quinta-feira, agosto 04, 2011

Uma cena na esquina

Acho que só ela viu que eu chorei.
Paralisada atrás do  meu volante, sem piscar para não perder nada da cena que, para minha surpresa, se desenrolava na frente. Eu estava hipnotizada, como numa sala de cinema. Mas estava parada num farol.
A pequena e o gigante.
A menininha dando uma flor a um homem embrutecido pela cidade, pela fuligem, pelo trânsito e pela pobreza. Mas ela dizia com os olhos e os gestos tímidos que aquele grandalhão era tudo para ela, seu porto. Ele era doce.
Só a mulher  percebeu que eu vi. Ela olhava a filha, segurava o bebê e me observava, incrédula com a minha reação. E ela sorriu para mim, disfarçando também, meio cúmplice, como que aprovando minhas lágrimas que já ardiam debaixo daquele sol abafado de duas da tarde.
Ela percebeu que eu entendi? Que eu captei a mensagem?
Acho que sim.
Ele, por outro lado, diz pra me provocar que isso não é motivo de história, que as picantes são sempre melhores, que flores para pais presenteadas por menininhas são cenas comuns.
E eu respondo: É, pode ser. Mas amor bruto, inocente e puro no meio de uma tarde dura de trabalho na metrópole é, para mim, ouro puro, diamente raro, peça guardada com cuidado pra eu nunca mais esquecer.
Será que ele vai captar a mensagem?
...

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