terça-feira, agosto 09, 2011

A linha rompida

Foi numa manhã como essas de inverno, de sol forte, céu azul e muito vento, que eu vi, surpreendida, o seu desespero. Wellington vivia em um abrigo. Era órfão ou tinha sido abandonado pela família, a gente nunca sabia direito. Mas o fato é que estava com pouco mais de 8 anos e era lindo. Quando eu comecei a acompanhar a rotina daquelas crianças, ele era o mais arredio. Depois, aos poucos, fomos ficando próximos e ele era o que eu mais amava. Acho que porque era ele o mais difícil de se lidar.
Naquela manhã, ele estava feliz da vida porque tinha ganhado uma pipa toda colorida. Ele e outros meninos do abrigo estavam  curtindo os brinquedos, que vários tinham também. Várias pipas coloriam o céu do abrigo. O lugar era amplo.Tinha um descampado e lá Wellington corria e manobrava sua pipa no ar.
De repente, uma gritaria e o menino aparece correndo, vindo em minha direção, chorando, desesperado.
- Minha pipa!!! - era tudo o que ele conseguia dizer no meio dos soluços. Ele tinha perdido o brinquedo, cujo fio foi cortado por uma linha cortante.
Eu só conseguia lhe dar o meu consolo, mas dizer que aquilo não era nada, que a pipa era "só" um brinquedo, que a gente arrumava outro não adiantava. Ele não escutava, não queria abraço, nem carinho. Só corria e gritava. Ele voltou a se esconder no seu quarto. Toda a raiva contra o mundo parece que voltou ao seu coração. E eu me senti uma inútil.
Fui conversar com a psicóloga do abrigo e ela me explicou a situação. Disse que, para meninos como Wellington, desprovidos de tudo, a pipa, voando livre no ar, tinha um significado único - era a liberdade que ele queria ter. A liberdade que ele comandava. E que, naquele momento em que o fio foi cortado e ela voou para longe, no coração imaturo daquela criança pra lá de carente, era mais uma perda e um motivo de desesperança: significava que com o brinquedo colorido ia também sua chance de estar fora dali.
Eu entendi a lógica, mas continuei sem ter nada a fazer naquele momento. Simplesmente não sabia como agir, já que falar, com os meus argumentos lógicos, não adiantava nada. Wellington era só emoção, uma emoção que  nem ele sabia descrever.
;-(


2 comentários:

Nádia Argeri Burghi disse...

Não poder fazer nada é horrível, né? Já vivi isso algumas vezes... Mas o pior mesmo é que nossa impotência não é nada diante do outro.

Vivi disse...

:-(

bjos