quinta-feira, março 15, 2007

Reconciliação

A dor me leva de volta à água. Me reconcilio com ela, e a aceito de novo, com sua maciez e seu silêncio. O meu silêncio.
Entro devagar. Odeio respingos pra todos os lados, divisão de problemas com os outros, forma de demonstrar autoconfiança, mas é só autoafirmação.
Respiração profunda, olhos abertos, me estico e sigo.
Num susto, me surpreendo ao ver no fundo minha sombra. Ela me segue livre, como que desprendida de mim. Sua aura é própria. Ela está lá, refletida no azulejo escuro, fazendo cada movimento melhor do que eu mesma.
Apuro a visão e sinto cada onda que se forma com nossos toques. Mudo de posição, olho pra cima, a luz do sol fraco passa através do teto translúcido.
Percebo meus braços, mãos e dedos. Eles vem e vão, surgem e desaparecem e me empurram para a parede.
A água morna me envolve toda, com se fosse um corpo masculino, e eu vou imaginando que ela é. Um corpo bom, grande, que me cobre inteira, me toma e me proteje. Sem ele, na saída, é só frio.
1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8. Viro e sigo de novo.
O sol se vai, agora só há refletores ofuscando meus olhos.
- Senhora, é hora de sair.
Acabou o meu prazer.

Um comentário:

Anônimo disse...

gostei...
bjão