domingo, julho 02, 2006

Número alto ou número baixo

"Vam'bora seu Benê!"

Tenho saudades do seu Benê. Motorista do Diário do Grande ABC, conhecia tudo na periférica Mauá. Qualquer rua, de qualquer bairro. Tinha sido motorista da Eletropaulo, levava a equipe para instalar os postes de iluminação nos confins da região. "Vocês querem ir na rua em número alto ou número baixo?" Era a pergunta clássica que fazia pra gente, a reduzida equipe móvel da sucursal, no início dos 90: eu, Chico e Anahi. Ele queria saber por qual ponta da rua devia chegar. Pra gente era o máximo: nos bairros de Mauá as ruas eram todas tortas, tinham normalmente surgido de um loteamento clandestino, sem planejamento... Como o cara sabia só pelo nome por qual lado devia chegar???!!!

É que ele conhecida tudo por lá. Quando a gente estava de saco cheio, era só falar: "Seu Benê, vamos passear". Ele nos mostrava os lugares mais bucólicos de Mauá, pedaços com cara de sítio, serra, lindo mesmo. Era difícil acreditar porque estávamos em Mauá.

Seu Benê era um cara incomum. Meio sábio, meio pai, companheiro acima de tudo. Sempre contava com algum constrangimento que já tinha sido "muito errado nesta vida". Nada demais, na verdade: tomou porres homéricos, chegou de quatro em casa várias vezes, fez a mãe chorar um bocado, quebrou corações. Mas era um cara "redimido". Era um homem apaixonado. A mulher dele, acho que chamava-se Lídia, era o seu grande amor. A mulher que o tirou "daquela vida". Tinha filhos que pareciam seus netos e era mesmo um homem feliz.

Não sei ao certo em que ano seu Bebê ficou doente. Acho que teve gota. Já não estava mais no Diário. Fui visitá-lo no hospital, ele havia perdido uma perna e chorava. "Como eu vou fazer Vivi? Meu filho está com vergonha!" O moleque tinha uns 12 anos. Mas não estava com vergonha. Estava arrasado com a doença do pai. Dias depois seu Benê morreu. Grande perda, seu Benê. Bons tempos, seu Benê.

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