domingo, novembro 19, 2006

Sem virar o pote

Por quanto tempo a gente consegue enganar o ciúmes? Porque ele é sim o pior sentimento que existe entre dois. Dói e destrói a gente por dentro, se exagerado. Só é útil se vier em doses homeopáticas, até divertidas, mas a tentação de engolir o pote numa talagada só às vezes é muito maior do que a nossa capacidade de ponderação.

E o ciúmes é diferente para cada um. Uma prima tinha ciúmes de qualquer outra mulher que se aproximasse do seu marido. Era como uma doença. Hoje ela está chata e só, e ele está feliz com outra. Não é um bom exemplo.

Tipo Carrie Bradshow, em Sexy and the City, sai por aí outro dia checando como as pessoas sentem o ciúmes. Velha mania de racionalizar tudo. Foi um bom exercício.

Achei um cara casado que curte sexo com a mulher e mais alguém. Ótimo exemplo. Tudo bem desde que fossem duas garotas e ele sozinho. "Outro cara na cama com minha mulher, sei não..." "Mas e se ela se apaixonasse pela outra?", perguntei. Ele nunca tinha pensado nisso e não conseguiu responder. Travou. Acho que deixei ele com a pulga atrás da orelha.

Um casal de amigos aceita a troca de casais, desde que tudo esteja muito transparente. Mas ela tem ciúmes, me contou, um ciúmes sutil. Ela se incomoda quando a outra mulher ou o outro homem não percebem o seu lugar. "Quando eles acham que podem mudar alguma coisa entre nós. Eu e o meu marido, nós nos amamos".

"Tenho ciúmes quando vejo que conversou com outra no orkut, quando outra está perto dele e até dos amigos", disse uma menina que conheço. Isso é doentio, achei. Mas é muito comum.

Eu mesmo senti essas coisas há 20 anos e fugi sem olhar pra trás. Naquela época, eu achava que tínhamos que dar o direito ao outro de ficar com outras pessoas. Mas não tive estômago para aguentar o tranco. Na época, foi o melhor que podia fazer por mim: sair fora.

Ouvi várias histórias, mas a melhor veio de uma figura tranqüila, que aparentemente vive de bem a vida. Nunca imaginei que sentisse ciúmes de alguém. Ela falou assim:

"Eu decidi aceitar o convite pra tomar uma cerveja com eles. Era um desafio e tanto. Eu sabia que ele estaria com a namorada. Fui pensando como me sentiria, quantas vezes me imaginaria subindo no pescoço dos dois. Mas vamos lá, coragem, eu pensava. Você tem que superar, já que só podem ser amigos mesmo. Cheguei e sentei estrategicamente na frente da garota. Estranhamente não senti nada. Ou melhor, sentia pena. A cada palavra que ela soltava eu pensava: o que ele viu nessa mulher. Ela não é nem bonita e nem inteligente. A voz é esganiçada. E as idéias, dispensáveis. Eu olhava pra ela, olhava pra ele, e não sentia onde aquela história se encaixava. Me sentia bem por não ter ciúmes, vitoriosa mesmo. Foi aí que aconteceu o imponderável. De repente, o celular dele tocou. Atendeu e passou pra ela, falando um nome. ‘Oi, meu amor, a mamãe já vai pra casa’, ela disse algo assim. 'Droga', eu pensei! 'É o filho da garota, ligando no celular dele, que droga!' Olha aí, Vivi, foi isso, não tive ciúmes dela logo de cara, mas tive ciúmes daquela situação tão íntima que, com o telefonema, percebi que existia entre os dois. O chão saiu debaixo dos meus pés. O boteco estava fechando, todo mundo indo embora, e eu também aproveitei a deixa. Amiga, entrei naquele carro destruída. Chorei até chegar em casa."
"Mas, baby", eu respondi, "podia não ser nada disso. Vocês já tinham bebido, pode ter imaginado coisas...".
"Eu sei, Vivi, mas é disso que eu estou falando. Eu não sei o que está acontecendo ali".

Concluo que o ciúmes é, mais do que sentimento de posse ou de amor, como muita gente defende, é algo sobre a nossa falta de segurança. Temos ciúmes quando não sabemos o que se passa. O ciúmes vem daquilo que não conhecemos.

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