmente, não diz nada a ele. Mas a troca de emoções entre eles diz tudo.
O difícil, hoje, é traduzir isso no Outro. Acho que preciso aprender muito ainda. Uma vez me disseram que eu sabia entender as situações sem que me fossem dadas, necessariamente, muitas explicações. Não tenho certeza disso. Taí uma coisa que preciso aprender. A ler - e realmente entender - mais o silêncio do Outro.

PS - O filme tem como tema de fundo o Prelúdio de Bach. É lindo, não é?
:-)

terça-feira, setembro 08, 2009

Pós plantão

Depois de um feriado de sol
Acordo com essa tormenta
No meu quintal

:-)

sábado, setembro 05, 2009

O tempo resolve tudo

É a mais pura verdade isso, que mais parece lugar-comum. Há exatos 10 anos eu estava chorando muito. Não quero falar aqui de tristeza, porque este não é o meu estado de espírito atual, mas é que as datas que nos marcam nem sempre são felizes e não vejo nada de errado em valorizar também o que nos doeu. Porque, ao superar a dor e aprender com ela, a gente fica tão mais forte e feliz. É só não se deixar amargurar.
Heloísa se foi em 4 de setembro de 1999. Era um sábado e, como hoje, eu também estava de plantão neste jornal. Vim trabalhar porque era muito comum a Helô ter crises como as que ela estava tendo naquele início de feriadão. E eu tinha a babá e o pai para cuidarem dela. Quando o Mauro me ligou no jornal no fim da tarde eu sabia que era algo muito grave. Mas essa história eu já contei aqui.
O que quero hoje é falar do tempo. E, acho, agradecer a ele. Não porque ele me faz esquecer. Isso ele não consegue. Nada do que é realmente importante se apaga da minha memória. Mas porque ele tem me feito entender o porquê das coisas. E leva também pra longe as minhas dores.
Hoje, 10 anos depois, eu só posso agradecer por ter tido o privilégio de conviver por pouco mais de dois anos com a Helô. E, sempre que preciso de um pouco de luz, é nela em que eu me inspiro.
Afinal, Heloísa significa "aquela que traz a luz".



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quarta-feira, setembro 02, 2009

Uivando numa nova alcatéia

Hoje me deu muita saudade. Dupla saudade. Vindo trabalhar, escutei Jesus Numa Moto, e lembrei automaticamente do Zé Rodrix -  lógico - mas também do "bandido" do Paulo Bravos. Lembrei dos dois num Carnaval, no Camarote do Diário. O Paulo tirou uma foto minha com o Zé e - puuuto - nunca me entregou. Acho que tava tão bêbado que perdeu o filme.
Bem, isso pode parecer um pouco triste,  já que os dois já se foram pro andar de cima, mas não. É muito mais uma homenagem atrasada bem pra cima a duas figuras queridas, que adoravam viver e transbordavam talento, opinião, força de vontade e inteligência. E essa música tem a cara deles, que agora estão "uivando numa nova alcatéia", em algum lugar do universo. É uma poesia que empurra a gente pra frente.
Olha só um trechinho da letra:
"Nada no passado
Tudo no futuro
Espalhando o que já está morto
Pro que é vivo crescer"
E é esse o espírito dos dois. Avante e afrente!!!

terça-feira, setembro 01, 2009

Baby

Tenho prestado muita atenção às letras das músicas. E fico impressionada como que algumas poesias parecem ter sido escritas para descrever uma situação que estou vivendo, ou já vivi. Ou querem dizer o que eu quero dizer. Isso me convence que as pessoas, por mais que tentem disfarçar, superar, parecer diferentes, são muito parecidas nos seus problemas, expectativas, sonhos... Hoje eu escutei Baby, do Caetano. E ela traduz o meu estado de espírito atual.
Vamos lá, fazer coisas simples, mas com paixão e leveza: "Você precisa saber da margarina, da gasolina, da carolina... Ouvir aquela canção do Roberto. Baby, há quanto tempo!!!"

:-)