Íamos sair. Eu estava tão feliz, porque a vida caminhava certa, para o lado que tinha que ser. Eu morava de novo com meus pais, no velho apartamento da rua Antonio Bastos. Não era o ideal ainda, mas éramos só eu, eles e a Bia.
Aí, tocou a campainha, eu atendi a porta e lá estava ele. Também feliz.
Mas, nos olhamos de alto a baixo chocados e, antes mesmo do beijo de oi, caimos na gargalhada. Estávamos vestidos da mesma forma, como gêmeos que usam roupas idênticas: calça jeans e uma ridícula camisa tipo havaiana, toda florida e azulada, bem larga. A roupa era horrorosa, por sinal. Mas era impressionante a nossa sintonia até no mau gosto.
Rimos de monte, mas não dava para ir pra rua daquele jeito, tipo par de vasos. Então, ele ficou conversando com o meu pai sei lá o quê e eu fui me apressar para trocar de roupa.
Sei que íamos a uma festa, com muita gente conhecida. Pensando racionalmente, não tinha o menor sentido eu usar aquela roupa, tão masculina. Mas não importava. Era vestida como homem que eu me sentia bem naquele momento. Porém, sem muito o que fazer, fui procurar outra apropriada.
Me vejo tirando roupas e mais roupas do guarda-roupa, vestidos e saias e blusas. A Bia do lado, dando palpite com um sorriso maroto. O tempo passando e eu desesperada porque não conseguia escolher outro figurino tão bom quanto o primeiro. "E o que será que ele e meu pai estão falando?", eu pensava.
Consegui escolher uma saia ou vestido, não sei direito, meio bege, meio creme, meio pérola, dos detalhes eu não lembro, mas sei que era muito mais feminino que o outro. Sensual eu diria. E, enfim, saíamos, eu envergonhada pela demora em decidir e por fazê-lo esperar, já esperando ser esculhambada porque a festa, naquela altura, já devia estar prá lá da metade.
Ai que medo daquela bronca!
Então, no hall de entrada do apartamento, bem no início da escada de emergência, nos abraçamos e beijamos como namorados adolescentes que se escondem na hora do amasso e ele fez a proposta indecente que toda mulher apaixonada quer ouvir:
"Vamos deixar essa festa pra lá e ir para um lugar só nós dois?".
"Demorou", eu pensei, com um sorriso nos lábios que diziam sim.
E acordei.
Talvez Freud ou Alan Kardec expliquem esse sonho. Se bem que eu tenha lá a minha interpretação. Mas essa fica pra outra oportunidade. E só dá pra falar pessoalmente...
:-)
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