Elas ficam lá, sentadas, balançando as perninhas, cada uma em um ombro meu, discutindo a minha vida, decidindo o meu destino. Se eu deixar, elas fazem minhas ligações e assumem a minha fala.
Uma se veste com um anjo bom, toda de prata. A outra usa uma roupa marrom escuro, meio avermelhado, brilhante também. Uma fala assim:
- Ele não te ama, ponha isso na sua cabeça!
A outra replica:
- Ah, ele a ama sim. Tenho certeza!
Uma me dá bronca:
- Você já andou tanto pra frente! Não vai recuar agora, né?
E a outra argumenta e passa a mão na minha cabeça:
- Tá querendo pensar mais? Pensa, você faz bem...
Eu adoro é ficar de fora da conversa delas, elas brigando debaixo do meu nariz, ou atrás do meu pescoço, na minha nuca, e eu só observando. Olho pra uma e depois pra outra, às vezes rindo, outras brigando: "Dá pra parar de falar você duas?"
Não adianta. Meu protesto é em vão. Elas nunca páram. Ainda bem.
- Muda de cabelereiro e faz um corte bem fashion!
- Não, não, deixa ele crescer!
- Ficaram ótimos estes óculos.
- Na verdade, acho que você escolheu mal.
- Eu te disse que isso não ia dar certo!
- Ela fez o que achou que devia!
- Chuta o balde!
- Vai com calma.
- Liga.
- Desaparece.
- Confia.
- Desiste.
- Esquece.
- Insiste.
Elas se parecem mesmo com o anjo e ao diabinho dos desenhos animados, a boa e a má consciência de cada um. Nunca sei direito quem é quem. Elas vivem trocando de lugar. A prateada fica marrom. A marrom fica prateada. Depois, quando presto atenção de novo, voltam como num estalo ao seu outro estado. Só sei que nenhuma delas é má de coração. E nenhuma é boa demais. Mas sei que as duas só me querem bem.
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