quinta-feira, outubro 30, 2008

Num tempo qualquer

O piquenique
O céu claro
O gramado brilhante
O casal apaixonado

Uma tiara
Um pacto de amor
Um vínculo de vida


Depois...

O tempo que corre solto
O medo que se aproxima
A doença, a cama, a tristeza....

"Vou velar o seu sono", a moça diz

"Vou velar até o fim!"

:-!

segunda-feira, outubro 27, 2008

Par de vasos

Íamos sair. Eu estava tão feliz, porque a vida caminhava certa, para o lado que tinha que ser. Eu morava de novo com meus pais, no velho apartamento da rua Antonio Bastos. Não era o ideal ainda, mas éramos só eu, eles e a Bia.

Aí, tocou a campainha, eu atendi a porta e lá estava ele. Também feliz.
Mas, nos olhamos de alto a baixo chocados e, antes mesmo do beijo de oi, caimos na gargalhada. Estávamos vestidos da mesma forma, como gêmeos que usam roupas idênticas: calça jeans e uma ridícula camisa tipo havaiana, toda florida e azulada, bem larga. A roupa era horrorosa, por sinal. Mas era impressionante a nossa sintonia até no mau gosto.

Rimos de monte, mas não dava para ir pra rua daquele jeito, tipo par de vasos. Então, ele ficou conversando com o meu pai sei lá o quê e eu fui me apressar para trocar de roupa.
Sei que íamos a uma festa, com muita gente conhecida. Pensando racionalmente, não tinha o menor sentido eu usar aquela roupa, tão masculina. Mas não importava. Era vestida como homem que eu me sentia bem naquele momento. Porém, sem muito o que fazer, fui procurar outra apropriada.

Me vejo tirando roupas e mais roupas do guarda-roupa, vestidos e saias e blusas. A Bia do lado, dando palpite com um sorriso maroto. O tempo passando e eu desesperada porque não conseguia escolher outro figurino tão bom quanto o primeiro. "E o que será que ele e meu pai estão falando?", eu pensava.

Consegui escolher uma saia ou vestido, não sei direito, meio bege, meio creme, meio pérola, dos detalhes eu não lembro, mas sei que era muito mais feminino que o outro. Sensual eu diria. E, enfim, saíamos, eu envergonhada pela demora em decidir e por fazê-lo esperar, já esperando ser esculhambada porque a festa, naquela altura, já devia estar prá lá da metade.

Ai que medo daquela bronca!

Então, no hall de entrada do apartamento, bem no início da escada de emergência, nos abraçamos e beijamos como namorados adolescentes que se escondem na hora do amasso e ele fez a proposta indecente que toda mulher apaixonada quer ouvir:
"Vamos deixar essa festa pra lá e ir para um lugar só nós dois?".
"Demorou", eu pensei, com um sorriso nos lábios que diziam sim.

E acordei.

Talvez Freud ou Alan Kardec expliquem esse sonho. Se bem que eu tenha lá a minha interpretação. Mas essa fica pra outra oportunidade. E só dá pra falar pessoalmente...

:-)

domingo, outubro 26, 2008

O caminho

Quando alguém, ou alguma coisa muito importante, passa pela nossa vida, e sem saber explicar direito o porquê nada dá certo como planejado, fica lá, no fundo do coração, algo como uma agulha, cutucando sem parar. Aí, a primeira reação, até de autoproteção, é se fechar, ou caminhar para outro lado. Vamos lá fazer outra coisa, procurar outro rumo, tentar encontrar outras gentes, inventar amores, trocar de amigos! Vamos evitar as lembranças do que deveria ter sido. Músicas, textos, objetos, fotos, tudo o que possar fazer lembrar o que não teve forças para ser é intuitivamente banido. É assim com 99% das pessoas, eu acredito.


Mas, depois de um tempo, se você é um pouco lúcido e tem amor-próprio, você permite que o que foi do outro volte a fazer parte da sua vida. Você se deixa levar pela nostalgia do que foi, mesmo que não tenha sido tudo o que você quis ou imaginou merecer, e se sente feliz por ter boas lembranças. Se você tem mesmo amor-próprio, dá um jeito de aproveitar o lado bom de tudo o que passou. Porque nem tudo é sempre totalmente perdido. Não dá pra ter raiva da vida só porque as coisas não andaram do jeito que você imaginou que deviam ser. Não dá pra se colocar da posição da coitada vítima.


Acho que estou nessa fase: mais nostálgica. Escrevendo mais, deixando voltar as músicas que eu aprendi a gostar, ou passei a gostar mais, lendo, revendo e analisando algumas situações... Tentando, principalmente, cumprir todas as promessas que fiz a mim mesma, mantendo a esperança na vida, enfim. Enquanto o tempo passa, eu vou desenhando o meu caminho. Parece piegas, mas a dor e o amor são sempre piegas.


;-)

sábado, outubro 25, 2008

Adeus, Bóris!

Ele teve que ir. Estava velhinho, doente, infeliz. Então, deixamos ele partir.
Não foi uma decisão fácil. Demoramos talvez mais tempo do que devíamos.
Mas, hoje cedo, depois de vê-lo tentar se arrastar no nosso quintal mais um vez, não deu mais para adiar.
Ele não sofreu. Uma injeção, ele dormiu e pronto.
Mais difícil foi ver aquele homem adulto e aquela menina pequena chorando.
Obrigado, Bóris, por tudo.

quarta-feira, outubro 22, 2008

Nua

Andei dizendo por aí que esse poema era da Elisa Lucinda. Me enganei. Não é. É da Isabel Machado. Correção feita, poema republicado. É um dos meus preferidos.

Porque me despes completamente
sem que eu nem perceba
E quando nua,
por incrível que pareça
sou mais pura.
Porque vou ao teu encontro
despojada de critérios
Liberto os mistérios,
mas sem perder o
encanto
Porque quando nua
sou única
e exclusivamente tua

;-)

sexta-feira, outubro 17, 2008

Dias loucos

A menina volta para o cativeiro, a pedido da polícia e o olhar atônito dos pais: é inimaginável.

O traficante ameaça resolver à sua moda, sem meias palavras: é assustador.

Nas ruas, Pms jogam bombas em policiais civis no bairro mais chique da cidade: é inusitado.

Na TV, o chefe de estado diz que tudo é uma armação política: é impressionante.

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Dias loucos como esse são os que eu mais gosto. Mal dá pra respirar, não dá pra relaxar, nem há tempo de pensar, refletir sobre a própria vida. O bom é o alheio, o bom é só o que está lá fora, trazendo adrelina aqui pra dentro. O melhor é que do resto de mim eu esqueço por algumas horas.

:-!

terça-feira, outubro 14, 2008

Transporte

A água quente cai na minha nuca, me arrepia e me transporta.
Eu não estou mais aqui.
Sou um corpo sem alma.
E ela, agora livre, está perto de você.
:

sábado, outubro 04, 2008

Dezessete horas fora do ar

E como pode ser possível acreditar que eu iria ficar tão feliz com uma agulha entrando na minha veia. Eu sentada numa poltrona, e a agulha sendo meu amuleto, minha sorte, minha paz. "Me faça dormir, querida, tudo o que eu quero dormir."
E dormi. Dezessete horas de sono, abrindo o olho aqui e ali, me esforçando pra prestar atenção em alguma coisa, mas dormindo. Dormiria mais, se não ouvisse o chamado. E eu também chamei.
"Te liguei porque ouvi você me chamando agora mesmo", me disse meu pai do outro lado da linha, me acordando, enfim. Quinhentos quilômetros de distância e ele me escuta. Isto está começando a ficar comum. Em menos de dois meses, é a segunda vez que ele me escuta pedindo socorro.
E, por mais que quisesse, não voltei pra cama. Não dava mais. Não eu. Vou carregar essa cabeça que está explodindo de dor por causa da falta da cafeína, nenhum analgésico será capaz de curá-la, mas eu vou sair daqui, enfrentar o trânsito e ir pro trabalho.
É isso aí. Acabou a vontade de dormir.
Agora, só tenho vontade de seguir....

:)

quarta-feira, outubro 01, 2008

Doce Bandido

Como uma coisa tão doce pode provocar tanta dor. Um simples pedaço de bolo de chocolate, símbolo da boa comemoração, foi capaz de acabar com minha noite e, com certeza, vai destruir o meu dia. Me fará ter como único desejo um tubo de soro direto na veia, deitada na maca de algum hospital.

;(