O Carnaval para mim parece um sonho.
Na concentração, eu ando no meio de alas, plumas e penas coloridas me roçando, lantejoulas brilhando nos meus olhos. Os integrantes me olham com curiosidade, afinal, o que será que quer essa pessoa sem fantasia passeando no meio de nós, cheia de fios e fones e celulares pendurados.
Eu me desvio das saias rodadas das Baianas, como se fosse um tipo de pecado encostar naquelas franjas. Umas me olham com bondade, outras com uma certa pena porque, afinal, eu não posso estar mais feliz do que elas naquele momento.
Parecem deusas as Rainhas e Madrinhas, seminuas, nuas, só pintadas, mulheres gigantes, perfeitas em suas plataformas ou saltos agulhas, sempre impecáveis ali. É bom pensar que, fora daquele furor, elas são tão humanas quanto eu, ou você. Mas ali, elas são únicas e intocáveis. Eu, porém, posso esticar a minha mão e tocá-las, sentir que são reais, e ter certeza que é possível ser assim uma deusa naturalmente humana, de carne e osso. Os deuses não deviam ser etéreos. E nem os anjos.
Mas a melhor parte de tudo é mesmo a Bateria. Fecho os olhos e fico ao lado, no corredor de serviço, parada, enquanto o bum bum e o taratata explodem no meio da avenida. É impossível não se emocionar com a emoção e a força dos integrantes da Bateria. Eles estão em outro mundo naquele momento. Um mundo em que só mora o som. Também é impossivel manter o corpo parado. Ele vibra sozinho. Cada músculo, cada osso, cada nervo e o coração vibram no compasso da Bateria. É isso que é sentir o som. É tão forte que, quando percebo, tenho que pular, dançar, mesmo se quiser ficar parada. O meu corpo, nessa hora, não obedece a minha vontade.
Mas lá se foi mais um Carnaval.
O que eu não gosto é da maratona, da tensão anterior, do vazio que fica depois.
Mas do resto, confesso, eu não gostaria de ficar sem.
:-)
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