segunda-feira, janeiro 23, 2006

Sol, piscina e o enterro do titio

O dia começou cedo demais naquele domingo. Pouco antes das cinco o telefone já tocou. É lógico que não podia ser coisa boa. Era a Sonia: ‘Vi, o tio Candinho morreu. Passou mal, a Cris chamou o resgate e ele morreu no caminho do hospital’... Tio Candinho... Sabe aquele vovozinho franzino, que fala baixo e manso e que todo mundo gosta? Fazia mais de cinco anos que não o via. A última vez foi num dia de festa, em Londrina, quando ele e tia Dirce fizeram bodas de ouro. E eu estava grávida da Bia. ‘Dorme Vi, que seu dia vai ser longo’. Esse foi o decreto do Mauro.

Oito horas da manhã e o telefone toca de novo. Dessa vez meu pai, querendo saber se eu sabia mais da morte, do velório, do enterro e tudo mais. E eu com sono voltei pra cama. Mas a Bia não me deixou dormir. A cabecinha da menina de 5 anos já tinha planejado todo meu domingo de folga. ‘Vamos pra piscina do ‘cube’, mãe; aquela que tem um escorregador.’ Não dava pra escapar. Que dia seria esse...

Sol escaldante, canga, protetor solar, cerveja, piscina... Ah!!! Piscina!!! Minha família chorando a morte do meu tio e eu brincando de trenzinho na piscina!!! Lá pelas tantas, decidimos enfrentar a hidroginástica a três: eu, Mauro e Bia. A cena era surreal. Uma gorda mostrando exercícios. De repente, o inimaginável no clube da famíla: Atoladinha... Atoladinha.... O que que era aquilo??!! Eu já estava enlouquecendo de tanto rir e aí a qualidade do repertório piorou: É som de preto, de favelado, mas quando toca, ninguém fica parado... E dá-lhe ver aquele monte de jovem senhora dançando Tati Quebra-Barraco... No fim, Só love, só love...

Mas o dia não tinha acabado... Eu tinha um velório e um enterro pela frente. E o que era pior: em São Vicente. Deixamos a Bia na sogra, pegamos o Ric e a Landinha e lá fomos nós, Serra abaixo. A emoção é inevitável nessas situações. Você nem chora pelo morto, que, no caso, coitadinho, tinha 80 e se recuperava do segundo atropelamento. Ele era um herói. Mas você chora pelos outros. Pela tiazinha que ficou viúva, pelas irmãs do tio, tão velhinhas quanto ele, que com a morte vêem sua vida inteira passar na memória como um filme... Fiquei lá, tentando amparar tia Landa e tia Lylia. E você chora pelas primas e primos, filhos órfãos, pelos netos que admiravam aquele avô... Essas coisas.

Mas velório que se preze tem também aquele delicioso falatório do reencontro com o povo que há anos você não vê, com a molecada que cresceu e virou moça, com as belas mulheres que continuam belas e outras que envelheceram demais. ‘Vi, prima, você está linda’... Uau, que elogio do primo gato, hoje senhor, que me mimava e pegava no colo quando eu tinha cinco... ‘Vi, você sempre alegre de bem com a vida’.. E dá-lhe abraços, beijos, elogios recíprocos.

E o dia não acabaria ainda. Duas horas de subida de Serra, e um lanche na casa do Ric, com direito a panqueca e tudo. A tristeza do velório e do enterro ficou na Baixada. Na mesa da cozinha, só alegria. Chorando de rir de piadas caseiras e corujices maternas.

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