quinta-feira, setembro 25, 2008

Um frame em câmera lenta

Tudo foi muito rápido. Foi como um frame, uma foto, uma imagem que era pra ficar mesmo congelada na memória. Foram três, talvez quatro segundos, no máximo, eu não sei direito.
Mas, lembrando agora, é como se eu estivesse em uma cena em câmera lenta. Será possível um frame em câmera lenta? Ali era. E, num pause eu tento observar melhor os detalhes, e dou então o play again, vamos adiante.
Eu estava muito distraída. Difícil isso. Estou sempre atenta ao ambiente, multiplicando meus olhares pela rua, tentando enxergar tudo o que está à minha volta. Mas, naquele instante, eu estava andando muito devagar, com um panfleto na mão, vislumbrando um sonho que persigo.
Então, ali, quase parada, completamente absorta, eu escutei que me chamaram. Mas não ouvi nenhum som. Foi um grito mudo, mas tão certeiro que meus olhos se viraram diretamente para o local exato de onde vinha o som.
Sei que foi num susto que ele me viu. E ele não quis me chamar. Mas, quando virou a esquina, e me encontrou lá, quase parada, sem percebê-lo, instintivamente reduziu a velocidade. E, por dentro, falou meu nome tão alto que eu, mesmo sem escutar, não pude deixar de ouvir. E me virei diretamente para ele, sem precisar procurar.
Com o canto dos olhos, queixo voltado para baixo e o corpo na outra direção, eu o encontrei com o olhar. E o avistei também num susto. Estava lá, como eu, quase parado, sentado no carro, marcha reduzida, disfarçando, fingindo não me ver atrás de lentes escuras. Achei graça.
Nenhum de nós disse nada. Nenhum de nós parou de fato. Talvez porque não tivesse como parar nem o que falar. Ele simplesmente voltou a acelerar, desconcertado. E eu não consegui ver uma forma para voltar.
Seguimos os dois para frente, em direções de novo opostas (nosso destino?), tentando imaginar se um dia os nossos caminhos vão de novo se cruzar.
Ou, talvez, tentando imaginar um jeito de um dia os nossos caminhos de novo se cruzar.
...

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