Insinuante. Este era o atributo exato para Maria Dejanira. Sempre foi assim: fingia ser o que não era, ter feito o que nunca alcançou oportunidade, só para provocar os outros, desestruturar amizades, colocar dúvidas em relacionamentos honestos. Era uma marca de sua personalidade. Se divertia com isso. Na maioria das vezes se dava bem, mas quando se dava mal...
Encontrei Maria Dejanira a primeira vez em um ônibus da minha escola. Íamos a uma excursão de estudantes. Meu professor levou a namorada. Mulher bonita, segura, liberal se comparada com as mulheres mais velhas que eu conhecia até então. Mas era quieta, ria com a molecada adolescente, mas não se metia nas brincadeiras.
Os meninos da minha turma eram abusados, adoravam falar bobagens. E, para brincar com o professor, diziam que, para tirar boa nota na prova, tinham até que beijá-lo na boca. E todo mundo dava risada. Até que Dejanira resolveu aparecer. Parou insinuante ao lado da poltrona do casal e soltou a bomba: “Se é assim eu já passei, né, ‘fessor’?”
O silêncio foi total. A namorada do professor ficou vermelha de raiva e fulminou a menina. Entendeu que era provocação, e todo mundo esperando o escândalo da moça. Mas o professor só apertou forte a sua perna, como que implorando para ela não fazer nada. E nada aconteceu de mais grave.
Anos depois, encontrei uma amiga num café. Jandira estava furiosa. Tinha acabado de ter uma discussão feia com a ex-secretária de seu noivo. Confiava em Rodrigo, mas aquela mulher intrometida a tirava do sério. "Meu noivo era o gerente da empresa, e, por trabalhar com ele, ela acha que mandava ali, que podia tanto quando ele." E começou a me contar o quanto a mulher dava palpites na vida pessoal do patrão e, de tabela, na dela também.
"Rodrigo sofreu uma cirurgia no final do ano, e ela me ligava para contar o que ele fazia de errado em relação à saúde. Depois, começou a dizer que eu e ele tínhamos que sair mais para ele se divertir, já que Rodrigo trabalhava muito. E, por fim, acabou insinuando que tinha de ir junto!"
Por causa das intromissões da secretária, Jandira chegou a brigar com o noivo e pedir para ele despedir a moça. “Ela era tão atrevida que espalhou pela empresa um boato que eles tinham um caso. E eu ficava com ciúmes, porque ela é bonita, tem presença”. O clima entre ela e o noivo por causa da secretária estava mais que azedo, quando ele e a moça foram demitidos. “Quer saber, fiquei aliviada, porque ela não ia mais me encher.” Mas qual não foi a surpresa de Jandira quando a garota ligou para ela para reclamar que Rodrigo não a procurava mais, não atendia seus telefonemas, e que queria voltar a trabalhar com ele. “Eu surtei, Vivi. Marquei um encontro com ela e disse que o Rodrigo também ia, para eles conversarem. Quando ela chegou no bar, estava toda emperequetada e feliz: ‘Cadê o Rodrigo?’, ela me perguntou”.
“E o que você fez?”, perguntei, já ansiosa para saber o fim da história.
“Acabei com o lindo rostinho dela.” Ah! O nome da secretária: Maria Dejanira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário