Foi numa manhã como essas de inverno, de sol forte, céu azul e muito vento, que eu vi, surpreendida, o seu desespero. Wellington vivia em um abrigo. Era órfão ou tinha sido abandonado pela família, a gente nunca sabia direito. Mas o fato é que estava com pouco mais de 8 anos e era lindo. Quando eu comecei a acompanhar a rotina daquelas crianças, ele era o mais arredio. Depois, aos poucos, fomos ficando próximos e ele era o que eu mais amava. Acho que porque era ele o mais difícil de se lidar.
Naquela manhã, ele estava feliz da vida porque tinha ganhado uma pipa toda colorida. Ele e outros meninos do abrigo estavam curtindo os brinquedos, que vários tinham também. Várias pipas coloriam o céu do abrigo. O lugar era amplo.Tinha um descampado e lá Wellington corria e manobrava sua pipa no ar.
De repente, uma gritaria e o menino aparece correndo, vindo em minha direção, chorando, desesperado.
- Minha pipa!!! - era tudo o que ele conseguia dizer no meio dos soluços. Ele tinha perdido o brinquedo, cujo fio foi cortado por uma linha cortante.
Eu só conseguia lhe dar o meu consolo, mas dizer que aquilo não era nada, que a pipa era "só" um brinquedo, que a gente arrumava outro não adiantava. Ele não escutava, não queria abraço, nem carinho. Só corria e gritava. Ele voltou a se esconder no seu quarto. Toda a raiva contra o mundo parece que voltou ao seu coração. E eu me senti uma inútil.
Fui conversar com a psicóloga do abrigo e ela me explicou a situação. Disse que, para meninos como Wellington, desprovidos de tudo, a pipa, voando livre no ar, tinha um significado único - era a liberdade que ele queria ter. A liberdade que ele comandava. E que, naquele momento em que o fio foi cortado e ela voou para longe, no coração imaturo daquela criança pra lá de carente, era mais uma perda e um motivo de desesperança: significava que com o brinquedo colorido ia também sua chance de estar fora dali.
Eu entendi a lógica, mas continuei sem ter nada a fazer naquele momento. Simplesmente não sabia como agir, já que falar, com os meus argumentos lógicos, não adiantava nada. Wellington era só emoção, uma emoção que nem ele sabia descrever.
;-(
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terça-feira, agosto 09, 2011
segunda-feira, julho 25, 2011
Itamar
Inquieto e doce, como você.
No final, é isso o que fica. É o que importa.
Ou pelo menos É
o que Eu quero guardar de você.
;-)
No final, é isso o que fica. É o que importa.
Ou pelo menos É
o que Eu quero guardar de você.
;-)
domingo, maio 03, 2009
A profecia da Ana
Minha amiga Ana tem a mania de profetizar sobre a vida de seus amigos. Não ligo não. Acho divertido até, mesmo porque ela já acertou algumas vezes. Mas confesso que às vezes me dá um frio na espinha o que ela diz sobre o meu possível futuro.
A última profecia da Ana é sobre a solidão. A minha solidão.
Não ligo de estar só. De verdade, estou curtindo o "descasamento" em doses homeopáticas. Foi uma escolha minha e, aos poucos, vou fazendo o que posso para consolidá-la, digo, a separação.
Assim, o primeiro passo foi estar só do ponto de vista afetivo. Ou seja, já está claro para mim e para o outro que acabou, que somos amigos e podemos viver bem com isso. E está sendo ótimo para mim viver isso no dia-a-dia. Por si só já é uma história bem diferente das que conheço por aí sobre separações, a maioria delas dramáticas e rancorosas. É lógico que há dor no processo, mas eu estou me saindo bem com ela e acho que ele também.
Até a Bia já entendeu que vamos morar em casas separadas e tem me acompanhado na melhor parte desta fase da nossa história: a procura pela nova casa ideal. Tem sido delicioso olhar aps ocupados, vazios e até em construção.
Então, voltando à Ana, o que ela diz é que, de fato, apesar desta minha solidão por opção, eu ainda não estou assim tão só. Porque ainda não mudei de casa, minha separação ainda não é visual para o grande público e a Bia está sempre comigo.
E ela profetiza que a pior parte, a que é mais dolorida ainda do que a descoberta que o casamento acabou, é a solidão quando ninguém mais estará comigo no dia-a-dia. "Aí você vai sentir!"
E que ninguém pense que ela diz isso por mal, porque a Ana nunca quer o meu mal. Ela fala isso como falaria "nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos". Para ela, esse será o curso natural das coisas. Ela profetiza: você só saberá o quanto está curtindo a solidão quando o telefone tocar e não tiver vontade de atender. Só aí, completa, estará feliz se sabendo sozinha de verdade.
Pode ser, Ana, eu digo. Mas o fato é que tudo até agora foi encabeçado e decidido por mim. E as decisões sempre foram solitárias, por mais que eu buscasse ajuda, apoio e conselhos aqui e ali. E eu também não acredito que as fórmulas são iguais para todos. Aliás, tenho a pretensão de fazer as coisas diferentes. É um desafio pessoal.
Por tudo isso, amiga, se tiver que vir a tal da "solidão pior", que venha. Eu estou duvidando.
E, se vier, no fundo, no fundo, eu acho que já estou bem preparada para ela.
:-)
A última profecia da Ana é sobre a solidão. A minha solidão.
Não ligo de estar só. De verdade, estou curtindo o "descasamento" em doses homeopáticas. Foi uma escolha minha e, aos poucos, vou fazendo o que posso para consolidá-la, digo, a separação.
Assim, o primeiro passo foi estar só do ponto de vista afetivo. Ou seja, já está claro para mim e para o outro que acabou, que somos amigos e podemos viver bem com isso. E está sendo ótimo para mim viver isso no dia-a-dia. Por si só já é uma história bem diferente das que conheço por aí sobre separações, a maioria delas dramáticas e rancorosas. É lógico que há dor no processo, mas eu estou me saindo bem com ela e acho que ele também.
Até a Bia já entendeu que vamos morar em casas separadas e tem me acompanhado na melhor parte desta fase da nossa história: a procura pela nova casa ideal. Tem sido delicioso olhar aps ocupados, vazios e até em construção.
Então, voltando à Ana, o que ela diz é que, de fato, apesar desta minha solidão por opção, eu ainda não estou assim tão só. Porque ainda não mudei de casa, minha separação ainda não é visual para o grande público e a Bia está sempre comigo.
E ela profetiza que a pior parte, a que é mais dolorida ainda do que a descoberta que o casamento acabou, é a solidão quando ninguém mais estará comigo no dia-a-dia. "Aí você vai sentir!"
E que ninguém pense que ela diz isso por mal, porque a Ana nunca quer o meu mal. Ela fala isso como falaria "nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos". Para ela, esse será o curso natural das coisas. Ela profetiza: você só saberá o quanto está curtindo a solidão quando o telefone tocar e não tiver vontade de atender. Só aí, completa, estará feliz se sabendo sozinha de verdade.
Pode ser, Ana, eu digo. Mas o fato é que tudo até agora foi encabeçado e decidido por mim. E as decisões sempre foram solitárias, por mais que eu buscasse ajuda, apoio e conselhos aqui e ali. E eu também não acredito que as fórmulas são iguais para todos. Aliás, tenho a pretensão de fazer as coisas diferentes. É um desafio pessoal.
Por tudo isso, amiga, se tiver que vir a tal da "solidão pior", que venha. Eu estou duvidando.
E, se vier, no fundo, no fundo, eu acho que já estou bem preparada para ela.
:-)
sexta-feira, abril 20, 2007
Vontades
Quero ficar aqui quieta no meu canto
Ouvindo só o que dizem as minhas próprias dúvidas
Quero olhar essa tela e já ver tudo escrito
E só ter o trabalho de transpor o meu saber para o seu olhar
Quero falar baixinho
E sentir que o outro ouviu o meu grito
Quero te contar tudo sem falar palavra
Para você ter certeza que estou ao teu lado
Quero abrir a janela e respirar o cheiro de biscoito
E me sentir ainda como uma criança
Quero fechar os olhos e me sentir flutuando
Quero ter direito à minha solidão
Quero que você me pegue de surpresa
De um jeito que eu não possa lhe dizer não
Quero deitar agora como se fosse para sempre
Para encontrar bracinhos finos procurando o meu pescoço
O que é um bom jeito de dormir em paz
Ouvindo só o que dizem as minhas próprias dúvidas
Quero olhar essa tela e já ver tudo escrito
E só ter o trabalho de transpor o meu saber para o seu olhar
Quero falar baixinho
E sentir que o outro ouviu o meu grito
Quero te contar tudo sem falar palavra
Para você ter certeza que estou ao teu lado
Quero abrir a janela e respirar o cheiro de biscoito
E me sentir ainda como uma criança
Quero fechar os olhos e me sentir flutuando
Quero ter direito à minha solidão
Quero que você me pegue de surpresa
De um jeito que eu não possa lhe dizer não
Quero deitar agora como se fosse para sempre
Para encontrar bracinhos finos procurando o meu pescoço
O que é um bom jeito de dormir em paz
terça-feira, abril 03, 2007
Migalha
Ela só lhe dá uma migalha do seu coração.
Queria lhe dar mais.
Ele mereceria toda a sua atenção, todo o seu tempo, todos os seus pensamentos...
Mas ela não consegue.
É incapaz e, por ser incapaz, já chegou a sentir culpa.
Porque ele... ele está sempre ali.
Ele a considera tanto, ele a quer tanto e ele a respeita tanto,
que a comove.
E, pior, ele não lhe cobra nada.
Quando ela o dispensa, ele aceita.
Quando ela adia os seus encontros, ele entende.
Quando ela lhe pede um favor, ele faz.
E não faz por submissão, porque ela não o obriga.
Nem para agradá-la, porque ela não é um tipo que se adule.
Ou mesmo por falta de amor próprio, porque ela nunca o ofende.
Ele apenas faz porque sente prazer.
E ela apenas aceita.
E cala sobre o que não sente.
E, se ele percebe, prefere fazer de conta que não vê.
Ela já tentou amá-lo como ele a ama.
Mas não consegue.
Simplesmente porque, por ele,
não sente nem a atração que vem pelo corpo
e nem a paz que vem pela alma.
Sente apenas afeto sincero,
mais parecido com gratidão.
Queria lhe dar mais.
Ele mereceria toda a sua atenção, todo o seu tempo, todos os seus pensamentos...
Mas ela não consegue.
É incapaz e, por ser incapaz, já chegou a sentir culpa.
Porque ele... ele está sempre ali.
Ele a considera tanto, ele a quer tanto e ele a respeita tanto,
que a comove.
E, pior, ele não lhe cobra nada.
Quando ela o dispensa, ele aceita.
Quando ela adia os seus encontros, ele entende.
Quando ela lhe pede um favor, ele faz.
E não faz por submissão, porque ela não o obriga.
Nem para agradá-la, porque ela não é um tipo que se adule.
Ou mesmo por falta de amor próprio, porque ela nunca o ofende.
Ele apenas faz porque sente prazer.
E ela apenas aceita.
E cala sobre o que não sente.
E, se ele percebe, prefere fazer de conta que não vê.
Ela já tentou amá-lo como ele a ama.
Mas não consegue.
Simplesmente porque, por ele,
não sente nem a atração que vem pelo corpo
e nem a paz que vem pela alma.
Sente apenas afeto sincero,
mais parecido com gratidão.
quarta-feira, março 28, 2007
Maridão
Odeio essa palavra! Acho de extremo mau gosto o que vem na entrelinha da expressão: "seu maridão..."
Vem sempre com uma maledicência, uma insinuação de que ele, o marido, é um bem de consumo, uma coisa, um objeto que precisa ser preservado a qualquer custo, manipulável ao belprazer da mulher, algo de segunda categoria.
É ainda pior quando vem assim a fala: "Essa é pra segurar o maridão!". Quem precisa segurar o quê, cara pálida? Por que as pessoas acham que toda mulher quer "segurar" o outro, quer manter alguém pra sempre grudado do seu lado, como se a sobrevivência dela dependesse disso? Seria por que a solidão é assustadora para maioria?
Sei que há mulheres que temem a solidão. Eu também tenho medo às vezes... Mas, Deus, não dá pra se agarrar no medo! Será que não percebem que tem gente diferente. Eu sou diferente! Conheço dezenas de mulheres diferentes.
Odeio quando me perguntam: "cadê o maridão?" O que me irrita é essa necessidade de posse e controle que a maioria tem.
As pessoas são únicas, independentes, não nasceram ligadas. Se encontram, se apaixonam, se amam, ficam juntas, se separam. Faz parte. Cada passo pode doer, de dor ou de prazer, mas é a intensidade de cada passo que dá a graça dessa coisa chamada vida.
E ficar com alguém é mais do que "segurar". É primeiro conquistar, depois dividir, ser cúmplice, manter prazeres e ainda passar por cima de dissabores. E isso sim é difícil!
O que me deixa ainda mais indignada é a falta de consideração com o outro, o marido, como se ele não tivesse parte nisso, fosse alguém estúpido e sem vontades, à disposição da mulher.
Então, vamos combinar: eu não tenho "maridão". Tenho amigo, companheiro, parceiro, namorado, marido, amante ou homem. São nomes melhores, que dizem muito mais de uma relação do que o estúpido "maridão".
Hoje estou com ele. Amanhã, quem sabe?
Vem sempre com uma maledicência, uma insinuação de que ele, o marido, é um bem de consumo, uma coisa, um objeto que precisa ser preservado a qualquer custo, manipulável ao belprazer da mulher, algo de segunda categoria.
É ainda pior quando vem assim a fala: "Essa é pra segurar o maridão!". Quem precisa segurar o quê, cara pálida? Por que as pessoas acham que toda mulher quer "segurar" o outro, quer manter alguém pra sempre grudado do seu lado, como se a sobrevivência dela dependesse disso? Seria por que a solidão é assustadora para maioria?
Sei que há mulheres que temem a solidão. Eu também tenho medo às vezes... Mas, Deus, não dá pra se agarrar no medo! Será que não percebem que tem gente diferente. Eu sou diferente! Conheço dezenas de mulheres diferentes.
Odeio quando me perguntam: "cadê o maridão?" O que me irrita é essa necessidade de posse e controle que a maioria tem.
As pessoas são únicas, independentes, não nasceram ligadas. Se encontram, se apaixonam, se amam, ficam juntas, se separam. Faz parte. Cada passo pode doer, de dor ou de prazer, mas é a intensidade de cada passo que dá a graça dessa coisa chamada vida.
E ficar com alguém é mais do que "segurar". É primeiro conquistar, depois dividir, ser cúmplice, manter prazeres e ainda passar por cima de dissabores. E isso sim é difícil!
O que me deixa ainda mais indignada é a falta de consideração com o outro, o marido, como se ele não tivesse parte nisso, fosse alguém estúpido e sem vontades, à disposição da mulher.
Então, vamos combinar: eu não tenho "maridão". Tenho amigo, companheiro, parceiro, namorado, marido, amante ou homem. São nomes melhores, que dizem muito mais de uma relação do que o estúpido "maridão".
Hoje estou com ele. Amanhã, quem sabe?
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
O Outro
Faço de conta que você é o outro que já passou para poder conviver com você
Mas te reencontro como é várias vezes
Imagino que te encaro, que converso
E tento não enxergar em você o que gostaria que fosse
Me esforço para colocar uma pedra sobre nós dois
Mas as sensações escorrem por baixo dela
Líquidas, elas se renovam a cada dia
Me volto pra dentro, me encaro, quero parar
Não sou mais a mesma, você nunca mudou
É um alguém estático no tempo
Você não se recicla
Mas te reencontro como é várias vezes
Imagino que te encaro, que converso
E tento não enxergar em você o que gostaria que fosse
Me esforço para colocar uma pedra sobre nós dois
Mas as sensações escorrem por baixo dela
Líquidas, elas se renovam a cada dia
Me volto pra dentro, me encaro, quero parar
Não sou mais a mesma, você nunca mudou
É um alguém estático no tempo
Você não se recicla
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