sexta-feira, março 25, 2011

...em A Burrice do Demônio

Um colega colocou isso no Facebook e eu adorei.....  É do Hélio Pellegrino

"Assim, deslembrados e alertas, falamos dos íntimos silêncios de carne, de que somos feitos. O sonho, com seu rosto eidético é lâmina de significação que nos trespassa, de um lado a outro. Por isto, em sua imaterialidade, tem um peso de rocha - ou de destino. Acontece que nós, humanos, nas lajes do chão que nos suporta, somos signo e linguagem, enraizados no coração selvagem da vida. É dessa floresta, cheia de rumores confusos, que nos virá o alfabeto pelo qual vamos tentar a decifração do mundo. Um bloco de granito pode ser a matéria que vou talhar para, de seu tutano, extrair o barco de pedra que me levará ao naufrágio. Ou a lápide do meu túmulo, se me disponho a morrer em terra. Ou o monumento por cujo intermédio grito para o mundo minha utopia - ou minha revolta. Seja como for, leio o granito a partir do meu sonho, é este que o decifra - e o trabalha.

Aí, no nascedouro do desejo, está a fome. Dela irão fluir as torrentes de fogo e gelo, os acenos, encontros, despedidas. Sou, por um lado, o meu desejo e, por outro, a espessura terna ou hostil da facticidade que me rodeia. Sou lançado no mundo na angústia e no risco, e o mundo - insistente - me obriga a ser, mesmo quando não quero ser. O mundo me provoca, me convoca, suas flechas estilhaçam o casulo narcísico onde - transido - me recolho, luzes e vozes compõem um enorme vitral diante de mim: tenha eu olhos para ver."

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