domingo, dezembro 14, 2008

Beijo, abraço e a felicidade*

Parece bobagem, pretensão até, mas às vezes eu tenho a nítida impressão de estar no mundo para fazer você feliz. Sei que quando pensa em mim não consegue inibir um sorriso no rosto e fechar os olhos por alguns instantes para lembrar melhor dos meus traços.
Mesmo quando ficamos muito tempo sem nos ver, o que tem sido mais comum do que gostaríamos, tenho certeza que sabe que estou de alguma forma por perto, flutuando pelos seus pensamentos e você nos meus. Respiro fundo e está aqui. Respira fundo e estou aí.
E é assim que vamos levando nossas vidas, entre beijos e abraços e declarações de amor eterno.
Eu agora sou o seu espelho. Você agora é a minha inspiração.

*escrito há muito tempo

:-)

sexta-feira, novembro 28, 2008

Céu Negro

Adoro o céu quando ele está assim, escuro, preto, negro. De longe, enquanto corro pela avenida vindo para Santo André, vejo que sobre ele se desenham monstros com tentáculos: são manchas cinza-claro, quase brancas, nuvens frias como o vento lá de fora do carro, que queria ver voar. Corro encantada em direção a essas imagens geladas: o branco no negro, um desenho forte que se transforma sem que ninguém possa fazer nada, que fortalece a madrugada. Enquanto isso, eu penso que tenho que correr menos, mas não consigo ir mais devagar. Penso bobagens: "morrer seria bom assim, na velocidade, num choque rápido, sem dor". Mas não quero morrer. São 30 minutos. Aqui, a nuvem clara desaparece. É que estou dentro dela, suponho. Entrei na nuvem e a noite agora está embaçada. Mas, do lado de fora do carro, o cheiro que sempre me encanta e me envolve: o biscoito quente, saindo no forno, que esquentará o meu sono, meu alegre sono.

quinta-feira, novembro 27, 2008

Talvez...

... o pior de tudo seja a falta de vontade de escrever.

Nenhuma frase, nenhum linha, nenhuma letra.

Este tem sido o "efeito colateral".

Mas, mesmo assim, as palavras devem sair. Mesmo que espremidas.

É um tipo de "o show deve continuar".

Mas sem vontade alguma.

:-!

terça-feira, novembro 18, 2008

De "O Mundo Perfeito"

Fusão

Lá estarás à minha espera, no final. O meu coração há de sobressaltar-se,
quando te vislumbrar na distância, e hei de, num segundo, rememorar todo o nosso amor, cópia total do que me dedicas. E a falta, a ausência, a distância será recompensada nesse abraço que dermos, que não será um reencontro, um mero abraço e um beijo, mas a merecida fusão das nossas almas, para não mais se desencontrarem.

--------------

:-) e olha que a Isabela, dona do blogue, nem parece romântica....

quinta-feira, outubro 30, 2008

Num tempo qualquer

O piquenique
O céu claro
O gramado brilhante
O casal apaixonado

Uma tiara
Um pacto de amor
Um vínculo de vida


Depois...

O tempo que corre solto
O medo que se aproxima
A doença, a cama, a tristeza....

"Vou velar o seu sono", a moça diz

"Vou velar até o fim!"

:-!

segunda-feira, outubro 27, 2008

Par de vasos

Íamos sair. Eu estava tão feliz, porque a vida caminhava certa, para o lado que tinha que ser. Eu morava de novo com meus pais, no velho apartamento da rua Antonio Bastos. Não era o ideal ainda, mas éramos só eu, eles e a Bia.

Aí, tocou a campainha, eu atendi a porta e lá estava ele. Também feliz.
Mas, nos olhamos de alto a baixo chocados e, antes mesmo do beijo de oi, caimos na gargalhada. Estávamos vestidos da mesma forma, como gêmeos que usam roupas idênticas: calça jeans e uma ridícula camisa tipo havaiana, toda florida e azulada, bem larga. A roupa era horrorosa, por sinal. Mas era impressionante a nossa sintonia até no mau gosto.

Rimos de monte, mas não dava para ir pra rua daquele jeito, tipo par de vasos. Então, ele ficou conversando com o meu pai sei lá o quê e eu fui me apressar para trocar de roupa.
Sei que íamos a uma festa, com muita gente conhecida. Pensando racionalmente, não tinha o menor sentido eu usar aquela roupa, tão masculina. Mas não importava. Era vestida como homem que eu me sentia bem naquele momento. Porém, sem muito o que fazer, fui procurar outra apropriada.

Me vejo tirando roupas e mais roupas do guarda-roupa, vestidos e saias e blusas. A Bia do lado, dando palpite com um sorriso maroto. O tempo passando e eu desesperada porque não conseguia escolher outro figurino tão bom quanto o primeiro. "E o que será que ele e meu pai estão falando?", eu pensava.

Consegui escolher uma saia ou vestido, não sei direito, meio bege, meio creme, meio pérola, dos detalhes eu não lembro, mas sei que era muito mais feminino que o outro. Sensual eu diria. E, enfim, saíamos, eu envergonhada pela demora em decidir e por fazê-lo esperar, já esperando ser esculhambada porque a festa, naquela altura, já devia estar prá lá da metade.

Ai que medo daquela bronca!

Então, no hall de entrada do apartamento, bem no início da escada de emergência, nos abraçamos e beijamos como namorados adolescentes que se escondem na hora do amasso e ele fez a proposta indecente que toda mulher apaixonada quer ouvir:
"Vamos deixar essa festa pra lá e ir para um lugar só nós dois?".
"Demorou", eu pensei, com um sorriso nos lábios que diziam sim.

E acordei.

Talvez Freud ou Alan Kardec expliquem esse sonho. Se bem que eu tenha lá a minha interpretação. Mas essa fica pra outra oportunidade. E só dá pra falar pessoalmente...

:-)

domingo, outubro 26, 2008

O caminho

Quando alguém, ou alguma coisa muito importante, passa pela nossa vida, e sem saber explicar direito o porquê nada dá certo como planejado, fica lá, no fundo do coração, algo como uma agulha, cutucando sem parar. Aí, a primeira reação, até de autoproteção, é se fechar, ou caminhar para outro lado. Vamos lá fazer outra coisa, procurar outro rumo, tentar encontrar outras gentes, inventar amores, trocar de amigos! Vamos evitar as lembranças do que deveria ter sido. Músicas, textos, objetos, fotos, tudo o que possar fazer lembrar o que não teve forças para ser é intuitivamente banido. É assim com 99% das pessoas, eu acredito.


Mas, depois de um tempo, se você é um pouco lúcido e tem amor-próprio, você permite que o que foi do outro volte a fazer parte da sua vida. Você se deixa levar pela nostalgia do que foi, mesmo que não tenha sido tudo o que você quis ou imaginou merecer, e se sente feliz por ter boas lembranças. Se você tem mesmo amor-próprio, dá um jeito de aproveitar o lado bom de tudo o que passou. Porque nem tudo é sempre totalmente perdido. Não dá pra ter raiva da vida só porque as coisas não andaram do jeito que você imaginou que deviam ser. Não dá pra se colocar da posição da coitada vítima.


Acho que estou nessa fase: mais nostálgica. Escrevendo mais, deixando voltar as músicas que eu aprendi a gostar, ou passei a gostar mais, lendo, revendo e analisando algumas situações... Tentando, principalmente, cumprir todas as promessas que fiz a mim mesma, mantendo a esperança na vida, enfim. Enquanto o tempo passa, eu vou desenhando o meu caminho. Parece piegas, mas a dor e o amor são sempre piegas.


;-)

sábado, outubro 25, 2008

Adeus, Bóris!

Ele teve que ir. Estava velhinho, doente, infeliz. Então, deixamos ele partir.
Não foi uma decisão fácil. Demoramos talvez mais tempo do que devíamos.
Mas, hoje cedo, depois de vê-lo tentar se arrastar no nosso quintal mais um vez, não deu mais para adiar.
Ele não sofreu. Uma injeção, ele dormiu e pronto.
Mais difícil foi ver aquele homem adulto e aquela menina pequena chorando.
Obrigado, Bóris, por tudo.

quarta-feira, outubro 22, 2008

Nua

Andei dizendo por aí que esse poema era da Elisa Lucinda. Me enganei. Não é. É da Isabel Machado. Correção feita, poema republicado. É um dos meus preferidos.

Porque me despes completamente
sem que eu nem perceba
E quando nua,
por incrível que pareça
sou mais pura.
Porque vou ao teu encontro
despojada de critérios
Liberto os mistérios,
mas sem perder o
encanto
Porque quando nua
sou única
e exclusivamente tua

;-)

sexta-feira, outubro 17, 2008

Dias loucos

A menina volta para o cativeiro, a pedido da polícia e o olhar atônito dos pais: é inimaginável.

O traficante ameaça resolver à sua moda, sem meias palavras: é assustador.

Nas ruas, Pms jogam bombas em policiais civis no bairro mais chique da cidade: é inusitado.

Na TV, o chefe de estado diz que tudo é uma armação política: é impressionante.

----------------------
Dias loucos como esse são os que eu mais gosto. Mal dá pra respirar, não dá pra relaxar, nem há tempo de pensar, refletir sobre a própria vida. O bom é o alheio, o bom é só o que está lá fora, trazendo adrelina aqui pra dentro. O melhor é que do resto de mim eu esqueço por algumas horas.

:-!

terça-feira, outubro 14, 2008

Transporte

A água quente cai na minha nuca, me arrepia e me transporta.
Eu não estou mais aqui.
Sou um corpo sem alma.
E ela, agora livre, está perto de você.
:

sábado, outubro 04, 2008

Dezessete horas fora do ar

E como pode ser possível acreditar que eu iria ficar tão feliz com uma agulha entrando na minha veia. Eu sentada numa poltrona, e a agulha sendo meu amuleto, minha sorte, minha paz. "Me faça dormir, querida, tudo o que eu quero dormir."
E dormi. Dezessete horas de sono, abrindo o olho aqui e ali, me esforçando pra prestar atenção em alguma coisa, mas dormindo. Dormiria mais, se não ouvisse o chamado. E eu também chamei.
"Te liguei porque ouvi você me chamando agora mesmo", me disse meu pai do outro lado da linha, me acordando, enfim. Quinhentos quilômetros de distância e ele me escuta. Isto está começando a ficar comum. Em menos de dois meses, é a segunda vez que ele me escuta pedindo socorro.
E, por mais que quisesse, não voltei pra cama. Não dava mais. Não eu. Vou carregar essa cabeça que está explodindo de dor por causa da falta da cafeína, nenhum analgésico será capaz de curá-la, mas eu vou sair daqui, enfrentar o trânsito e ir pro trabalho.
É isso aí. Acabou a vontade de dormir.
Agora, só tenho vontade de seguir....

:)

quarta-feira, outubro 01, 2008

Doce Bandido

Como uma coisa tão doce pode provocar tanta dor. Um simples pedaço de bolo de chocolate, símbolo da boa comemoração, foi capaz de acabar com minha noite e, com certeza, vai destruir o meu dia. Me fará ter como único desejo um tubo de soro direto na veia, deitada na maca de algum hospital.

;(

domingo, setembro 28, 2008

Uma encruzilhada

Pela manhã é sempre mais difícil. Não que eu durma mal. Na verdade, tenho dormido como uma pedra. Mas acordo cansada, como se tivesse lutado a noite inteira, correndo pelo mundo invisível atrás de fantasmas vivos ou de algum objetivo perdido e difícil. Acho que vem daí a vontade de não sair da cama. E levanto sem nenhuma esperança.

À tarde, as sensações se dispersam. O mundo corre muito rápido à minha volta e eu oscilo entre a certeza absoluta, o medo de estar apenas sonhando, me enganando, e o pavor não ter mais tempo para consertar o que parece perdido. Mas, ainda consigo conciliar a razão para lembrar que o tempo é infinito, que ele resolve tudo e tem a sua própria lógica. Nestas horas, me dá um insight delicioso, uma esperança infinita no futuro e a consciência de que, apesar de ter frustrações e problemas, sou feliz porque não fujo deles, quero conhecê-los, destrinchá-los, resolvê-los e enguli-los. De preferência, acompanhados de um bom vinho tinto. Não quero desistir. Me animo, destilo um pouco de doce veneno, de bom humor, vislumbro a luz no meu coração e tento me prender a ela pelo infinito.

Mesmo assim, já com um sorriso no lábios, não consigo pensar em algo para fazer. Parece que sem a força inspiradora da paixão do meu lado, a meu favor, minhas engrenagens estão emperradas. Tenho só o amor, a certeza do amor, mas ele, neste momento, parece um paquiderme envelhecido. Não tenho estratégia, não tenho objetivo a curto prazo, não tenho vontade de me movimentar para lado nenhum. Minha única vontade é deixar a vida passar e superar sozinha seus próprios limites. Só há um detalhe difícil, lembro: é a minha vida. E seria muito fácil se eu pudesse somente assisti-la, sem ser a atriz principal. Penso "tenho que fazer algo". Mas o quê? Não tenho forças. É uma encruzilhada.

À noite, no caminho para casa, tento lembrar de tudo o que passou, tudo o que passei principalmente nos últimos 20 anos, e como as coisas se resolveram ou não. Tento tirar experiências de dentro do que eu mesma fiz, de como eu agi e reagi. Fico lá, fazendo minha autocrítica, normalmente sendo mais rigorosa comigo do que mereço, mas não sentindo que havia um jeito diferente de fazer. Porém, há coisas que eu simplesmente não sei. E queria ajuda para saber.

Por isso, tenho me perdoado mais. E esperado. Sorte que não consigo desistir. Acho que essa é a minha melhor virtude. Não desisto de mim, de quem eu amo e nem do que eu acredito que seja verdade. Mas entendo que, nessa fase, a única coisa que consigo realmente fazer é esperar. Se estiver frio e eu tiver um cobertor, tanto melhor.

;-/

sábado, setembro 27, 2008

Só dormir

Então, é assim:

Tem dias que tudo, tudo o que eu quero é dormir.
... dormir ... dormir... dormir ... dormir... e dormir.
Dormir pra não acordar mais.
Ou para acordar outra, em outra vida, em outro mundo, outra dimensão.
Hoje é um desses dias.
Dia que eu estou tão cansada que até o ato de pensar é pesado.
Começa assim: acordo, ou melhor, abro lentamente os olhos de manhã querendo não ver a cor do dia. Teimo em ficar na cama, levanto por obrigação, me arrasco até quase meio-dia.
Quem me vê nem percebe. Mas eu estou me arrastando por dentro.
No trabalho, a irritação com o excesso do que fazer... sempre muito para poucos braços.
Mas, enquanto o dia corre, vou esquecendo o mau humor, mas me pego agindo meio que por impulso.
No meio da noite, a irritação volta a mil e no fim do expediente eu já quero sair correndo de lá.
E, de sexta, ainda é pior. Me pergunto: por que, sua estúpida, você foi decidir fazer inglês de sábado pela manhã?! Pra abraçar o mundo, é lógico! Pra provar que sou capaz de dar conta de tudo, e de todos, e também de mim mesma...
Hoje eu queria entregar as pontos. Não me digam: "Você está infeliz!", porque não é nem isso.
Só estou nem aí.
É a vontade de entregar o jogo, de ficar parada, de falar fui, essa eu passo por hora, vou deixar pra mais tarde, outro dia, outra vez, talvez. Agora eu quero descansar....
Seria tão bom conseguir parar de pensar!

:(

...

quinta-feira, setembro 25, 2008

Um frame em câmera lenta

Tudo foi muito rápido. Foi como um frame, uma foto, uma imagem que era pra ficar mesmo congelada na memória. Foram três, talvez quatro segundos, no máximo, eu não sei direito.
Mas, lembrando agora, é como se eu estivesse em uma cena em câmera lenta. Será possível um frame em câmera lenta? Ali era. E, num pause eu tento observar melhor os detalhes, e dou então o play again, vamos adiante.
Eu estava muito distraída. Difícil isso. Estou sempre atenta ao ambiente, multiplicando meus olhares pela rua, tentando enxergar tudo o que está à minha volta. Mas, naquele instante, eu estava andando muito devagar, com um panfleto na mão, vislumbrando um sonho que persigo.
Então, ali, quase parada, completamente absorta, eu escutei que me chamaram. Mas não ouvi nenhum som. Foi um grito mudo, mas tão certeiro que meus olhos se viraram diretamente para o local exato de onde vinha o som.
Sei que foi num susto que ele me viu. E ele não quis me chamar. Mas, quando virou a esquina, e me encontrou lá, quase parada, sem percebê-lo, instintivamente reduziu a velocidade. E, por dentro, falou meu nome tão alto que eu, mesmo sem escutar, não pude deixar de ouvir. E me virei diretamente para ele, sem precisar procurar.
Com o canto dos olhos, queixo voltado para baixo e o corpo na outra direção, eu o encontrei com o olhar. E o avistei também num susto. Estava lá, como eu, quase parado, sentado no carro, marcha reduzida, disfarçando, fingindo não me ver atrás de lentes escuras. Achei graça.
Nenhum de nós disse nada. Nenhum de nós parou de fato. Talvez porque não tivesse como parar nem o que falar. Ele simplesmente voltou a acelerar, desconcertado. E eu não consegui ver uma forma para voltar.
Seguimos os dois para frente, em direções de novo opostas (nosso destino?), tentando imaginar se um dia os nossos caminhos vão de novo se cruzar.
Ou, talvez, tentando imaginar um jeito de um dia os nossos caminhos de novo se cruzar.
...

A cor rosa

Hoje eu li em algum lugar algo que gostei sobre a cor rosa.
Ou melhor dizendo, sobre a luz rosa.
Diz assim que você pode enviar, pelo pensamento, a luz rosa para alguém, e que ela significa o "amor incondicional".
E que, ao fazer isso, você também pode "dizer" a essa pessoa, mentalmente:
"Eu amo você. Eu desejo a você tudo o que existe de bom e puro no universo."

Bem, acho que estamos no caminho certo.

...

segunda-feira, setembro 22, 2008

A Primavera e o Sol

Ainda bem que chegou a Primavera e com ela veio o Sol.

Ainda bem que eu não me canso de escrever e aprendi a ter paciência.

Ainda bem que sempre tem alguém aí, a me espreitar.

Ainda bem!

:)

sábado, setembro 20, 2008

Risquem essa palavra

Para as mulheres que eu amo


Tem algo que eu quero dizer pra vocês: risquem do seu dicionário a palavra "infeliz".
Porque "infeliz" é tudo o que nós não somos.

Acompanhem o que meu raciocínio:

"Infeliz" é a qualidade da pessoa amarga, sem amigos, rigorosa demais consigo mesma.
"Infeliz" é quem não consegue rir dos próprios erros, não consegue ver além do próprio umbigo.
"Infeliz" é quem tem medo do caminho só porque ele parece difícil e, assim, desiste.
"Infeliz" é quem não conhece nenhum tipo de solidariedade. É quem nunca explode.

Não somos assim.

Por isso, risquem essa palavra horrível, que nunca vai se encaixar nas nossas vidas.
Porque, vez ou outra, podemos estar tristes, confusas, solitárias, com medo e até desesperadas.
Mas "infelizes" nós nunca, nunca mesmo, conseguiremos ser. Ainda bem.

:-)

Proposta sem dor

Eu sei que o que eu me proponho a fazer é difícil.
Terminar aos poucos, desatar nós sem quebrar os fios nos obriga a ser delicados, cautelosos, vagorosos, pacientes.
Mas algo me diz que é esse o caminho certo, mesmo que para a grande maioria das pessoas seja um objetivo muito improvável de ser alcançado.
É que não aceito a existência do improvável simplesmente porque também não aceito o impossível.
Então, combinamos: vamos conversando, acertando os pontos, limando as arestas e, quando a gente menos esperar, estaremos lá.
Eu já dei alguns passos, tive a iniciativa, chorei de medo, mas não embarquei na dúvida.
Ele começou cambaleante, mas agora me segue, talvez me alcance, talvez me ultrapasse, porque ele é muito melhor do que eu.
Acho que o resumo é isso: a separação sem dor, sem rancor, só é possível onde há amor.

segunda-feira, setembro 15, 2008

Datas pra não esquecer

Ele saiu apressado hoje. No fim do dia, estava lá, ansioso, querendo acabar logo com o trabalho e sair correndo.
"Sabe, Vivi, é que hoje é meu aniversário de casamento. E, pôxa, eu esqueci de manhã! Por isso quero chegar em casa logo...."

Achei engraçado aquilo. Eu quase o invejei. Mas não cheguei a isso.
Parei mesmo foi pra pensar que nunca tive uma data assim, pra comemorar.
Nem eu e nem o Mauro nunca nos importamos com isso.
"Mauro, afinal, começamos a namorar no dia 17 ou 19 de dezembro? 88 ou 89? E o casamento? Foi 12 de fevereiro ou 11 de qual ano mesmo? Acho que foi 2000"
Só sei a data que mudamos pra casa: 12 de setembro de 1994, mesmo dia que comecei a trabalhar no Diário (E já abro um parênteses: não disse que a gente não liga pra datas? Nem lembramos este ano! Agora, exatamente agora, que me dei conta: fez 14 anos na sexta-feira passada!).
Mudança de vida radical foi aquela: comecei a trabalhar no novo emprego de "ripórti"e passei a morar com um cara exatamente no mesmo dia. Era uma segunda-feira.

"Mãe, vou dormir hoje na casa", avisei por telefone.
"Mas, hoje, filha? Já?"
"Mãe, como já?! Até compra de mês a gente já fez. O colchão chegou. E o Mauro vai dormir lá. Então, eu passo aí, pego só algumas roupas e vou prá lá!"
"É, tá certo... Então, tá!"

Foi assim o meu "casamento". Sem festa, sem convite, sem bem-casado.
Nunca trocamos um presente nestas datas. Mais comum a lembrança no fim do dia, ou dias depois: "Ahn, foi ontem que fizemos aniversário de namoro?"
Se me sinto infeliz ou triste ou frustrada com isso? Nem um pouco. É só uma constatação curiosa da vida que eu resolvi viver.
Acho que isso tem a ver também com como construímos esse relacionamento. Sempre mais como um namoro, que caminha para a amizade, para o companheirismo. "Somos colegas de quarto", eu costumo dizer.
Estranho falar "meu marido". Estranho ouvir "minha mulher". Prefiro ser "a Vivi". Digo "meu marido" só quando quero dispensar vendedores chatos. "Ah, moço, desculpe, mas tenho que consultar meu marido...", reforço o tom na hora de falar as palavras meu e marido e eles desistem. Me divirto com o quanto eles são ridículos. Acreditam, sem questionar. Afinal, neste mundo machista a mulher ter que consultar o homem da casa pra poder comprar é mais comum do que se imagina.

Mas, voltando ao meu colega, que encomendou flores às pressas pra mulher e se sentiu culpado por esquecer...
Agora, neste exato momento, eu torço pra ele estar bem feliz, na cama, ao lado de dela, curtindo mais um ano de casamento.

Eu não tenho a data, mas acho o máximo que tem, e curte, e se sente bem e feliz com alguém.

:-)

quinta-feira, setembro 11, 2008

Eu velhinha

Não é sempre, mas às vezes eu me pego pensando em como eu estarei quando estiver assim, bem velhinha. Sentada numa poltrona, fazendo crochê, bordando ponto cruz?... Bom, coisas novas pra aprender...
Me vejo assim, leve, despreocupada com o que eu não consegui fazer na vida. Talvez sozinha, eu não sei, nisso eu não penso, nem vislumbro nada.
Mas de bem comigo, sempre. Sabendo que eu tentei, e tentei, e tentei do jeito que eu podia e sabia fazer aquilo que achava certo em cada um dos trilhões de momentos que tive. Não quero pecar por falta de empenho, de vontade, de amor e de alma. Nem por birra, por medo ou por rancor.

Acho que tenho pensado nisso porque tenho conhecido gente muito rancorosa, que me choca. Carregando pesos eternos de problemas passados tão pequenos. Dando valor demais ao que é passageiro e insignificante. Gente que só olha pro próprio umbigo. E que perde o presente e amarga o futuro sem nem ao menos tentar entender. Dessa gente eu tenho medo.

É. Ando ainda mais pensativa ultimamente. Tentando alcançar sonhos sem perder os pés do chão. É um esforço e tanto. Mas páro, escuto o meu coração e penso: vamos lá, este é que é o caminho certo.
É como a poesia que canta Ney Matogrosso. "O que me importa é não estar vencido... minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos... minha alma cativa".

Quero ficar velhinha, assim, sem me arrepender de nada, incorporando cada passo da minha vida na minha vida.
Ficar velhinha sabendo que eu sempre fui além de mim!

domingo, setembro 07, 2008

Cléo e Théo

A farra do dia hoje foi o namoro da Cléo com o Théo. Namoro arranjado, devo dizer. Queremos filhotes.
Ela gosta dele, ele gosta dela, são da mesma raça, os dois virgens, pretinhos e alegres.
Mas ele tem um defeito difícil pra ela encarar: é enorme! Um cão amoroso, mas pesado, desajeitado, que não sabe como chegar naquela menina miudinha, delicada e leve como uma pluma.
Os dois têm a mesma altura e comprimento, mas a largura é desproporcional. Eles brincam e brincam, e mal latem um para o outro quando estão brincando, deitam e e rolam, até a hora do vamos ver... e a coitada desaba. Literalmente cai! E late de raiva, mostrando os dentes pra ele: "Vai com calma!"
O dia começou com a gente indo levar a Cléo pra casa do Théo. "No território do macho é mais fácil!", alguém nos disse.
No sábado, os dois já haviam passado a tarde em casa, mas nada... Mas hoje, enquanto estávamos na padaria tomando café da manhã, ela ficou lá na garagem dele, grudada na grade, se sentindo refém: "Mãe, Bia, me tirem daqui!", parecia que gritava quando nos viu de volta. Decidimos, então, levá-lo pra brincar na nossa casa: "Sabe como é, no quintal grande, com mais espaço, os dois podem se acertar!", eu disse pra 'mãe' do menino.
O dona do Théo também estava animada com o encontro. "É que também não aguento mais. Só ando de calças compridas agora! Ele não para de grudar nas minhas pernas!", me disse, com um sorrizinho.
Mas, ao mesmo tempo, a senhora, que tem lá seus 65 anos, se sentia meio traída por ele. "Ontem, quando ele voltou da sua casa, ficou tão deprimido... É por causa dela. O Théo sempre deita comigo de noite, mas ontem não quis nem saber de mim. Eu chamei e ele só ficou lá, no canto. É que nem filho, sabe? Quando arruma uma namorada esquece da mãe!"
"É, deve ser isso mesmo!!!", eu respondi, me divertindo.
Em casa soltei os dois no quintal. Mas o moleque é tão gordo que nem conseguia subir a mureta que a Cléo pula com a maior agilidade. E parece tão atrapalhado que entra com as quatro patas dentro do pote de água. "Deve ser o calor", eu penso, enquanto a Bia não pára de rir.
Uma tarde toda e eles ficaram lá, entre tapas e beijos. Mais nada... nada mais sério.
No fim da tarde, o garoto já estava ansioso pra voltar pra sua casa.
"Olha, não deu certo hoje de novo. Amanhã a gente pode tentar de novo! E ele parece que já estava esperando a senhora aqui na porta! Tava ansioso mesmo", eu disse pra 'mãe' dele, quando ela chegou pra buscá-lo.
"É que esse cachorro não me larga. É muito grudado em mim, não te disse!", ela respondeu, feliz da vida.
Pelo menos traída a senhorinha não vai se sentir mais.

sábado, agosto 23, 2008

O que é a paixão, doutor?

O terapeuta familiar Robert Neuburger afirma que esse sentimento altera a percepção da realidade*

Marie Claire - O que é a paixão?
Robert Neuburger - É o abandono da vigilância. A paixão invade, pode fazer com que você negligencie os filhos, o trabalho, tudo. A paixão se organiza dentro da ansiedade e da urgência. O sentimento primordial é a necessidade absoluta do outro.

MC - O que provoca esse estado? O encontro com alguém especial?
RN - Não, esse estado precede o encontro com a pessoa que vai se transformar no objeto da paixão. Corresponde à necessidade de se sentir vivo. Geralmente, as pessoas se apaixonam quando estão se sentindo mal, insatisfeitas consigo mesmas e com os outros. Nessas situações, uma paixão faz a pessoa sentir que está vivendo intensamente. Claro que não se pode negligenciar a escolha da pessoa por quem se vai ficar apaixonado, mas o mecanismo passional vem antes. É acionado quando começamos a desejar algo que nos traga uma nova energia vital. A paixão toca no que existe de mais profundo na existência de cada um. É uma autoterapia excelente e um antidepressivo muito eficaz.

MC - É raro a paixão durar.
RN - Ela está ligada à vida e à morte. Ter amado passionalmente permite aceitar a morte. Mas não se deve ultrapassar a dose. Há um aspecto mortífero na paixão. Os apaixonados tendem a ir além de suas forças, com uma percepção alterada da realidade. O resto do mundo não existe mais, e isso não pode durar para sempre. Depois, tudo vai depender da maneira como a pessoa aterrissa: devagarinho, com lembranças maravilhosas, ou com amargor e arrependimento. A menos que a paixão se transforme em amor duradouro. E aí começa outra história.

* Por Isabelle Maury, da Marie Claire França
Tradução: Ana Ban

sexta-feira, agosto 22, 2008

Na minha nuca

Elas ficam lá, sentadas, balançando as perninhas, cada uma em um ombro meu, discutindo a minha vida, decidindo o meu destino. Se eu deixar, elas fazem minhas ligações e assumem a minha fala.
Uma se veste com um anjo bom, toda de prata. A outra usa uma roupa marrom escuro, meio avermelhado, brilhante também. Uma fala assim:
- Ele não te ama, ponha isso na sua cabeça!
A outra replica:
- Ah, ele a ama sim. Tenho certeza!

Uma me dá bronca:
- Você já andou tanto pra frente! Não vai recuar agora, né?
E a outra argumenta e passa a mão na minha cabeça:
- Tá querendo pensar mais? Pensa, você faz bem...

Eu adoro é ficar de fora da conversa delas, elas brigando debaixo do meu nariz, ou atrás do meu pescoço, na minha nuca, e eu só observando. Olho pra uma e depois pra outra, às vezes rindo, outras brigando: "Dá pra parar de falar você duas?"
Não adianta. Meu protesto é em vão. Elas nunca páram. Ainda bem.

- Muda de cabelereiro e faz um corte bem fashion!
- Não, não, deixa ele crescer!
- Ficaram ótimos estes óculos.
- Na verdade, acho que você escolheu mal.
- Eu te disse que isso não ia dar certo!
- Ela fez o que achou que devia!
- Chuta o balde!
- Vai com calma.
- Liga.
- Desaparece.
- Confia.
- Desiste.
- Esquece.
- Insiste.

Elas se parecem mesmo com o anjo e ao diabinho dos desenhos animados, a boa e a má consciência de cada um. Nunca sei direito quem é quem. Elas vivem trocando de lugar. A prateada fica marrom. A marrom fica prateada. Depois, quando presto atenção de novo, voltam como num estalo ao seu outro estado. Só sei que nenhuma delas é má de coração. E nenhuma é boa demais. Mas sei que as duas só me querem bem.

-

Papo cabeça

- E aí, fofa? Que cara de desânimo é essa. O que fez na folga?

- Nada demais. Só dormi, andei e trepei!

- Orra! E quer melhor?

-Ép! Acho que tá bom, né?

...

quinta-feira, agosto 07, 2008

Uma noite sem fim

Nem sei bem que horas são. Mais de uma, talvez duas, um silêncio, nenhum cheiro, uma luz acesa no corredor. Entrei quieta, a cabeça rodando, a bixiga explodindo. Na minha cama, ela dorme com o pai. Eles nem percebem que cheguei. Quero ir ao banheiro, estou com sede, o estômago está virado, mas não vou vomitar. Não é pra tanto. Sem acender a luz, entro no quarto pé ante pé para pegar o pijama, quero uma cama, mesmo que não seja a minha. Deito no quarto cor de rosa de criança, na minha velha cama de solteira, e tento colocar em ordem a noite.

A festa foi boa. Cheguei só, de táxi, minha amiga na porta à minha espera, vamos beber que é por isso que estou aqui. Conhecidos, beijos, oi, tudo bem, me dá cá um abraço, cadê a cerveja?

No pátio aberto, quem está faz apenas o social. Já sabe tudo o que vai rolar lá dentro, o que vai ser dito e o porquê. Lá dentro, um monte de gente, muitos interessados, outros quase dormindo, o pessoal que foi mesmo trabalhar.

Olha aqui: esta é minha amiga, jornalista. É, eu sou, mas estou de férias. Onde é que vende a cerveja? Tem trocado? Nossa, quanta gente! Tudo bem, daqui a pouco isso aqui acaba e gente estica. Você que ir pra onde? Tanto faz, hoje eu estou por sua conta. Viu aquele cara? Ele é interessante. Não é o seu tipo? É, não achei, não. Meu Deus, você por aqui? Você vê, por mais que queira sair do ABC, acabo voltando pra cá. Que saudades. Olha, essa aqui é minha amiga, minha "cumadi". Então é você, sempre quis te conhecer. Estou com fome, tem churrasco aqui? Lá fora, vamos lá.

Vou comprar mais uma e elas somem. Quando vejo, estão as três, num canto em pé, conversando um monte, em uma rodinha bem feminina.

Pergunta: o que falam mulheres maduras reunidas numa rodinha quando se encontram?

De seus homens, claro.

Ainda está com ele? Sim, é meu terceiro marido. Não sabia que tinha tido um segundo. Ah, eu lembro agora, ele era o homem mais lindo da redação. Lindo mais cruel, querida, muito cruel. E você, há quase 20 anos com o seu. É, pra você ver. Mas não quero mais dar pra ele. É, daí é difícil. Eu quebrei o cabaço e fui num sexshop comprar umas coisinhas. Mas meu namorado se nega a usar... Que babaca ele, não? Se fosse um homem mais velho usava. E eu que separei ontem e faço 40 amanhã. Estou arrasada... Aquele ali é um escroto, falso que só. Chega. Vamos? Um beijo, vamos sair mais dia desses, parabéns, coragem. O celular tocando na bolsa.

Cadê meu celular? Atende aí? Já estamos aqui, vocês não vêm?

No boteco tem mais mulher madura, com homens maduro, outros nem tantos, meninas, bichas e tudo o mais. Mais cerveja.

Me dá um croquete, vamos sentar lá fora, arruma umas mesas. Já estou aqui, sentada, esperando vocês. Tem algo melhor pra comer aqui? Come a batata assada que é mais saudável. Então dá uma, com berinjela que eu adoro.

Pergunta: o que falam mulheres maduras com homens maduros reunidos numa mesa de bar?

Das outras mulheres maduras que não estão lá. E falam também de seus ex-maridos, e filhos, e namorados. E dão pitaco na vida de quem está na mesa.

Não dá pra entender o que aquela lá tem que atrai tanto homem. Porque ela é muito feia, é vulgar, ninguém gosta dela. É, mas o fulano disse que até aquele outro, aquele bonitão meio gordo, pagava um pau por ela. Não acredito, ele parece tão inteligente. E ela mesma me disse que o cara era pegajoso, mas pagava algumas contas pra ela, então, tudo bem, ela aguentava ele. Outro dia, nem te conto, sumiu num bar e quando voltou disse que tinha ido dar uma. Ali mesmo, no meio do bar? Não sei, acho que sim. O maior bafão. Conheço você de uma festa, sou amigo do seu amigo. E ele, é viado ou não? Não sei. Já viu ele com mulher. Nunca, mas nem com homem. É, mas o cara é muito boa gente. E vocês, são skinheads? Carecas do ABC? Pô, não ofende. Esse aí, querida, não combina com você. O outro lá é melhor. Sempre fui assim, louca, batalhei pra criar meus filhos. Vamo'mbora que meus filhos não param de ligar. Pede a conta, eu deixo vinte, tchau.

Deitada em casa tudo isso vem sem muita ordem, até que eu durmo. Durmo? Não. Eu acordo de hora em hora, a madrugada não acaba. Levanto, bebo água, vou ao banheiro, deito de novo. Com frio, me cubro pra pouco depois chutar o edredon. Cinco horas, cinco e meia, sei lá, o despertador toca. Ele acorda pra ir trabalhar. Não tem a curiosidade de olhar no outro quarto, será que ela está aí? Com certeza está, as botas estão no corredor, a roupa jogada no banheiro. Ele assume o banheiro e eu continuo deitada. Ele sai do banheiro e eu não aguento, levanto, vou pra cozinha.

Bom dia. Bom dia. Fez café? Fiz.

Uma xícara, duas. Vou comer torrada com geléia e manteiga, tudo diet, tudo light. Vou esquentar o leite, tomar com café, perdi o sono. Ele se toma banho, se troca, eu ainda na cozinha, comendo e lendo o Unidade. Li inteirinho. Vou ao banheiro, palavras cruzadas. O dia ainda escuro. Ele sai e o sono não vem. Meu Deus, essa noite, essa balada não acaba. Tá, vou ler mais, na sala agora, escolho um livro velho, leio a dedicatória "Nós não queremos mais o paraíso, mas continuamos dispostos a continuar reencarnando", escolho um conto. Deu errado. Não veio o sono. Só mais e mais excitação. Preciso dormir, vou tomar mais café com leite, e mais um, e mais torrada. Vou deitar com ela, na minha cama, eu a abraço de costas e consigo dormir. São sete e meia.
:-/

terça-feira, agosto 05, 2008

Beijo de língua

Ele não parava de olhar para mim. Parecia enfeitiçado. Desde a hora que eu cheguei, ele ficou lá, parado e me encarando, suspirando e me seguindo a cada movimento. Nem a Bia no meu colo o intimidava. Bem pelo contrário: quanto mais eu a abraçava e beijava, mais ele suspirava. Seus olhos brilhavam e pareciam encher de lágrimas.

"Bia, ele está com ciúmes de mim com você. Mas não tem motivo. Não sou nada dele. Quase nunca me vê. É tão difícil eu vir aqui", eu disse.

Então, só para testar, a Bia resolveu sair do meu colo para deixar o caminho livre para o garotão. Sem tirar os olhos dele, e com um sorrizinho maroto nos lábios, ela se sentou ao meu lado meio escondida e ficou esperando a reação dele. A Bia queria ver o circo pegar fogo.

O menino não perdeu tempo. Deu o primeiro e o segundo passos e, na seqüência, colocou sua pata esquerda e pesada no meu colo, depois a outra, e começou a avançar sobre o meu peito. Em segundos o bocão negro dele estava a um centímetro do meu nariz! Eu afastei o meu rosto, gritando.

"Vítor, socorro! Tira o Angus daqui porque ele quer me dar um beijo de língua: vai me lamber! Argh, que bafo!"

O boxer nunca mais me perdoou. Ofendido, foi sentar no seu tapetinho bordado à mão, de costas para a gente, e durante o resto da noite não olhou mais para mim. Que cachorrão mais temperamental! Magoou de vez! Mas até que devia ter aceitado o beijo de língua que queria me dar. Foi o único que me ofereceram aquela noite.
;-(

domingo, agosto 03, 2008

Registro

Expectativa, desejo. Desejo, expectativa. Qual é a ordem certa disso? Não há. O certo é que tudo é tão dinâmico. Tudo é tão desânimo. E brincar com desejos e expectativas parece tão fácil. E se faz tanto disso que parece até uma aposta: eu vou porque vou provar pra você que isso não existe. O que você sente não existe. O que você quer não existe. O que você acredita não existe. Eu não existo. Percebeu, garota? Constatação: o lado duro da vida está vencendo. Você tem razão. Eu estou ficando mais dura. O que se sente, mesmo sem querer, está mudando. O que parecia tão certo agora está calejado, desconfiado, cansado.

Entristecido, porém. Ninguém quer saber mais disso. Pra quê? Uma punheta basta. E de porre. Mas uma só. Mais que uma dói a mão. Dá trabalho.


Ontem cantaram Sentimental pra mim. Tenho que cantar e cantar pra não desistir. Não desistir de mim. E tentar transformar o sentimento. De novo. Geminiana eu sou. E esse é o meu desejo


Sentimental, sentimental
Um coração saliente
Bate e bate muito mais que
sente
Fica doente
Mas é natural, natural
Que num cochilo de agosto
Surja um outro alguém do sexo oposto
Do sexo oposto, outro alguém

Ontem vi tudo acabado
Meu céu desastrado
Medo, solidão, ciúme

Hoje eu contei as estrelas
E a vida parece um filme
Gemini, gemini, geminiano
Este ano vai ser o seu ano
Ou senão, o destino não quis
Ah, eu hei de ser
Terei de ser
Serei feliz
Serei feliz, feliz
Façam muitas manhãs
Que se o mundo acabar
Eu ainda não fui feliz
Atrapalhem os pés
Dos exércitos, dos pelotões
Eu não fui feliz
Desmantelem no cais
Os navios de guerra
Eu ainda não fui feliz
Paralisem no céu
Todos os aviões
É urgente, eu não fui feliz
Tenho dezesseis anos
Sou morena clara
Atraente
E sentimental.




terça-feira, julho 29, 2008

Em suspenso

É bom ficar assim, em suspenso, desconectado, fora do ar, sem ligação com o mundo.
Não que eu estivesse em um lugar completamente isolado. Mas não tinha net em casa, lá não chega jornal e, assistir a um mundo pela só TV é como viajar sempre por um mundo irreal.
Como acreditar inteiramente no que diz o Datena, o JN ou a Marcia Goldsmith??
Os dias lá são cheios de crianças, sorvetes e doces.
As tardes repletas de páginas e mais páginas de livros. Há tempos não lia tanto.
E o calor não estava insuportável.
Santo descanso. Nunca foram tão boas as férias.
Nem no frio do Sul, nem nas praias do Nordeste.
A simplicidade me conquistou este ano.
Por uns dias, deixei de ser eu.
Mas, bem, estou de volta.
Mãos à obra!
.

domingo, julho 13, 2008

Já estou com saudades

É, você está certa.
Só com amor é possível querer continuar.
Sem esse afeto que já estava lá antes de tudo, e que sobrevive ao tempo e à toda palavra amarga, não teria como ouvir, se magoar e mesmo assim estar disposta a retomar.
O bom disso tudo é que a gente aprende a reconhecer o que realmente importa.
E aprende a esperar o tempo de cada um.
Porque, se eu demorei a perceber, não posso exigir a rapidez do outro.
Já estou com saudades.

domingo, julho 06, 2008

Crescendo

Outro dia ela me ligou no celular, feliz da vida:
- Mãe, mãe, adultos não ficam um tempão no telefone?? Então, hoje eu fiquei falando um tempão com as minhas amigas no telefone, mãe...
- E daí, Bia?
- Fiquei um tempão com uma e depois com outra... Que nem um adulto! Não é legal??
Seu programa preferido na TV se chama...
Rebeldes,
ela diz que adora fazer...
compras,
e já escolheu as roupas que hoje são minhas e que, quando ela crescer, quer que sejam dela... Estão lá todos os meus sapatos altos...
E, quando está só, ela diz que tem... tédio!
Agora, ela descobriu a flauta doce. Meus ouvidos andam doendo.
De verdade, me surpreendo a cada dia. E é delicioso...
Estou adorando esta fase da Bia!

domingo, junho 22, 2008

A história da Helô (Parte 1)

----Introdução

Tudo bem, vou escrever uma história triste, mas é uma história que tem que ser contada um dia.
Não estou sofrendo, não estou remoendo, não cai em depressão por causa disso, mas não nego que traduzir o que passa na minha alma e na minha mente em letras legíveis alivia o meu espírito. É como tornar concreto o pensamento. Ele fica palpável, ao alcance da minha mão. E eu o supero. Então, vamos lá. Peguem seus lenços de papel.

----Parte 1

Quando cheguei lá ela já havia partido. Eu soube exatamente o momento. Primeiro veio o telefonema: "Vi, vem pra cá que a Helô está internada."

Sai do jornal como uma louca, e segui a pé em direção ao metrô, mas não andei nem 20 metros e a minha própria cabeça girou. Era como se eu, no meio da multidão anônima, estivesse sendo observada por todos. Uma zueira no ouvido, uma falta de sentido de direção e a certeza de que não era possível seguir a pé. Voltei pra trás, pro jornal, e pedi por favor um carro (Dias depois percebi que foi exatamente neste momento de angústia e de vertigem que ela partia) .

O motorista foi pronto e seguimos correndo pro hospital. Há oito anos, celular era uma bosta e nem todo mundo tinha. Mas consegui ligar pro irmão do Mauro, que passou o telefone pra ele. Não sei que horas eram, mas era de tarde, o fim da tarde. O carro voava na avenida dos Estados e o Mauro do outro lado da linha:

"Como ela está?", perguntei.

"Vi, vem pra cá", ele respondeu.

"Eu tô indo, mas como ela está?", insisti.

O silêncio, a certeza:

"Mauro, ela morreu, não foi?"

Foi assim que eu soube. Por telefone, no meio da Avenida dos Estados, entre São Paulo e São Caetano, num sabadão de plantão, início de um fim de semana prolongado de Sete de Setembro, ao lado de um estranho.

O motorista era um negro alto, enorme, nem lembro o nome, daqueles que parece que só podem ser contratados para fazer segurança de show. Sem olhar pra ele senti que seus olhos marejaram. Os meus estavam secos. Ainda. Ao meu lado, ele expressou uma raiva misturada com pena, e uma vontade de fazer algo a mais por mim... Mas aquele gigante não sabia o que fazer (Ninguém saberia). E fez o que achou útil. Acelerou.

Então, eu disse:

"Pode ir devagar. Agora não adianta mais correr."

E não trocamos mais palavra. Era 4 de setembro de 1999.
Continua em algum dia.

quinta-feira, junho 12, 2008

42 lágrimas

E nem as 42 lágrimas que eu derramar por você hoje vão poder redimi-la, minha querida.

Nem o meu suor, nem o meu sexo,
nem o meu fluido, nem o meu gozo,
nem o meu amor.

Nada de mim hoje será nosso.
Nada de mim hoje vai lhe bastar.
Nada.

Talvez amanhã.
Mas talvez nunca mais.

terça-feira, junho 10, 2008

Outra dimensão

Se eu pulo e corro na água sem sair do lugar,
fecho os olhos e, com a música ao fundo,
saio do chão.

Eu flutuo.

É como se eu pudesse deixar lá o meu corpo
e sair para outra dimensão.

Eu volito.

E, conforme me movimento sem sair do lugar,
também se movimenta o Som.

Ele não está mais à minha frente.
Ele está à minha volta, ao meu redor.
Eu o Sinto e o percebo sobre a minha cabeça,
nas minhas costas,
como que rodando e roçando o meu corpo.

Entro em êxtase. Páro de respirar por instantes.
Abro os olhos.
Onde estou?
Onde estão todas as outras?

Olho para trás e lá estão elas, viradas para frente,
prestando atenção ao que ele diz.

Me volto, meio constrangida, mas feliz.
Estou inteira. Estou íntegra. Estou aqui.
Ninguém percebeu minha viagem particular.

Continuo pulando e correndo, flutuando na água,
mas agora de olhos abertos, olhando pra frente,
olhando para dentro, olhando para mim.

sexta-feira, junho 06, 2008

Em paz

Nem acredito que a semana acabou. Ela quase acabou também com meu relógio biológico.
Já tinha desacostumado a acordar de madrugada, sair de casa antes do sol raiar, me encher de cachecol e gorro para enfrentar o gelo da manhã desse começo de inverno, pedir pão com manteiga e pingado pro Régis...
É bom variar a rotina de vez em quando.
Mas, o melhor de tudo é sair do jornal com o dia ainda claro, poder curtir o entardecer e até arriscar beber umas, jantar fora com a moçada e ter chance de dormir na cama de casal abraçando a Bia "nas costas", como ela diz...
É! é bom mesmo mudar a rotina.
Hoje, sexta-feira, estou destruída. Meus olhos pesam, já decidi dar o nó na aula amanhã pra fazer tudo o que preciso e ainda encarar o plantão, mas tudo bem.
Adoro me sentir assim, em paz...

Mario Quintana

CURIOSIDADES

O dicionário de Mario Quintana...

"Deficiente" - é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as
imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de
que é dono do seu destino.

"Louco" - é quem não procura ser feliz com o
que possui.

"Cego" - é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de
fome, de miséria. E só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.

"Surdo" - é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo,
ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer
garantir seus tostões no fim do mês.

"Mudo" - é aquele que não consegue
falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.

"Paralítico" - é quem não consegue andar na direção daqueles que
precisam de sua ajuda.

"Diabético" - é quem não consegue ser doce.

"Anão" - é quem não sabe deixar o amor crescer.

E, finalmente, a
pior das deficiências é ser miserável, pois "Miseráveis" são todos que não
conseguem falar com Deus.

...
Bem, nesta última parte eu faço um aparte. Deus aí pode ser algo como "coração", já que nem todo mundo é obrigado a acreditar em um Deus, mas coração e intuição todo mundo tem.
...

terça-feira, maio 27, 2008

Roberto Freire

Duas boas frases de Roberto Freire, escritor e terapeuta que morreu aos 81 anos no último fim de semana. Uma singela homenagem...

"Do amor pode-se fazer uma necropsia, nunca uma biópsia. Se eu examiná-lo,
paro de amar. O amor não é para ser entendido, mas sentido, experimentado."

Entrevista à Folha, em 2003


"...quando se ama, não se está pensando em segurança, duração, controle, posse,
pois isso corresponde à forma com que o autoritarismo capitalista familiar ou de
estado se expressa no plano pessoal e afetivo. Se sou um libertário, desejo que
tanto eu como meu parceiro vivamos o amor em liberdade, na emoção, no espaço e no tempo. É o amor em sí mesmo que comanda a intensidade, a beleza, a forma e a
duração do nosso amor, em cada um e entre os dois, jamais o contrário."

Do livro Ame e Dê Vexame, de 1990

quarta-feira, maio 21, 2008

Bruxas e Bruxinhas

- Bia, eu sou uma bruxa, você sabe! - eu provoco a menina, sem dó nem piedade, desde que ela começou a entender o que é uma bruxa.

Antes, ela chorava de verdade, lágrimas escorriam do seu rosto.
- Não é não, mãe, não é!

- Mas, Bia, eu sou sim. Até nome de bruxa eu tenho, sabia? Viviane, nome de bruxa, bruxa! E você é uma bruxinha!!!!

- Pára, mãe, não sou, você não é bruxa! - ela brigava e vinha me empurrar. E eu, má como só uma bruxa, ria e ria e ria.

Esta semana estamos lá, lendo um livro deitadas da cama. Livro sobre uma festa em que só podiam ir bichos, fadas e.... bruxas.

- Oba, eu posso ir. Afinal, sou uma bruxa, você sabe!

E recomeça a ladainha.
- Não é!
- Sou!
- Não é!
- Sou!

Então, ela percebe que pode mudar o jogo. E faz o desafio.

- Se é, faz então desaparecer a.... - ela procura algo pelo quarto - esta televisão!

Me surpreendo, já orgulhosa. E não perco rebolado. De fato, penso: "Ela está crescendo."
- Fácil, fácil!

Movimentos de mão teatrais, palavras "mágicas" inventadas na hora, olhar fixo na TV e, tcharam!!!!

- Viu? A televisão sumiu! - fantasio.

- Ah, mãe, sumiu nada. Olha a televisão aí? - aponta rindo.

- Só você que está vendo a TV aí, Bia. Pra mim, ela sumiu!

- Ahhh, tááá!! Então, eu sou uma bruxinha mesmo. Porque sou a única que tô vendo ali televisão que você acabou de fazer desaparecer!!

É, ela tá crescendo mesmo.

domingo, maio 11, 2008

Trocando as telhas

E, agora, que a tempestade passou, que a água abaixou e deixou a casa, e que o céu vai ficando claro, o que é que a gente vai fazer?


Vamos varrer o quintal, colocar as folhas e os galhos que caíram das árvores em um saco plástico e deixar lá fora para o lixeiro levar?


Vamos tirar a lama e secar o térreo da casa, que inundou, colocar os móveis nos seus lugares?


Secaremos as vidraças, abriremos as janelas para o ar entrar e expulsar daqui o cheiro de cachorro molhado?


Lavaremos as roupas que se molharam e mofaram e vamos colocá-las no varal para elas secarem ao sol?


E, finalmente, subimos no telhado para trocar aquelas telhas quebradas? Por causa delas, uma goteira se formou bem em cima de nossa cama, o colchão encharcou e nem dormir juntos a gente pode. E, engraçado, que minha prepotência nem deixou eu imaginar que existiam telhas quebradas no nosso telhado. Estou com saudades do seu calor.


Podemos, sim, fazer tudo isso. Tem só que sair dessa paralisia e tomar coragem. Respirar fundo e começar.


Há vantagens em tudo isso, eu vejo. Eu sempre vejo a luz no fim do túnel, o bem no meio da inevitável confusão que vem com a tempestade.


O ar fica mais fresco, a gente aproveita e também joga fora o lixo que deixou acumular por tanto tempo, por causa da incerteza sobre se um dia a gente ia ou não usar de novo.


Vai dar muito trabalho essa limpeza, eu sei. É difícil e cansativo recolocar tudo no lugar, ou decidir os novos lugares das velhas coisas (É que a gente nunca se livra totalmente das velhas coisas). Mas pensar na casa limpa, clara e fresca é sempre um incentivo. Um alento.



..

sábado, abril 26, 2008

Dez minutinhos

E agora é uma mulher que me atende ao telefone. Ela tem uma voz metálica, cansada e irritada. E, a primeira vez que me ouviu, tenho certeza, se sentiu intrigada. Pensou: "Nossa, isso é hora de mulher estar voltando pra casa?" Pra, depois, pensar: "Mas eu trabalho a essa hora!"
Bem, mas até hoje a sinto despeitada quando fala comigo:
- Central de vigilância, bom dia.
É, geralmente passa da meia-noite quando eu telefono.
Ao escutar o meu "Boa noite, é a Viviane da rua V.. C..", ela responde um "Boa noite" seco, sempre seguido por um 'tchi'. É tão baixo o seu 'tchi', mas dá pra eu perceber a sua má vontade. Esse 'tchi' parece um: "Ah, que saco! Que vontade de xingar essa mulher que me pede segurança!"
Tudo isso só no seu 'tchi'.
O mais irritante é que ela sempre pergunta o número da casa. Todo dia! E eu respondo: "É a 360". E aí ela pergunta qual é o carro. E eu penso: "Que porra! É o Pálio e ela ainda não guardou!" Mas respondo educada: "Pálio azul marinho."
- Quanto tempo?
- Daqui uns 10 minutos.
- Ok - e ela desliga o telefone.

Fico imaginando como ela é. Magrinha e muito miúda, com os cabelos tingidos de castanho claro já meio desbotados, sempre presos em um rabo de cavalo, e vestindo um terninho surrado, às vezes preto, àz vezes azul claro. Ou seja, deve ser horrorosa.

Gostava mais do rapaz que atendia antes. Ele era mais animado. Mais esperto também. Já respondia, assim que ouvia minha voz:
- Oh Viviane, daqui 10 minutinhos, né? Ele vai estar lá!
Simples assim. Sem rodeios.

Outro dia a mocréia não foi trabalhar. Deve ter sido a folga dela. E era o rapaz que estava ao telefone. Fiquei até contente de não escutar a voz metálica. Ele me atendeu assim:
- Ooooh, tudo bem. É o 360, né? (Pensei: "Nossa, que memória. O cara lembra o número de casa e faz um mês que não fala comigo!")
- É isso. Dez minutos e eu estou lá, tudo bem?
- Tuuuudo bem! Ele vai estar lá, tá?
- Tchau.
- Tchau.
Esse deve moreno e meio gordinho. Um pouco mais alto que eu. E não deve usar barba. Roupas? Sempre calças jeans, uma camiseta e por cima um casaco ou um colete. Quando usa camisa, o último botão está invariavelmente aberto (porque é impossível fechá-lo), mostrando um pedaço desagradável de sua barriga. Acho que ele é assim.

Só há um detalhe em tudo isso: desde que a moça começou a atender, nunca mais o segurança deixou de aparecer na minha casa nos 10 minutos combinados. Com o Boa Praça, várias vezes eu fiquei rodando em volta do quarteirão até o motoqueiro chegar. Sei lá, pode ser coincidência, mas não deixa de ser curioso. A moça é antipática, mas até que é eficiente. Já o moço....

.

quarta-feira, abril 23, 2008

Começo que não acaba

Depois da saga que não acaba sobre a queda do sexto andar e do vôo tragicômico de balões para a morte, vem o tremor de terra na cidade.
Alguém aí sentiu a terra tremer?
Eu senti. Sensação que se tem quando se levanta rápido da cama de manhã - um bambear. Pequeno tremor. Um delícia de tremor, aliás.
Mas estou cansada. Não temos um dia de trégua.
Devia dar graças à Deus. Afinal, a Isabella saiu um dia do foco, mas o terremoto provocou outro tipo de abalo.
Todos ficam mais enlouquecidos, mas agora em dose dupla. São dois focos. E, ainda por cima, não vamos para o céu, porque não paramos de rir do padre maluco, que se meteu numa aventura sem sentido.
Esse começo de ano não acaba... Será esse o ônus de ter o Carnaval mais cedo, coisa que eu tanto festejei?
O mundo pode parar pra eu descer?
Alguém pode me socorrer?
A impressão que tenho é que as horas e os dias estão confusos. Hoje, não sabia se era terça ou quarta. Por um momento achei que era quinta. E não é primeira vez que sinto isso. Será efeito do feriado? Parece que já estamos em outubro, tanta coisa que já aconteceu este ano na minha vida e na vida do mundo. Mas é só abril, quase maio, aliás. E, em menos de um mês (Não, dois. Olha aí a confusão, não disse?), faço 42. Imagino o que pode vir no meu inferno astral.
E venho pensando nisso tudo enquanto dirijo de volta pra casa. Quase uma da manhã, o que pode acontecer, eu penso? Nada. Mas não é que vem lá um carro na contramão na Avenida dos Estados!!! Penso: eu já estou vendo coisas... Mas não, é um carro na minha direção mesmo. Sorte que desviou antes de me alcançar. Acho que eu não teria reflexos para evitar um choque. Ele entrou na viela de uma favela. Nem na madrugada estou livre das palpitações.
Então, tenho ou não motivos para estar farta deste começo de 2008?

segunda-feira, abril 21, 2008

Da dúvida à saída

E ele, agora, deve achar que eu estou cheia de dúvidas...

Não, eu não tenho dúvidas. Eu, por hora, só não tenho saída!

:-/

PS: "O Mundo Perfeito" está du caralho. Coloco aqui o último post que li. Maravilhoso.

sábado, abril 19, 2008

Divagações

O que eu devo pensar? O que eu devo sentir?
São coisas que eu não sei dizer. E por que deveria saber?
De repente, só o desejo de ser rasa, básica, o desejo de não querer.
...por que tenho a pretensão de ser densa, forte, objetiva, clara?
Por que penso tanto?!!
Por que simplesmente não deixo estar, não espero rolar, não páro de perguntar, de querer saber, de tentar explicar?
Por que não fumo um?!! Unzinho só!!
O que importa se os outros são tão diferentes, ou indiferentes, ou fazem as coisas de forma que não entendo, ou não apreendo?
Por que deixo de lado a minha intuição e coloco lá, no seu lugar, a minha razão?
Por que deixo quebrarem o meu coração?
Por que insisto em colocar palavras onde, às vezes, só cabem olhares?
E na outra ponta da corda, quem é que está? Eu o conheço?
E do outro lado do muro, o que pretendem? Estão lá, me espreitando? Me olhando através do buraco feito a prego? Será?!!
E por que tenho que achar que pretendem algo? Por que tenho que supor?
Me coloco no seu lugar? Ou fico o tempo todo tentando encaixá-los no meu ideal? No meu "mundo real"?
Estou certa ou estou errada?
Talvez, de fato, me falte a capacidade de entender. A humildade de querer compreender.
De fato, talvez me falte a capacidade de me perdoar, me falte a capacidade de confiar...

;-/








sexta-feira, abril 18, 2008

Que seja hoje

E será que, enfim, tudo isso vai terminar hoje? Será que o casal vai se entregar? Eles vão confessar o crime?
O fato é que ninguém aguenta mais o caso Isabella. Pobre garota! Com certeza vai virar santa, ser responsável por algum milagre cantado por algum maluco de plantão logo logo.
Hoje, espera-se, será um dia decisivo: os "suspeitos" vão depor. Acredito que não há jornalista na ativa nessa chamada "grande imprensa" que não esteja louco para que esse caso, que já virou nosso inferno, acabe logo. Se eles confessam, praticamente acaba. O resto é rescaldo.
Por quê?
Porque são plantões intermináveis nas portas de DPs, ICs e etc, em busca de um detalhe, um indício, uma declaração de um parente, um amigo, uma testemunha. É uma competição irracional para "ter acesso" a laudos preliminares, depoimentos sigilosos, informações confiáveis. Todos pressionados para ter o que as TVs e a internet já estão divulgando e algo a mais. Na edição, a preocupação para dar tudo, todos os detalhes, da maneira mais clara, com o melhor texto, a melhor ilustração, a melhor foto. E ficar até tarde na redação, até que a última frase do Jornal da Globo seja proferida pelo William Waack e que o risco de furo esteja definitivamente anulado. Isso por pelo menos mais um dia.
Às vezes me pergunto pra que tudo isso? Faz parte, eu sei, mas pra que serve, no final?
É excitante estar neste turbilhão, é bom saber antes o que todos só saberão no dia seguinte ou até dias depois, mas é triste perceber que também alimentamos a maluquice das pessoas. Há uma turba de gente enlouquecida, perseguindo, xingando e ameaçando o casal, seus amigos e parentes que não têm nada a ver com o pato. Gente como uma mulher que ontem deixou quatro filhos pequenos em casa e andou quase duas horas de condução para colocar um cartaz no portão da casa da família do rapaz os xingando de 'assacinos' (nem escrever ela sabia). Dá vontade de perguntar pra esta dona de ela não tem um tanque de roupa pra lavar em casa.
Na outra ponta da história, há os santificadores, crédulos e de bom coração, que já pedem milagres, acendem velas e criam ongs da paz oportunistas em nome da menina Isabella.
De nosso lado, jornalistas de plantão, está ficando só o cansaço. Estamos esgotados e estressados com o trabalho dobrado que veio com o caso. Fora o clima, porque o assunto é pesado, é triste, é mesmo uma história inacreditável.
Já é um fenômeno de mídia. Em quase 20 anos de trabalho (nossa!!! quase 20 anos!!!) não lembro de um caso que tenha rendido tanta manchete, tanta página nobre dos jornais, tanto espaço nos noticiários da TV, com equipes grandes na cobertura, durante tantos dias seguidos. Já são quase 20 dias. Nem os ataques do PCC mereceram essa atenção.
E será um fenômeno a ser estudado por comunicólogos, psicanalistas, sociólogos, etc, e etc. Logo logo alguém fará uma tese à respeito. Depois haverá um filme. Eu mesma já bolei um roteiro bem sinistro, como se no caso tivesse mesmo o "terceiro elemento". Mas essa é uma outra história.
2008 será pra sempre dividido entre antes e depois do caso Isabella.

.

segunda-feira, abril 14, 2008

Tempestade na madrugada

Acordei meio atordoada, mas feliz na madrugada de hoje... O céu parecia cair. Já tinha ido dormir tarde, quase 3, mas o barulhão da tempestade não me incomodou. Incomodada eu estava com aquele calor absurdo de verão fora de época.

Antes de dormir de novo, consegui pensar: será que, enfim, o outono chegou??

Acho que sim. A chuva vinha e voltava, para minha felicidade.

Depois do almoço, quando dirigia para o jornal, fui observando o céu cinzento. Cúmulos nimbos escuros na minha cabeça, cercados por outras nuvens mais claras e com um pouco, muito pouco de azul do céu que ainda teimava em sair. Adoro dias assim. Meio cinzentos, úmidos, com vento não congelante e um pouco de azul celeste.

Hoje, no caminho fiquei com medo do rio. O Tamanduateí estava mais cheio que o comum. Sempre penso que posso perder a direção e mergulhar na correnteza marrom. Não é o medo de morrer afogada. Mas é o de sobreviver cheia de berebas e coceiras que o bosteiro com certeza vai me deixar.

:-)

domingo, abril 13, 2008

Entre Suzana e Lya

Teve uma época que eu gostei muito de Lya Luft. Li uns dois ou três livros dela e me encantei com a forma emotiva como ela descreve os sentimentos mais simples da vida. Nunca concordei com classificação de "auto-ajuda" que alguns dão à sua obra, simplesmente porque a vejo como uma autora sensível. Mas confesso que depois que li algumas de suas colunas na Veja me decepcionei. Não gostei nada das suas opiniões sobre política. E simplesmente me desinteressei por ela.

Mas Lya Luft volta a escrever ficções e não dá pra negar a sua sensibilidade quando se trata de analisar a alma do ser humano. Ela deu semana passada uma estrevista ao Caderno 2 sobre o seu novo livro, que fala sobre a incomunicabilidade, e me deixou um bocado curiosa. Num trecho da entrevista, ela diz porque o assunto a fascina: "a palavra que você não disse quando devia ter falado e a palavra que você disse quando devia ter-se calado. A grande dificuldade nos relacionamentos humanos baseia-se em grande parte na incomunicabilidade, da forma que você vê o outro e como isso pode provocar o preconceito."

É, talvez eu volte a ler Lya Luft.

Mas, por enquanto, estou mesmo interessada é em terminar de ler Suzana Flag. Esta me inspira menos emotividade, mas, em compensação, me deixa muito mais crua.

:-)

sábado, abril 12, 2008

A estranha na foto

Tirei a tarde hoje para organizar as minhas fotos. Tenho centenas delas ainda fora de álbuns, tudo bagunçado, sem saber de qual data são. Assim como quase 90% da humanidade, eu imagino. Consegui organizar um pouco, mas ainda continuo atrasada em dois anos. Preciso comprar mais álbuns e espero ter isso pronto até a mudança.

Mas o barato de organizar as fotos é mesmo revê-las. Como ainda sou antiguinha, não tenho a tal da máquina digital, nada do que registro é apagado. Hoje, encontrei fotos que simplesmente já tinha esquecido. Velhos amigos e amigos velhos. Situações felizes, outras estranhas e até constrangedoras.

Mas fiquei assustada mesmo ao encontrar uma minha, de uns cinco ou seis anos atrás. Não porque me achei diferente ou mais nova. Mas fiquei assustada simplesmente porque não me reconheci nela. É como se aquela não fosse eu. Nada nela se parecia comigo.

Voltando ainda mais no tempo, o coerente seria continuar a não me reconhecer nas imagens. Mas não. Nas fotos de 15, 20 anos atrás, lá estou de novo, brilhando. E de novo estou lá, nas mais recentes. E resplandescente, eu diria. Só naquela, ou naquelas, de um determinado período que não me achei.

Isso parece loucura, talvez. "É fruto do seu amadurecimento", devem dizer os terapeutas de plantão, que colocam tudo na conta do tempo. Mas não sei se é isso. Como diz uma amiga minha, tem gente que só consegue amadurecer em um aspecto da vida, o profissional por exemplo, mas continua um adolescente bobo em outro, como no emocional. Quem não conhece alguém assim?E ainda não sei se é esse o meu caso. Tento porque tento que não, mas vai saber, né? É muito difícil reconhecer a própria imaturidade.

Mas o fato é que eu fiquei pensando durante o resto da tarde e também à noite sobre o porquê desse estranhamento. E, pensando nela, naquela que não reconheci, acho que, sem muita consciência, ela tentava ir contra a sua própria natureza. Ou contra os seus próprios sentimentos e vontades e instintos e intuições. É só isso que eu posso imaginar.

De toda forma, ela já passou e fico feliz que tenha participado da minha vida e passado. E sei que não há mais risco dela voltar, porque agora tenho consciência dela. Naquela época, nem a percebia. E também sei que dela, apesar do estranhamento, sinto um orgulho danado. Como também de todo o resto.

PS: a Bia acabou de me dar um coração. No fundo, não é isso que vale? Ganhar, sem pedir e nem imaginar, um coração do jeito que for pra tomar conta?

Ganhei o meu dia.

Mais um dia.

:-)

.

sexta-feira, abril 11, 2008

Só um segundo

E, enfim, depois de quase 15 dias de trabalho pesado, hoje eu consegui parar...

Páro, respiro fundo, sinto o ar encher o meu peito e ele se abre... Há dor.

Há tempos eu não me sentia tão frágil. Tem sido um começo de ano diferente. Intenso.

E não é apenas um motivo.

São emoções à flor da pele, decisões inadiáveis, trabalhos intermináveis, histórias desgastantes, provas de paciência, de competência, de amor...

É como se a cada dia eu tivesse que aprender na marra algo que deixei pra lá em algum momento, teimei em não ver antes, descobri tardiamente, não quis aceitar...

Sinto uma dor real no peito e o ar, às vezes, parece que não vai conseguir entrar. Tenho que me apoiar pra conseguir respirar. Hoje ele entrou com facilidade. O ar.

Alguém poderia me dizer que eu preciso ir ao médico. Mas não é nada disso.

Nunca fui uma pessoa infeliz, depressiva, pesada. Mas sei que tenho estado triste ultimamente. Peço aos meus que me perdoem. E que tenham paciência. Isso não é infelicidade. E nem sinal de desistência, desespero, desesperança. É só um sinal desse período, que no futuro terá sido só um momento, nada mais do que um segundo.
.

sábado, abril 05, 2008

Na beira do rio

A semana começou sinistra, ontem o dia foi negro, hoje amanheceu nebuloso.
Mas, veja só: na Avenida dos Estados, na beira daquele bosteiro em que se transformou o Rio Tamanduateí, há uma árvore tão florida, que dá gosto - toda rosa....
Não, isso não vai mudar o meu humor! Não hoje.
Mas, pelo menos, vai me fazer respirar fundo e desenhar um sorriso cínico no rosto ao lembrar que a natureza, por si só, acaba por fazer a vida se renovar.
E, com sorte, melhorar.

quinta-feira, abril 03, 2008

Chuva na Manhã

Manhãs de chuva, como as de hoje, sempre me incomodam. Parece que o dia já começa nos dizendo "não tenha esperança". E a gente é meio obrigado a tirar lá de dentro uma força enorme pra sair da cama e tocar a vida. Porque, no fundo, sabe que isso é só uma sensação passageira.

Espero que amanhã o tempo melhore. E meu desejo é puro oportunismo. Amanhã é sexta-feira e, excepcionalmente, vou entrar no trabalho às 7h. Se acordar com chuva é difícil, madrugar e enfrentar o trânsito dessa cidade ainda é pior.

E, à noite, se tudo der certo, o bar me espera para afugentar de vez qualquer tipo de sensação de tristeza.

..

quarta-feira, abril 02, 2008

Angústia

É assustadora essa história da menina de 5 anos jogada pela janela de um prédio na Zona Norte da cidade.
Mesmo que acostumada a tratar com tragédias diárias de todo tipo, não dá pra ficar indiferente quando paro e penso no momento da menina, no que ela passou naqueles poucos minutos que antecederam à sua morte, o seu lançamento pelo ar.
E quem teria coragem de segurar uma garotinha frágil no colo, enfiá-la em um buraco no meio de uma tela de nylon cortada e a jogá-la? Que tipo de ser humano é esse?
Nestes últimos dias só temos falado disso no jornal, buscando fotos da garota, depoimentos de amigos e parentes, tentando, por nós, descobrir o culpado. Será mesmo um bandido que entrou no prédio? O pai seria capaz? A madrasta, afinal, sempre é a madrasta, com a carga de maldade que o nome e os contos de fada lhe conferem... Poderia ser ela?
De madrugada, voltando pra casa, não dá pra não pensar nesse caso, fazer associações (afinal também tenho uma menininha), criar teses que podem ser base de um roteiro sinistro para um filme menos B. Espero que minhas teses sejam todas erradas.
Fica na barriga um frio de angústia, no peito a sensação de brevidade da vida e na cabeça a certeza de que há pessoas que têm um buraco no lugar do coração.

.

domingo, março 30, 2008

Canção de Ninar

Sei que, na minha velhice, quando pensar em coisas que vão me fazer desenhar um sorrisso no rosto com certeza enrugado, vou me lembrar da Bia me pedindo pra cantar "aquela música".
Ela pede quase todo fim de semana que eu não estou de plantão e a ajudo a tomar banho.
A brincadeira é embrulhá-la na toalha e aconchegá-la no colo como eu fazia quando ela era nenê.

Nunca cantei as músicas clássicas de ninar. As achava assustadoras: "boi da cara preta" a "cuca vem pegar", definitivamente, não combinam com meu estilo.
Aí, nem sei bem de onde veio a idéia, mas comecei a cantar Como Uma Onda, de Lulu Santos.
E, acreditem, não tenho nenhum disco ou CD do Lulu Santos, mas esta música me pareceu perfeita pra ninar um bebê. A balançava como o movimento do mar, da onda...

A Bia está cada vez maior. Não consigo mais nem ficar de pé com ela no colo. Mas, mesmo aos 7, ela curte a brincadeira. Fecha os olhos e canta a música de cor. Só hoje eu achei a canção pra ela escutar o original.

Bem, procurando o vídeo da música, achei vários. Acima, uma construída não sei por quem, mas com desenhos infantis. Tem mais a ver com a Bia e este post. Mas encontrei a versão com Caetano (tem até legenda em inglês) e a mesma com o Tim Maia... Fantástico!!!

...

Nada de Caixa-Forte

Tive hoje de novo um sonho estranho. Mas é compreensível.
O prédio onde eu morava, na Antonio Bastos, havia sido todo reformado. Reconstruído, eu diria. Virou um prédio cinza, um tipo de caixa-forte de vidros fumê blindados, cercado de seguranças por todos os lados.
Eu não morava lá, mas trabalhava. E, pra variar, estava atrasada, me perdendo pelos caminhos até chegar ao lugar para apresentar um projeto.
Quando cheguei, porém, a caixa-forte tinha sido invadida por ladrões. A porta da frente estava trincada, mas mantinha a sua função: estava lá, ninguém havia passado por ela. Mas o elevador havia sido destruído, algo tinha sido levado.

Ninguém entendia como tinham invadido o prédio, já que a porta da frente estava inteira.

No meio do sonho rolou mais um monte de coisa que não lembro direito.
Mas a sensação que ficou não foi nada boa.
Acordei um tanto triste.

Mas, tudo bem. A vida é isso aí.

..

quarta-feira, março 26, 2008

Chão de Giz

Sou meio supersticiosa.

Ouvi sem querer duas vezes esta música esta semana. Assim, no rádio, o que é bem incomum...

Daí, vim procurá-la pra colocar aqui.

Deu saudades de uma menina que conheceu essa canção quando mal tinha feito 13.
Uma menina que mesmo sem entender nada do que dizia a letra, se emocionava com a canção.

E deu saudades de uma moça que tentava cantar a música no meio da noite, sentada numa escada ao som do dedilhar de um violão meio rouco. A moça sonhava em ser cantora enquanto enchia a cara de vinho barato.

Vou anexar as duas versões que gosto.

Zé Ramalho e Elba

Só o Zé Ramalho

Escolha a sua.

....

Ter amigos dá trabalho

Então, Bia, hoje você brigou com o Augusto. Vocês estavam brincando de um tipo de polícia e ladrão, ele era a polícia e pegou você. Até aí, tudo bem, mas o duro foi quando ele te levou pra cadeia, não é? E te colocou lá com tanta força que você se desequilibrou, caiu e bateu a cabeça. Ah!, Bia, não chore! Eu sei que está doendo. Mas, pense bem, o Augusto não fez por mal. Ele não planejou te machucar. O Augusto, apesar de ser mais novo que você, é bem maior e forte. Tenho certeza que, quando ele te colocou na cadeia estava só brincando. Achou que você também se divertia. O Augusto é um menino bom que não tem a noção da força que possui. E errou a mão. Você caiu e doeu. Mais que a batida na cabeça, eu sei que o que doeu foi o empurrão, não é? Acho que você devia procurá-lo amanhã e explicar que ele deve tomar mais cuidado quando for brincar com você. Expor a tua delicadeza. Faz parte da sua natureza. Se explicar, ele vai entender, porque pode ser grande, mas é sensível. Não, Bia, não faça assim! Não fique com vergonha de dizer para um amigo que ele está errado e te magoou. Porque, se ele não sabe o que fez de errado, nunca saberá o que te afastou dele. Sei..., ele não pediu desculpas na hora, você me diz... Ora, com certeza ele nem sabe como fazer isso. Mas você, você sabe o quanto ele é importante e, tenho certeza que, se explicar tudo pra ele direitinho, vai ficar tudo bem. Te peço, não seja tão orgulhosa, assim, tão nova. O que é ser orgulhosa?? Bem, isso que me diz é um exemplo do que é o orgulho: não querer conversar com o Augusto alegando vergonha. Porque ele não se desculpou, você achar que não pode ter a iniciativa. O orgulho, em algumas situações, pode até nos fortalecer, mas ele não é bom companheiro pra quem quer ter bons amigos. Sabe por quê? Porque, pela vida, a gente tromba com muitos Augustos. Amigos que nos magoam e nem sabem. Amigos que não entendem a sua força e nos estraçalham. Não, nós, adultos, não ficamos levando empurrões de amigos grandalhões o tempo todo. Não é isso. O que ocorre é há amigos que dizem e fazem coisas que nos atingem com tanta força que é como se um trator passasse por cima da gente. E se a gente não tem a capacidade de entender e perdoar, lá se vai o amigo. E a gente também tem que cuidar pra não se transformar em um Augusto. Você entendeu? Não, não entendeu nada, né? Eu vou exemplicar. É obrigação da gente falar quando um amigo pisa na bola. E a gente tem que tomar cuidado pra não pisar na bola com o amigo, não ser igual ao Augusto. E, se pisou, tem que resolver o mais rápido possível. Porque quando a gente não fala na hora, deixa o tempo passar, o que pode acontecer é aquela mágoa virar um calo e um incômodo eternos. Por isso, Bia, amanhã, quando você chegar na escola, converse com o Augusto. Se precisar, dê até uma dura nele. Ele é um menino esperto. Tenho certeza que ele vai sacar e vai te pedir desculpas. E, o que é melhor, vai tomar mais cuidado da próxima vez que quiser te prender.
Então, agora, boa noite. Vai pra cama que eu vou te cobrir.
Um beijo.
------------------
E, no dia seguinte

Sabe, mãe, foi fácil falar com o Augusto. Eu cheguei pra ele e perguntei: Augusto, sabe ontem? Você não esqueceu alguma coisa? E ele respondeu: Ah, Bia, desculpa!

-------------------

terça-feira, março 18, 2008

Um epitáfio para dois funerais

É muito difícil enfrentar a dor da morte. A morte é sempre mudança, é transformação. E sempre dói. Quando chegamos perto dela, nunca voltamos a ser o que éramos antes. E isso não tem a ver com amargura ou tristeza. Tem a ver com a forma de ver o mundo. E com a forma de sentir os outros. E de se entregar para os outros, de se abrir ao novo a partir do desaparecimento de algo que fazia parte de você.

Eu quis enganar a dor da morte. Quis ser mais dura do que ela, superá-la, mostrar a ela o quanto eu podia ser forte. A desculpa era proteger. Como se com minha proteção aquela perda não atingisse mais ninguém. Não me dei o direito de chorar, não me dei o direito de gritar. Fiquei lá, recatada, correta, admirada. Curtindo a dor nas madrugadas, mas amanhecendo com um sorriso no lábios. A imagem que me vem hoje é de algo despedaçado por um tsunami, mas em pé. É admirável mesmo.

Por que fiz aquilo? Era o melhor, eu achava. Mas não era e teve um preço.

Agora, a dor da morte que enfrento vem e puxa a outra, aquela que tentava ficar lá, escondida no fundo do meu coração. Dores iguais por motivos diferentes.

Preciso fazer dois funerais. Mas só consigo escrever um epitáfio.

"Nunca vou esquecer os teus olhos
Grandes
Negros e
brilhantes

Cílios longos, longos cílios
me fixando, sem
piscar
Me dizendo amor
me dizendo calma
me trazendo paz no meio do
turbilhão

Nunca vou esquecer teu hálito acre
Tua pele macia
Teu corpo contorcido de dor

Queria fazer minha a tua dor

Seu brilho,
seu
brilho
Às vezes morro de saudades
Hoje sei que está aqui porque te
chamo
Porque te que quero perto

Você foi luz na minha vida
Na minha casa
No meu caminho

Nasceu de mim
Me atravessou e
partiu

Teu rastro, tua paciência, linha de emoção
que eu persigo
Hoje sei que tenho que te deixar partir"

................

Talvez com isto meu coração fique mais leve e eu consiga parar de chorar.




segunda-feira, março 17, 2008

Don't Worry, Be Happy, Angel

Ao ouvir esta música, sempre, me dá vontade de sair assobiando por aí.

don't worry, be happy!

Mas com esta, do Eurythmics, em me sinto a própria singer.

É como se ela fosse um hino feito pra eu me sentir feliz.

There must be an angel playing with my heart







domingo, março 09, 2008

Segunda via

Não entendo porque, nesta terra, a vítima tem sempre que ser a culpada.

Se a mulher é violentada, o comentário é:
"Mas olha a roupa que ela estava? Vestida deste jeito só podia querer isso mesmo!"
Se a garota ou o cara se apaixonam e o caso não dá certo, a verdade mais que certa é:
"Eu te disse que ia quebrar a cara! Não soube escolher! Todo mundo sabia que x não prestava. Era só olhar!"
Se estouram o vidro do seu carro no farol e levam sua bolsa, a bronca é assim:
"Sua bolsa estava no banco, não é? Não sabe que não pode?"

Foi uma chamada assim que eu levei hoje. Foi uma pena, porque o dia estava perfeito.

Passei o dia no zoológico com as meninas. Bia, Mari e Helô, três belezinhas correndo pelas alamedas buscando leões, lobos, macacos, pássaros e tudo o que elas tinham direito. Piquenique debaixo das árvores, lanche caseiro. A Val junto dando uma força. Cinco meninas-mulheres curtindo a liberdade-feminina impossível quando o mau-humor e falta de paciência masculinos estão por perto.

( Cada vez mais me convenço que as mulheres não mais livres sem culpa. E isso vem desde a infância, me parece. )

É difícil manter o sinal de alerta o tempo todo. E nessas, eu, que vivo tensa com medos de roubos e assaltos, relaxei. Deve ter sido entre o macaco-prego e o chimpanzé, depois do sorvete de maracujá com calda de abacaxi. Mas só percebi na lojinha de tranqueiras, na hora de pagar pela girafa de pelúcia. Cadê a minha carteira? Já era! Que raiva! Só não acabou com o meu dia porque, de fato, ainda haveria muito mais neste dia.

No posto policial, o sermão:
"Mas, onde estava a sua carteira?"
"Na bolsinha do lado de fora da mochila", eu respondi, já sabendo o que viria em seguida.
"E de que jeito a senhora estava levando a mochila", ele me olhou, com um ar de reprovação.
"Nas costas, eu sei, não podia, mas me distrai."
"Mas, minha senhora, no zoológico, inda mais num dia como hoje, tinha que tomar mais cuidado."

É, eu sei, eu sei. Em dias como os de hoje, a gente vive tendo que tomar cuidado com tudo, para não ser roubado, para não ofender, para não se machucar e não se decepcionar com quem a gente confia e acredita. Mas, acontece, que é bom relaxar e esquecer um pouco que estamos nos dias de hoje.

Dá pra tentar viver um pouco sem medo?? Ser feliz é tão errado assim?

Bem, é certo que no zôo ninguém me ajudou. Se quisesse, ia fazer um BO num DP lotado da região. Ou pela internet, que é o que eu acabei de fazer.

Amanhã, vou atrás da segunda via do documento.

Pena que nesta vida não exista segunda via de coração.

..

sexta-feira, março 07, 2008

Precipício

.....

O caminho

do aspirante

é solitário

.....

terça-feira, março 04, 2008

Primeiro dos 10 chamamentos

De Hilda Hilst

"Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento"

Como eu invejo os
grandes poetas....

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Calda de morango quente



Você é
doce
doce
doce

Como o sorvete de creme
Mergulhado na calda de morango

Quente




segunda-feira, fevereiro 11, 2008

Primeiro plano - Original

O dedo desliza lentamente e então eu posso senti-la úmida e quente.
Por que não? Se a opção imediata é pela solidão eu devo me acostumar a tocá-la com mais freqüência. E no sexo solitário pode haver mais prazer do que no sexo sem amor.
Na cabeça, lembranças de toques sutis e delicados, palavras doces, situações que emocionaram. Isso basta, eu me pergunto? Se no momento é o melhor que eu posso fazer por mim, sim, basta.
A emoção é um sentimento cruel. Nos abraça, nos chacoalha, vira as nossas vísceras do avesso. Mas é um tipo de dor que não queremos deixar de sentir. Quando não há mais a emoção, a vida perde o sentido.
E eu a busquei tanto que decidi interromper o meu caminho longo e sem emoção.
E isso assusta. Mas fiquei mais assustada no começo, quando eu recomecei sentir. Quando eu percebi que existia a emoção aqui dentro e lá fora, entre as pessoas reais, mas que, ao meu lado, o que tinha era o hábito do convívio e só. Nada de troca. Nenhum interesse. Nem curiosidade. Só afeto respeitoso e a construção de uma imagem equivocada.
E me envergonhei quando me dei conta de tudo isso. O cotidiano fácil, seguro, cheio de certezas nos envolve ao longo da vida e, quando nos damos conta, o sentir ficou em segundo plano. Em que porcaria de mulher moderna eu estava me transformando?
Mas se o movimento é doloroso, ele também é necessário. Estou tão certa da minha opção que tenho até orgulho. Porque a opção foi tão pensada, tão maturada... O caminho foi tão cheio de altos e baixos, descobertas e decepções... Tentativas de recomeços... Reencontros e afastamentos... Levei anos pra chegar até aqui, mas sempre dando sinais, pedindo socorro, lançando avisos...
Mas há situações que não mudam. Há pessoas que não estão preparadas para mudar e nem querem. Cada um tem o seu tempo e eu não me importo se, agora, estou precisando atropelar alguém. Me sinto mesmo um trator.
E é engraçado como nada acontece da noite para o dia.
O limite se deu e não há agora uma segunda via. Também não há como voltar atrás. Não há culpados, nem responsáveis. Só existe uma pessoa, eu, pensando, querendo, desejando e decidindo o que é melhor pra mim. Sem mais nenhum medo.
E sou capaz de chorar de contentamento ao perceber que, pela primeira vez, vou de fato colocar a minha vida nas minhas mãos. Mesmo que para isso o sexo também tenha que ser solitário por algum tempo.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Como uma máquina

"Aconteceu um problema inesperado. O sistema está sendo desligado. Salve os trabalhos em andamento e acione o logoff."

A gente devia ser assim, como uma máquina. Simplesmente desligar automaticamente quando um problema no meio do caminho surgisse. Salvar o que foi iniciado para, em seguinda, religar e continuar de onde se parou.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

A Dite e os sapatos

A Dite estava linda como nunca. Me surpreendi quando soube que estava com 31, porque quando me lembro dela sempre a vejo mais velha, sofrida, gorda. Mas, hoje, ela estava linda, como uma diva da década de 50, uma atriz de cinema: a pele extremamente branca, o sorriso aberto, com dentes perfeitos, o cabelo dourado e cheio de cachos. Parecia um anjo. Não havia registro do seu mau humor, sua marca registrada de antes.
Todos se surpreenderam. E eu a abracei... que saudades... Eu não sabia que estava com tanta saudades dela. Não imaginava o quanto!
Era surpreendente porque todos a vimos morta. Nós vimos como ela foi definhando e como estava envelhecida quando se foi. Mas, agora, ela tinha 31 e dizia quando via alguém: não, eu não morri. E aquilo era tão natural. Não era nada assustador. Todos estavam felizes, em confraternização. E, para cada um que chegava, eu, como uma criança da casa, fazia questão de mostrar: olha, olha quem está aqui! E novamente expressões de surpresas, abraços, felicidade.

Eu não sei como cheguei naquele lugar. Quando vi, estava naquela casa, que era pequena, mas estava cheia de gente conhecida. Mas tinha que partir e, de novo (essa sensação sempre vem) estava sem sapatos. Alguém na casa me deu dois pares: um sapato lilás claro, meio transparente, bico fino e um pequeno salto; outro preto, completamente baixo. Ambos eram de plástico. Mesmo assim, sai descalça, com os dois pares em uma sacola.

Na rua, de noite, olhei o trânsito, que era frenético. Via luzes dos carros que riscavam a escuridão. Duas grandes avenidas se encontravam no ponto onde eu estava, uma praça na parte baixa de dois morros. Mas a minha noção de sentido estava completamente perdida e não sabia para qual lado seguir: direita ou esquerda. Tinha que pegar um ônibus, ir para o Centro, mas os ônibus subiam e desciam as ruas, que eram ladeiras, e eu não conseguia me mexer.

Aquele lugar, eu sabia, já havia sido uma favela enorme - Mauá agora está bonita, eu pensava, mas ainda assim é Mauá, é assustadora. Foi aí que encontrei a garota. Ela não parava de falar, e me deu o sentido: o Centro é para lá (à esquerda), pegue tal ônibus. Perdi ainda um ônibus e, no próximo, ela subiu comigo, sempre falando, falando, que conhecia não sei quem no jornal, que estudava, que estava voltando da escola, que isso, que aquilo.

Foi só então, no ônibus, que decidi vestir os sapatos. Mas, na confusão de subir, entrar no ônibus, um pé do par preto se perdeu, caiu no chão, eu ainda olhei pra trás, tentei encontrar, mas não consegui. Então, coloquei o lilás. Mas era o preto que queria. Esse sapato lilás com essa meia soquete não combina, ainda pensei. Deve ser por isso que está meio apertado. Pensei em voltar pra, procurar o sapato que ficou pra trás, certamente caído na sarjeta, mas não dava mais.

E a menina não parava de falar, enquanto o ônibus seguia e eu observava meu pé com meias soquete no sapato lilás e transparente.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Pássaro na sala

Entrou um passarinho na minha casa agora há pouco. Foi mágico. Por alguns segundos me bateu uma empolgação. Porque não sei como ele entrou. Quando vi, ele estava lá, batendo asas, pousando na minha estante, cantando para mim no meio da sala. Nem o cachorro se assanhou para pegá-lo, como que o respeitando. Por um instante pensei: "Passarinho em casa assim deve ser um bom sinal. Vou deixá-lo aqui pelo menos até a Bia chegar pra ver o quanto temos sorte." Mas, de repente, percebi que o bichinho estava lá, mas tentando voar alto sem poder. Ele se batia contra o teto e começou a ficar desesperado. Ia e voltava da estante pra a janela, como que me dizendo que estava buscando a luz. E não tive coragem de esperar. O passarinho só queria sair da minha sala. Então, abri a porta e esperei ele perceber o caminho e sair voando. E ele foi rápido como um raio.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Vontade da partilha

Não conheço Mariana Terela, mas ela estava outro dia em O Mundo Perfeito, blogue da Isabela, lá de Portugal, linkado aí do lado. É dela a frase abaixo, que eu assino embaixo.

"Há já muitos gajos que sabem que nós, as que nos julgamos imperfeitas, temos de dar largas à imaginação e ao intelecto e a crescer noutros sentidos. Menear o rabo e dar a cabeleira dá resultado enquanto se tem rabo e cabeleira. E enquanto aquilo se põe em pé só com a visualização de um rabo. Mas isso acaba ... as relações que nos aquecem a alma são aquelas que duram para além das aparências e em que o calor e acolhimento de um corpo (e da alma) valem muito mais do que a sua perfeição física. E a vontade de partilha não acaba aos 40 anos. E a perfeição física começa a acabar aqui."

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Primeiro semestre

Janeiro me atropelou.
Será que em fevereiro eu consigo sair do chão? Tem alguém aí, plis, pra me dar a mão?
Em fevereiro vou me tratar. Devo passar mercúrio nos cortes, enfaixar o braço, engessar a perna, cuidar da cabeça. Serei obrigada a descansar, eu penso. Será que terei um colo? Um café com leite na cama pela manhã? Algúem que me ajude a tomar banho?
Em março, com o corpo ainda dolorido, eu tenho que poder levantar, andar pela sala. Até abril, vou até o quintal olhar pro céu. Só aí devo parar de chorar. O mal, se é que foi mal, já foi feito.
Maio, que pena, é frio. Mas vai ser nesse mês que vou voltar pra rua. Talvez pro trabalho. Acho que já vai dar pra beber um vinho, tomar um conhaque, um belo porre seria o ideal.
Em junho, juro, estarei de novo zero-bala, tentando, é lógico fugir de outro bonde que me atropela.

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Mais um papo

Queria ter sido apaixonada por você para poder salvar sua vida.

Mas consegui ver em você somente um bom amigo, aquele que me obrigava a ouvir o que eu já via, mas não queria enxergar.
Chorei por causa de tuas palavras mais de uma vez, senti ódio de você, mas nunca por mais do que cinco minutos.
Agora me assusto ao pensar que não o terei mais por perto pra me obrigar a escutar o que já sei mas não quero saber.

Com teu desaparecimento vislumbro o fim de um ciclo. Mergulho na minha alma. E me obrigo a não me esconder mais. Curioso efeito.
Me vejo obrigada a assumir o que sei, a exercer em mim o papel que você exercia, de ser impertinente, insistente, buscar a perfeição.
Mas também olho a sua vida por outro ângulo, percebo o que admiro mas também o que não quero ser. Tenho medo de acabar por trilhar a parte do seu caminho que num certo momento foi a mais fácil. Não sair do lugar por causa da vida. E era o que mais te fazia infeliz nos últimos anos. Sem sair do lugar, você acabou por não ter nenhum lugar.


Continuaremos sempre a ser a bons amigos.
Vamos nos ver ainda por aí.
O tempo é mais curto do que a gente imagina.
Saudades, PB.

sábado, janeiro 05, 2008

A árvore

Elas ficam verdes
depois vermelhas
aí vem o azul
e então o laranja.

Vêm lentamennnnte
com calma em princípio
como uma

maaa...rooo...la.

De RePeNtE eNLOuQuEcEm MiNhA ViSãO

CONGELAM!

E retomam o ritmo lento...

Paranovamentecorreremalucinadas!

Se misturam e
Todas juntas
Vão de novo

Desacelerando
Desaceleraanndo
Desaceleraaannndo

Até que voltam à completa PAZ do

Veerde
Vermeeelho
Azullll
e Larrraaanja.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

2008

Primeira postagem do ano... Tentarei não ser maus, mas estou, de fato, nem aí com o mundo.
Inspiração baixa, mas espírito feliz, porque de volta à casa, à lida normal, aos cheiros e temperaturas conhecidos, ao ritmo meu....

(O calor é engraçado... nos torna mais permissivos, mais sensuais, mais sonolentos... Dormi nos últimos sete dias como nunca. E só. Fiquei na vontade da permissividade... nem tanto da sensualidade.)

Volto da terra do calor infernal, do lugar onde o suor brota sem nenhum esforço, onde o ar pesa desde a madrugada até o anoitecer, onde o ventilador é amigo inseparável, onde as pálpebras caem sem nenhuma culpa e o regime se dá uma trégua...

Casa de mãe é sempre um paraíso, quando reina a paz. E, desta vez, a paz estava lá. Vou sentir até saudades do Ano Novo de 2008.

De satisfação, encho a cara com cevada. Daqui a pouco vou beber um vinho...

Lá também enchia a cara, mas nada como o porre em casa própria. Mesmo na casa da mãe, o porre tem que ser recatado, não dá pra falar um monte, pai e mãe e tia não estão acostumados a ver a boa moça perdendo as estribeiras.

(Entro em janeiro achando que não há mensagem possível pra mim neste início de 2008. E não fiz pedidos nem promessas de início de ano.
Tenho medo de ter desejos para 2008. 2007 foi além das minhas expectativas e ainda tento administrar o que meu veio, entender, curtir, agradecer. Porque sou supersticiosa e, aos céus, sempre acho prudente agradecer... )

Quero só que a vida continue como está, que eu consiga completar o que comecei e deixar feliz quem comigo ficar... Acho que é isso. Só isso. Será muita pretensão pra quem não tem pedidos de início de ano?

Expectativa baixa.
Mas estou feliz como nunca.

Acreditem!