sexta-feira, abril 18, 2008

Que seja hoje

E será que, enfim, tudo isso vai terminar hoje? Será que o casal vai se entregar? Eles vão confessar o crime?
O fato é que ninguém aguenta mais o caso Isabella. Pobre garota! Com certeza vai virar santa, ser responsável por algum milagre cantado por algum maluco de plantão logo logo.
Hoje, espera-se, será um dia decisivo: os "suspeitos" vão depor. Acredito que não há jornalista na ativa nessa chamada "grande imprensa" que não esteja louco para que esse caso, que já virou nosso inferno, acabe logo. Se eles confessam, praticamente acaba. O resto é rescaldo.
Por quê?
Porque são plantões intermináveis nas portas de DPs, ICs e etc, em busca de um detalhe, um indício, uma declaração de um parente, um amigo, uma testemunha. É uma competição irracional para "ter acesso" a laudos preliminares, depoimentos sigilosos, informações confiáveis. Todos pressionados para ter o que as TVs e a internet já estão divulgando e algo a mais. Na edição, a preocupação para dar tudo, todos os detalhes, da maneira mais clara, com o melhor texto, a melhor ilustração, a melhor foto. E ficar até tarde na redação, até que a última frase do Jornal da Globo seja proferida pelo William Waack e que o risco de furo esteja definitivamente anulado. Isso por pelo menos mais um dia.
Às vezes me pergunto pra que tudo isso? Faz parte, eu sei, mas pra que serve, no final?
É excitante estar neste turbilhão, é bom saber antes o que todos só saberão no dia seguinte ou até dias depois, mas é triste perceber que também alimentamos a maluquice das pessoas. Há uma turba de gente enlouquecida, perseguindo, xingando e ameaçando o casal, seus amigos e parentes que não têm nada a ver com o pato. Gente como uma mulher que ontem deixou quatro filhos pequenos em casa e andou quase duas horas de condução para colocar um cartaz no portão da casa da família do rapaz os xingando de 'assacinos' (nem escrever ela sabia). Dá vontade de perguntar pra esta dona de ela não tem um tanque de roupa pra lavar em casa.
Na outra ponta da história, há os santificadores, crédulos e de bom coração, que já pedem milagres, acendem velas e criam ongs da paz oportunistas em nome da menina Isabella.
De nosso lado, jornalistas de plantão, está ficando só o cansaço. Estamos esgotados e estressados com o trabalho dobrado que veio com o caso. Fora o clima, porque o assunto é pesado, é triste, é mesmo uma história inacreditável.
Já é um fenômeno de mídia. Em quase 20 anos de trabalho (nossa!!! quase 20 anos!!!) não lembro de um caso que tenha rendido tanta manchete, tanta página nobre dos jornais, tanto espaço nos noticiários da TV, com equipes grandes na cobertura, durante tantos dias seguidos. Já são quase 20 dias. Nem os ataques do PCC mereceram essa atenção.
E será um fenômeno a ser estudado por comunicólogos, psicanalistas, sociólogos, etc, e etc. Logo logo alguém fará uma tese à respeito. Depois haverá um filme. Eu mesma já bolei um roteiro bem sinistro, como se no caso tivesse mesmo o "terceiro elemento". Mas essa é uma outra história.
2008 será pra sempre dividido entre antes e depois do caso Isabella.

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