Primeiro, foi o frio absurdo do Sul por opção.
Minuanos no rosto, a pele doendo, vermelha, trincada, prestes a sangrar.
Mas, por recompensa, as cores de gorros, luvas, cachecóis e sobretudos, as emoções de trenós e cavalos no meio de matas e a noite regada a vinho seco e bom e fondue, a cama aquecida de carinho e edredon. O calor do merecido e caro descanso.
Pouco tempo e vem o frio da terra, cinza, úmido e fedido. Mas, enfim, é este o chão que lhe pertence.
A chuva fina que deprime, o desânimo do não ter e nem saber o que fazer e a coragem de ficar apenas sob o velho cobertor xadrez, vendo filmes infantis durante a tarde, curtindo um ócio merecido e uma espera interminável. Vinho só o doce e barato. Sopa, só congelada. Calor? Só o de dentro, formado por fantasias inconfensáveis.
E agora, é este frio interminável de manhãs escuras que nunca clareiam naquela sala, as mãos e os pés como gelo que não derrete, no peito o ar rasga e dói: ele falta e te desrespeita.
A fricção é inútil e mesmo as blusas se amontoam em seu corpo sem nenhum resultado.
À noite, a água do chuveiro deve ferver, o aquecedor deve estar no seu limite máximo e o pijama deve se parecer com roupa de palhaço. É o único aconchego, o melhor. O calor vem da raiva, mas há consolo no abraço.
E, em tudo, também há a lágrima que, se cair, virá fria, ácida ou amarga, como o seu tempo.
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