terça-feira, setembro 26, 2006

Mês Nove

Adoro setembros.
Não têm aniversários, não têm data marcada no calendário pra comemorar nada; são só setembros.
Geralmente no início deles há muita dor, mas conforme vão passando eles mudam minha vida de ponta cabeça. Termino novelas e começo histórias.
No seu percurso, inicio fases inesquecíveis, que muitas vezes coincidem com o fim de temporadas já insustentáveis.
Deve ser por isso que adoro setembros: eles têm o dom de virar as minhas páginas.
Sempre em setembro tudo melhora, porque expurga. É o pus que vai embora.
Neles já me expus, perdi, superei, enterrei o ser mais amado, matei saudades, tirei a limpo um mal entendido de quase décadas, mudei de casa, gritei da mais profunda dor e me senti extremamente feliz com o mais simples dos prazeres: um abraço. O trivial.
São tantos acontecimentos em setembros que não há apenas um dia deles que seja mais importante. Não para mim.
E, às vezes, até esqueço que estou nele, em um setembro.
Quando tudo está por ruir, também me esqueço de pensar que ele chegará. Serviria pra me alimentar de esperança. Mas, na minha cabeça dramática, é como se o mundo fosse parar lá, sei lá, em fevereiro, abril ou julho.
Só me dou conta da importância de setembro quando percebo, meio no susto, como as coisas estão se movimentando e, de novo, a minha vida, se transformando. Chegou setembro.
Foi assim neste que estamos. E que, que pena!, já está acabando.

(Não me lembro de ter terminado um setembro sequer de minha vida infeliz. Triste às vezes. Mas nunca, nunca infeliz)

Um comentário:

Anônimo disse...

semana passada foi a entrada da primavera, pra mim tb traz um montão de lembranças...

olha só, esse verso da Cecilia Meireles (do poema 5º motivo da rosa), não sei bem porque, é um dos q mais me emocionou até hoje. E continua com esse poder, toda vez q releio é como se fosse a primeira vez:

"Antes do teu olhar, não era,
nem será depois, - primavera."

E tem um outro ("Desenho") q era um dos poemas q o Tomaz mais gostava (ele na verdade não tinha muita sintonia com poesia, fazia cinema, gostava de música, mas achava poesia mais difícil...)O verso que ficou pra mim mais forte:

"Aprendi com as primaveras
a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira."


Vamos tomar café de tarde?
bjs