quinta-feira, abril 26, 2007

Pretinho básico

Me aprumo pra ir trabalhar. Saco do guarda-roupas um vestidinho tubinho preto, com uma estampa de galhinhos de flores miúdas, brancas, bem básico e discreto, herança de um tia querida.

Sentada no sofá, vendo desenho animado, a Bia olha, avalia e dispara:

- Mãe, você parece uma velha com esse vestido... Não combina.

A garotinha de 6 anos me pegou no fígado! Há meses eu já estava com a sensação de que aquele vestido de crepe tinha mais cara de senhora-senhora do que de jovem-senhora-que-não-gosta-de-se-vestir-na-modinha-mas-que-também-odeia-cafonices. Mas mantinha por teimosia o vestido pendurado no armário. E, nesta fase dos 40, qualquer menção à velhice me deixa louca de raiva.

E explodo:

- Pô, Bia, eu já desconfiava que esse vestido me envelhecia, faz tempo que não uso, mas você tinha que falar assim na lata??!! Me arrasou!!

A garotinha se desculpa:

- Não, não, mãe! Tá bom, tá bonito, vai com ele!

- Não vou. Quer saber? Vou tirar ele agora e dar pra alguém. Ó, vou tirar e dar pra Val (é a babá) levar pra mãe dela! Vai servir direitinho na dona Maria!

E a menina sussurra baixinho:

- Na minha avó também ia ficar bom...

Explodi de novo, mas desta vez de tanto dar risada...



domingo, abril 22, 2007

Pergunta da Bia...

...feita ao pai. Mas que também pode ser respondida por qualquer outro ser do sexo masculino??

Por que você vai no estádio ver futebol e, quando chega em casa, liga a
televisão para ver futebol??

sexta-feira, abril 20, 2007

Vontades

Quero ficar aqui quieta no meu canto
Ouvindo só o que dizem as minhas próprias dúvidas
Quero olhar essa tela e já ver tudo escrito
E só ter o trabalho de transpor o meu saber para o seu olhar
Quero falar baixinho
E sentir que o outro ouviu o meu grito
Quero te contar tudo sem falar palavra
Para você ter certeza que estou ao teu lado
Quero abrir a janela e respirar o cheiro de biscoito
E me sentir ainda como uma criança
Quero fechar os olhos e me sentir flutuando
Quero ter direito à minha solidão
Quero que você me pegue de surpresa
De um jeito que eu não possa lhe dizer não
Quero deitar agora como se fosse para sempre
Para encontrar bracinhos finos procurando o meu pescoço
O que é um bom jeito de dormir em paz

quarta-feira, abril 18, 2007

Duas coisas para não esquecer

A intensidade

e

O imponderável

sexta-feira, abril 13, 2007

Rua da Marquise, 901

Em que lugar fica esse endereço? Alguém pode me dizer?
Já olhei no guia, já olhei na net, já dei uma googada, e não encontrei nada parecido.
É a coisa mais louca que eu já sonhei! Um endereço. Um lugar que eu não sei qual é!

Por que Marquise?? O que é uma marquise? Um lugar onde a gente pode se abrigar!!!
Por que 901? Tenho que consultar uma numeróloga. No limite, é 1 (9+1=10 ou 1). Na numerologia o 1 é Início, a Força, mas também o Egocentrismo....

Já sonhei com beijos, com encontros, com brigas, com amassos, com a água invadindo meu carro, quase me afogando, com fugas desesperadas pela mata, houve época em que sonhava desesperadamente que estava sem sapatos, me dava conta que não tinha sapatos, mas um endereço.........

Não sei mais onde procurá-lo. Mas acho que é lá, neste lugar que não sei onde é, é lá que eu vou encontrar aquele espelho do outro sonho... Nele eu me mirava enquanto chorava... e a outra-eu, a imagem, com a maior naturalidade, desenhava um sorriso no rosto. E eu, chorando, era obrigada a segui-la, meio a contragosto, teimosa por querer continuar a sofrer, mas sabendo que ela, a outra, é que estava certa.

Sem falar palavra, ela dizia pra mim: 'sorria, garota, porque tudo, tudo vai terminar bem!'

segunda-feira, abril 09, 2007

A velhice

É difícil encarar a passagem do tempo de frente. A memória que já não é a mesma, o andar que não é mais firme, as mãos que tremem, o olhar embaçado...
Passei todo o feriado encarando tudo isso... Tentando observar o outro e a outra e não ver o meu futuro. Imaginar que comigo pode ser diferente.
Mas, dificilmente será. Não há muito o que fazer pra ser diferente. Me pergunto como não ser atropelada pelo tempo ou pela doença, pelo amargor, pelo abandono ou pela solidão. Algo disso inevitavelmente alcança cada um de nós em algum momento da vida.
Não sei a fórmula para escapar. É difícil não ter medo.
Mas, olhando como meus tios e tias estão, lembrando o que fizeram e como chegaram até hoje, o que me toca mais é a memória que guardo da integridade, da curiosidade, da bondade e da criatividade que tinham. Me orgulho disso, me orgulho por ter conhecido e convivido com cada um deles.
Hoje eles estão trôpegos, inseguros, esquecidos, frágeis, mas não consigo vê-los com piedade, mas sim com respeito e muito afeto.
Será que merecerei algo assim quando chegar aos meus 70 ou 80??

terça-feira, abril 03, 2007

O velho trem

O mundo pode estar caindo, mas eu me animo quando sinto o Sol.
Ele me aquece a alma quase sempre solitária.
Não adianta estar rodeada de gente quando a solidão faz parte da gente.
Escuto no trânsito Back On The Chain Gang (The Pretenders), saio cantando... Fico feliz.
Uma foto
Uma trégua
Dias felizes
Mas agora Back On The Chain Gang..........

Migalha

Ela só lhe dá uma migalha do seu coração.

Queria lhe dar mais.
Ele mereceria toda a sua atenção, todo o seu tempo, todos os seus pensamentos...
Mas ela não consegue.
É incapaz e, por ser incapaz, já chegou a sentir culpa.
Porque ele... ele está sempre ali.
Ele a considera tanto, ele a quer tanto e ele a respeita tanto,
que a comove.
E, pior, ele não lhe cobra nada.

Quando ela o dispensa, ele aceita.
Quando ela adia os seus encontros, ele entende.
Quando ela lhe pede um favor, ele faz.
E não faz por submissão, porque ela não o obriga.
Nem para agradá-la, porque ela não é um tipo que se adule.
Ou mesmo por falta de amor próprio, porque ela nunca o ofende.

Ele apenas faz porque sente prazer.
E ela apenas aceita.
E cala sobre o que não sente.
E, se ele percebe, prefere fazer de conta que não vê.

Ela já tentou amá-lo como ele a ama.
Mas não consegue.
Simplesmente porque, por ele,
não sente nem a atração que vem pelo corpo
e nem a paz que vem pela alma.
Sente apenas afeto sincero,

mais parecido com gratidão.