A pergunta veio assim de surpresa, sem que eu nem sequer imaginasse que iria aparecer.
- Dois anos - respondi rápido, fazendo uma conta de cabeça que sabia não ser muito fiel. Mas era a mais fácil de explicar.
Tinha várias outras formas de responder, várias outras contas pra fazer, mas aquela era uma conversa tão informal, pra preencher o espaço do intervalo entre nossas aulas. E ele estava só curioso, queria puxar assunto, por que eu ia complicar a história, dar explicações prolongadas?
- Dois anos de separação de corpos. Mas faz pouco mais de um que sai da casa onde morávamos para o meu apartamento.
Enquanto ele me dava conselhos de como encarar esta fase (curioso que muita gente gosta de dar conselhos para separados), eu ia repassando toda a minha história na cabeça. É que eu adoro repassar minha história, me fortalece, me faz sentir um orgulho danado de mim mesma. Eu sei que minha história é rara. Se antes eu e o meu ex éramos um casal ideal, agora somos um ex-casal ideal, com uma separação ideal, fora do comum. Acho isso bom.
Pensei que minha conta poderia ser assim. Tudo na base do cerca de... É que nessas coisas de relacionamento parece que o tempo tem outra dimensão. Não é possível contar com precisão as horas, os dias, os anos. Às vezes, um dia de relação parece um ano..
Mas, voltando à métrica mais "social", acho que ficaria assim.. cerca de:
- Um ano (de separação de casas)
- Dois (de corpos)
- Três (de mente. A decisão tomada, mas a ação paralisada pelo medo da solidão)
- Quatro (a descoberta que acabou, que casamento não se faz só de respeito, mas também de paixão e tesão)
- Cinco (sensação de que algo vai mal, mas não se sabe o que. Será que é minha culpa?)
- Dez (certeza de que há amor e respeito, mas casar não vai dar certo, mas já que estamos aqui, vamos lá)
- Quinze (não há paixão, mas temos respeito e amor construído no relacionamento. Belo discurso, vamos morar juntos, mas acho que não vivo com ele por toda a minha vida)
Ou seja, a gente sempre sabe lá no fundo o que precisamos e, mesmo assim, teimamos em ir contra a nossa intuição. Mas não me culpo mais, porque também há coisas que precisavam ser vividas com ele, o ex. E eu fui muito feliz com, sempre digo. Quando deixei de ser feliz, era a hora de parar.
Só que agora, que a calmaria voltou e a vida parece tomar outro rumo, ou que eu passei a fazer o rumo da minha vida, às vezes lembro do que foi mais difícil. E, incrível!, ainda tenho vontade de chorar!
Quando decidi, imaginei quem me apoiaria e quem seria contra mim. Acho que todo mundo faz isso. Engraçado o quanto me enganei. O pânico e o silêncio vieram de quem eu esperava apoio. Não parceria - porque há coisas que só se podem fazer sozinha, e separação é uma delas - mas apoio, ombro.
E o meu pai, de mais de 70 anos, de quem eu esperava levar o maior sermão da vida, de quem esperava todas as palavras de desencorajamento num discurso moralista, fez exatamente o oposto. E eu passei a admirá-lo mais que tudo nesta vida. Ele disse assim:
- Ah, filha, é por isso que você está assim, sofrendo? Por que quer se separar?! Larga a mão disso, larga esse cara e vai cuidar da sua vida! Você pode muito bem cuidar da sua filha sozinha!
E ele estava certo. Eu posso. Eu já estou.
;-)
3 comentários:
Compartilho das mesmas idéias que vc Vivi, as mulheres sempre darão conta do recado!!! ´Parabéns pra gente
Tks, dear, você só esqueceu de deixar seu nome. Agora, não sei quem é.
bjs de todo jeito.
música de presente... essa é pra pensar, também!
bjs
San
http://www.youtube.com/watch?v=5TFO-FalIdY
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