domingo, setembro 28, 2008

Uma encruzilhada

Pela manhã é sempre mais difícil. Não que eu durma mal. Na verdade, tenho dormido como uma pedra. Mas acordo cansada, como se tivesse lutado a noite inteira, correndo pelo mundo invisível atrás de fantasmas vivos ou de algum objetivo perdido e difícil. Acho que vem daí a vontade de não sair da cama. E levanto sem nenhuma esperança.

À tarde, as sensações se dispersam. O mundo corre muito rápido à minha volta e eu oscilo entre a certeza absoluta, o medo de estar apenas sonhando, me enganando, e o pavor não ter mais tempo para consertar o que parece perdido. Mas, ainda consigo conciliar a razão para lembrar que o tempo é infinito, que ele resolve tudo e tem a sua própria lógica. Nestas horas, me dá um insight delicioso, uma esperança infinita no futuro e a consciência de que, apesar de ter frustrações e problemas, sou feliz porque não fujo deles, quero conhecê-los, destrinchá-los, resolvê-los e enguli-los. De preferência, acompanhados de um bom vinho tinto. Não quero desistir. Me animo, destilo um pouco de doce veneno, de bom humor, vislumbro a luz no meu coração e tento me prender a ela pelo infinito.

Mesmo assim, já com um sorriso no lábios, não consigo pensar em algo para fazer. Parece que sem a força inspiradora da paixão do meu lado, a meu favor, minhas engrenagens estão emperradas. Tenho só o amor, a certeza do amor, mas ele, neste momento, parece um paquiderme envelhecido. Não tenho estratégia, não tenho objetivo a curto prazo, não tenho vontade de me movimentar para lado nenhum. Minha única vontade é deixar a vida passar e superar sozinha seus próprios limites. Só há um detalhe difícil, lembro: é a minha vida. E seria muito fácil se eu pudesse somente assisti-la, sem ser a atriz principal. Penso "tenho que fazer algo". Mas o quê? Não tenho forças. É uma encruzilhada.

À noite, no caminho para casa, tento lembrar de tudo o que passou, tudo o que passei principalmente nos últimos 20 anos, e como as coisas se resolveram ou não. Tento tirar experiências de dentro do que eu mesma fiz, de como eu agi e reagi. Fico lá, fazendo minha autocrítica, normalmente sendo mais rigorosa comigo do que mereço, mas não sentindo que havia um jeito diferente de fazer. Porém, há coisas que eu simplesmente não sei. E queria ajuda para saber.

Por isso, tenho me perdoado mais. E esperado. Sorte que não consigo desistir. Acho que essa é a minha melhor virtude. Não desisto de mim, de quem eu amo e nem do que eu acredito que seja verdade. Mas entendo que, nessa fase, a única coisa que consigo realmente fazer é esperar. Se estiver frio e eu tiver um cobertor, tanto melhor.

;-/

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