E agora é uma mulher que me atende ao telefone. Ela tem uma voz metálica, cansada e irritada. E, a primeira vez que me ouviu, tenho certeza, se sentiu intrigada. Pensou: "Nossa, isso é hora de mulher estar voltando pra casa?" Pra, depois, pensar: "Mas eu trabalho a essa hora!"
Bem, mas até hoje a sinto despeitada quando fala comigo:
- Central de vigilância, bom dia.
É, geralmente passa da meia-noite quando eu telefono.
Ao escutar o meu "Boa noite, é a Viviane da rua V.. C..", ela responde um "Boa noite" seco, sempre seguido por um 'tchi'. É tão baixo o seu 'tchi', mas dá pra eu perceber a sua má vontade. Esse 'tchi' parece um: "Ah, que saco! Que vontade de xingar essa mulher que me pede segurança!"
Tudo isso só no seu 'tchi'.
O mais irritante é que ela sempre pergunta o número da casa. Todo dia! E eu respondo: "É a 360". E aí ela pergunta qual é o carro. E eu penso: "Que porra! É o Pálio e ela ainda não guardou!" Mas respondo educada: "Pálio azul marinho."
- Quanto tempo?
- Daqui uns 10 minutos.
- Ok - e ela desliga o telefone.
Fico imaginando como ela é. Magrinha e muito miúda, com os cabelos tingidos de castanho claro já meio desbotados, sempre presos em um rabo de cavalo, e vestindo um terninho surrado, às vezes preto, àz vezes azul claro. Ou seja, deve ser horrorosa.
Gostava mais do rapaz que atendia antes. Ele era mais animado. Mais esperto também. Já respondia, assim que ouvia minha voz:
- Oh Viviane, daqui 10 minutinhos, né? Ele vai estar lá!
Simples assim. Sem rodeios.
Outro dia a mocréia não foi trabalhar. Deve ter sido a folga dela. E era o rapaz que estava ao telefone. Fiquei até contente de não escutar a voz metálica. Ele me atendeu assim:
- Ooooh, tudo bem. É o 360, né? (Pensei: "Nossa, que memória. O cara lembra o número de casa e faz um mês que não fala comigo!")
- É isso. Dez minutos e eu estou lá, tudo bem?
- Tuuuudo bem! Ele vai estar lá, tá?
- Tchau.
- Tchau.
Esse deve moreno e meio gordinho. Um pouco mais alto que eu. E não deve usar barba. Roupas? Sempre calças jeans, uma camiseta e por cima um casaco ou um colete. Quando usa camisa, o último botão está invariavelmente aberto (porque é impossível fechá-lo), mostrando um pedaço desagradável de sua barriga. Acho que ele é assim.
Só há um detalhe em tudo isso: desde que a moça começou a atender, nunca mais o segurança deixou de aparecer na minha casa nos 10 minutos combinados. Com o Boa Praça, várias vezes eu fiquei rodando em volta do quarteirão até o motoqueiro chegar. Sei lá, pode ser coincidência, mas não deixa de ser curioso. A moça é antipática, mas até que é eficiente. Já o moço....
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